O litoral Sul do RS tem se destacado como um importante sítio de descobertas fósseis da megafauna de mamíferos que viveram na região há milhares de anos, revelando aspectos de sua história natural. Estudos geológicos e arqueológicos realizados em Santa Vitória do Palmar têm encontrado vestígios de espécies extintas, ajudando cientistas a compreender a evolução da fauna local.
Uma das descobertas mais recentes ocorreu às margens do arroio Chuí no mês de janeiro, onde pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) identificaram um fêmur de mastodonte com cerca de um metro de comprimento. O paleontólogo Renato Lopes destaca que o achado é incomum devido ao bom estado de conservação do osso. “Nós encontramos fósseis de vários animais gigantes, mas encontrar ossos grandes assim inteiros é um evento raro”, afirma.
O estudo das camadas de solo onde o fóssil foi encontrado indica que o mastodonte viveu na região entre 108 mil e 101 mil anos atrás. A datação foi realizada pelo laboratório da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que analisou a composição dos sedimentos. Essas informações permitem traçar um panorama das mudanças ambientais ocorridas no território ao longo do tempo.
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Região preserva vestígios da megafauna
As pesquisas em Santa Vitória do Palmar fazem parte de um esforço contínuo para mapear registros da fauna pré-histórica no Estado. Desde a década de 1960, fósseis têm sido encontrados na área, que possui formações geológicas expostas, facilitando a identificação de vestígios. Além do mastodonte, já foram descobertos restos de outros animais de grande porte, como preguiças gigantes e toxodontes, espécies que habitaram o sul do Brasil durante o período Pleistoceno.

Em janeiro, equipe de pesquisadores da Ufrgs encontrou fêmur de mastodonte às margens do arroio Chuí
Renato Lopes/Arquivo Pessoal/JC
Jamil Pereira, biólogo e curador do Museu Tancredo Fernandes de Melo, em Santa Vitória do Palmar, explica que o fêmur encontrado pertence a um parente distante dos elefantes atuais. “Aqui está a cabeça do fêmur. Essa parte se encaixaria na bacia do animal, para se ter uma noção da robustez”, aponta. O fóssil está sendo preparado para exposição e, assim que o trabalho for concluído, será exibido no museu.
Além dessa peça, o município se prepara para inaugurar uma nova mostra dedicada a fósseis encontrados na Lagoa Mirim, que será exibida no Museu Mário Costa Barberena. Para os pesquisadores, essas exposições são uma forma de aproximar a população do patrimônio paleontológico local e reforçar a importância da preservação dos sítios fósseis.
Renato Lopes convida o público a conhecer os museus da cidade e a explorar o passado pré-histórico da região. “Quem estiver passando por ali ou quiser conhecer, procure os museus e aprenda um pouco mais sobre a pré-história local”, ressalta.
A descoberta do fêmur de mastodonte reforça o potencial do litoral Sul gaúcho como área de relevância científica. Os estudos seguem em andamento e novas escavações podem revelar mais detalhes sobre os animais que habitaram o território há milhares de anos.