A Refinaria Riograndense (RPR), em Rio Grande, no Sul do RS, realizou, com sucesso, o teste de coprocessamento de 5% de óleo de pirólise de biomassa ou bio-óleo (matéria-prima de biomassa não alimentar) com carga mineral. De acordo com a Petrobras, uma das acionistas da empresa, com essa experiência a refinaria se torna a primeira do país em condições de produzir combustíveis com conteúdo celulósico.
O teste de coprocessamento ocorreu na unidade de craqueamento catalítico (FCC) da refinaria, teve sete dias de duração e foi concluído em 17 de fevereiro, segundo informações da estatal divulgadas com exclusividade ao Jornal do Comércio. Uma equipe técnica especializada da Petrobras e da Riograndense acompanhou o planejamento e execução dos procedimentos, dando suporte nas etapas de comissionamento, partida, operação e parada do sistema de fornecimento e injeção do bio-óleo na unidade.
A iniciativa faz parte do Programa BioRefino da Petrobras que prevê investimentos de US$ 1,5 bilhão no horizonte do Plano de Negócios 2025-2029, conforme anunciado em 24 de fevereiro pela presidente da Petrobras,
Magda Chambriard, que esteve em Rio Grande para a assinatura do
contrato entre a Ecovix e a Transpetro para o fornecimento de quatro navios do tipo Handy. O teste com conteúdo celulósico é uma das iniciativas para a conversão, nos próximos anos, da refinaria em uma planta dedicada à fabricação de produtos 100% renováveis, com a produção de combustíveis somente a partir de óleos vegetais, como adiantou Chambriard.
Segundo a presidente da Petrobras, até 2029 a refinaria de Rio Grande será dedicada à produção de combustíveis somente a partir de óleos vegetais
Marcos Jatahy/Divulgação/JC
O bio-óleo é um líquido viscoso, de coloração escura, rico em compostos orgânicos. Assim como o petróleo, precisa de tratamentos adicionais para ser usado em motores ou turbinas. Ao ser coprocessado na refinaria, foi convertido em diversas frações como gás combustível, GLP e componentes para formulação de gasolina e combustível marítimo com conteúdo renovável.
Segundo a Petrobras, o craqueamento catalítico é um dos principais processos de conversão utilizados em refinarias de petróleo no mundo, responsável por quebrar moléculas provenientes do petróleo gerando produtos como GLP, gasolina, diesel e insumos para a indústria química. Para a realização do teste, a estrutura da refinaria passou por adaptações para viabilizar o processamento concomitante entre bio-óleo e gasóleo proveniente do petróleo. O catalisador empregado é da linha ReNewFCC, produzido pela Fábrica Carioca de Catalisadores (FCC S.A.), uma joint venture entre a Petrobras e a Ketjen, que atua na produção de catalisadores e aditivos para a indústria de refino.
O bio-óleo usado como matéria-prima do teste foi fornecido pela empresa Vallourec Unidade Florestal. Seu processo de obtenção foi certificado pelo International Sustainability and Carbon Certification (ISCC) e consiste na condensação de vapores gerados na produção de carvão vegetal de eucalipto, evitando a emissão de gases de efeito estufa.
A Refinaria Riograndense já havia sido, em 2023, a primeira do mundo a processar 100% de óleo vegetal em FCC produzindo combustíveis e insumos para a indústria química, como o propeno e bioaromáticos (BTX – benzeno, tolueno e xileno), utilizando também tecnologia desenvolvida pela Petrobras.
Conforme a estatal, o teste de coprocessamento na Refinaria Riograndense foi realizado de acordo com as cláusulas de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) da Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP) que regulam recursos destinados a projetos de inovação por empresas de óleo e gás.