A recente proposta do governo federal, que discute a limitação da pesca da tainha no estuário da Lagoa dos Patos a 2 mil toneladas por ano gerou forte insatisfação entre os pescadores da região Sul do Rio Grande do Sul. A medida, anunciada pelo Ministério da Pesca e pelo Ministério do Meio Ambiente, visa conter a sobrepesca e garantir a preservação da espécie, mas é vista pelos trabalhadores como um risco à sua principal fonte de renda.
Fabrício Marques Silveira, pescador da Lagoa dos Patos, afirma que a mudança pode comprometer gravemente a subsistência dos trabalhadores. "A pesca para a gente está muito difícil, porque sobrevivemos dela e qualquer restrição tem um impacto grande. Além disso, o clima não tem ajudado, as enchentes modificaram a água e dificultaram ainda mais a pesca", destaca.
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Se a nova regra entrar em vigor, cada pescador ou embarcação poderá capturar, em média, 83 quilos de tainha por mês ao longo dos oito meses da temporada. Para os trabalhadores, essa quantidade não é suficiente para sustentar suas famílias. Em períodos de baixa movimentação dos cardumes, a pesca pode render bem menos que isso, enquanto em épocas de maior abundância, os trabalhadores ficariam impedidos de aproveitar a safra para garantir reservas financeiras.
A preocupação entre os pescadores é justificada pelos desafios que a atividade já enfrenta. A pesca artesanal na Lagoa dos Patos depende de fatores climáticos e das condições da água, que têm sido prejudicadas por eventos extremos como enchentes e variações de salinidade. "Em um mês ruim, a pesca pode ser bem abaixo de 80 quilos. Mas, quando a safra é boa, podemos capturar toneladas. Essa limitação vai impedir a gente de aproveitar os bons períodos para compensar os tempos difíceis", explica Fabrício.
Das 3.200 licenças emitidas para a atividade, estima-se que cerca de 3.000 pescadoras e pescadores artesanais estão em atividade e dependem dessa pesca como fonte de renda, de acordo com o site da prefeitura do Rio Grande.

Se a nova regra entrar em vigor, cada pescador ou embarcação poderá capturar, em média, 83 quilos de tainha por mês ao longo dos oito meses da temporada
Tais Carolina/Especial/JC
Fabrício Marques Silveira é um dos 3 mil pescadores artesanais que vivem da captura da tainha
A mudança também pode afetar indiretamente toda a cadeia econômica ligada à pesca na região, incluindo comerciantes que compram e revendem os peixes, restaurantes e pequenos frigoríficos que dependem da tainha para movimentar seus negócios.
As pastas da Pesca e do Meio Ambiente alegam que a nova cota busca equilibrar a atividade pesqueira com a necessidade de conservação da espécie. Porém, pescadores e representantes do setor contestam essa avaliação. Em reunião com autoridades em 13 de fevereiro entidades que representam os pescadores argumentaram que os dados utilizados pelo governo não refletem a realidade atual da Lagoa dos Patos e que as restrições devem ser revisadas para evitar impactos econômicos desproporcionais.
Enquanto aguardam um posicionamento definitivo, os pescadores seguem preocupados com o futuro da atividade. "Se não houver mudança de planos, muita gente vai passar por dificuldades. O pescador não sobrevive com 80 quilos de tainha por mês", alerta Fabrício.
A decisão final sobre a cota ainda está em discussão, e os trabalhadores esperam que o governo reavalie os critérios antes da próxima temporada.