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Publicada em 13 de Fevereiro de 2025 às 11:34

Lagoa Mirim: conheça a barragem que garante a qualidade do arroz e da pesca no Sul do RS

Lagoa é tema de discussões para viabilizar Hidrovia do Mercosul, com potencial de fluxo de cargas de até seis toneladas anuais

Lagoa é tema de discussões para viabilizar Hidrovia do Mercosul, com potencial de fluxo de cargas de até seis toneladas anuais

DIVULGAÇÃO/JC
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Gabriel Fritsch Repórter
Em meio às conversações sobre a Hidrovia do Mercosul, na Lagoa Mirim, que deve incrementar o comércio na região pela via fluvial com um potencial de transportar entre 5 e 6 milhões de toneladas ao ano, o local tem um papel importante também na agricultura e na pesca.
Em meio às conversações sobre a Hidrovia do Mercosul, na Lagoa Mirim, que deve incrementar o comércio na região pela via fluvial com um potencial de transportar entre 5 e 6 milhões de toneladas ao ano, o local tem um papel importante também na agricultura e na pesca.
Com mais de 60 mil quilômetros quadrados de extensão, a Lagoa Mirim é uma das principais bacias hidrográficas do Rio Grande do Sul, cujas águas abastecem tanto o Sul do estado quanto o Uruguai. Um dos elementos fundamentais para a manutenção desse ecossistema é a barragem instalada no canal São Gonçalo, em Pelotas, responsável por evitar a salinização da lagoa e garantir a qualidade hídrica para a agricultura e a pesca.
 
O canal São Gonçalo, que conecta a Lagoa Mirim à Lagoa dos Patos, tem cerca de 75 quilômetros de extensão e um fluxo de água que pode ser direcionado conforme a necessidade. O sentido da água da lagoa normalmente vai em direção ao mar, mas quando as águas da Lagoa Mirim estão mais baixas, as comportas da barragem sobem para evitar a salinização de suas águas.
A barragem é administrada pela Agência da Lagoa Mirim (ALM), um órgão suplementar da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) que promove projetos voltados ao desenvolvimento sustentável da região. A diretora da agência, Débora Simões, destacou a importância do barramento para a cultura do arroz, uma das principais atividades agrícolas da região. "O arroz é bastante sensível ao aumento do sal. Então, se a gente não tivesse esse barramento aqui, nós teríamos naturalmente a intrusão de uma cunha salina, água que vem do Oceano Atlântico e que avança pelo Canal São Gonçalo e pode atingir a Lagoa Mirim, de onde é coletada a água para irrigação dessa produção de arroz", explicou.
Além da agricultura, a pesca artesanal também se beneficia da qualidade da água mantida pela barragem. "Isso permite que a gente tenha espécies muito mais estáveis dentro da bacia da Lagoa Mirim. Existem projetos de pesca artesanal justamente porque a gente tem uma garantia da qualidade da água", acrescentou Débora Simões.
Outro ponto fundamental da infraestrutura da barragem é a eclusa, que regula a passagem de embarcações de diferentes portes que utilizam o corpo d’água como hidrovia. O supervisor da barragem e da eclusa do Canal São Gonçalo, Milton Montelli, ressaltou a importância dessa estrutura para a navegação na região. "Nessa câmara aqui é feita toda a passagem de embarcação, tipo chatas, veleiros, embarcação grande. Quando a barragem está fechada, as embarcações pequenas também se obrigam a passarem todas aqui dentro dessa eclusa", explicou. Ele reforçou ainda que, sem esse sistema, o tráfego de embarcações na região seria drasticamente prejudicado.


Enchentes de 2024 protelaram processo de dragagem da Lagoa Mirim

Uso do modal aquaviário para conectar os dois países é discutido há décadas | diagramação/JC
Uso do modal aquaviário para conectar os dois países é discutido há décadas diagramação/JC

A potencial implementação da Hidrovia do Mercosul está em discussão há décadas, mas vem ganhando força desde 2021, quando o empreendimento foi qualificado no Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), do governo federal. No portal do PPI, consta que a última atualização foi feita em 6 de agosto de 2024, e que a “situação atual do projeto” é da realização de estudos complementares contratados pelo Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF) junto à Agência da Lagoa Mirim, e que “em 11/12/2023 o DNIT publicou aviso de licitação para dragagem da Hidrovia”.

Em dezembro de 2024, o diretor-geral do DNIT, Fabrício Galvão, durante reunião com o embaixador do Uruguai Guillermo Valles, prometeu que a nova batimetria da hidrovia seria contratada ainda até março deste ano, e que o edital da dragagem será publicado no segundo semestre. A dragagem é uma necessidade fundamental para a viabilidade da hidrovia, e foi enfatizada em 2023 durante uma visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Uruguai, pelo então presidente Uruguaio Luis Lacalle Pou.
No entanto, as enchentes que atingiram o RS em maio de 2024 agravaram a situação com o assoreamento de todo o sistema hidroviário gaúcho, que passaram também a necessitar de dragagem, sendo discutida uma ação conjunta que abarque não só a hidrovia interior gaúcha como também a da Lagoa Mirim.
Com viabilização da Hidrovia da Lagoa Mirim, será possível acessar a Lagoa dos Patos e os portos gaúchos de Rio Grande, Pelotas, Porto Alegre e Estrela. Estimativas da Portos RS apontam que o fluxo de cargas por meio da lagoa pode alcançar entre 5 a 6 milhões de toneladas ao ano, envolvendo itens como produtos florestais, minérios, grão, soja, arroz e fertilizantes, potencializando uma fronteira de expansão agrícola tanto no lado brasileiro como no uruguaio.
Outras iniciativas de integração dos dois países vêm ocorrendo: em dezembro de 2023, foi reinaugurado o aeroporto de Rivera, cidade uruguaia vizinha à gaúcha Santana do Livramento, repaginado como o primeiro aeroporto binacional da América Latina, e segundo do mundo. Esse status permite que, no terminal, as operações com destino e origem em aeroportos brasileiros sejam equiparadas a voos domésticos para fins de tarifação.
Já no prazo de dois anos deve ocorrer a entrega de uma nova ponte sobre o Rio Jaguarão, construída na BR-116, sendo que no local haverá um contorno na rodovia de 3 km para dar acesso a cidade de Jaguarão e mais 9 Km, ligando a nova ponte, que terá uma extensão de 419 metros.
Colaborou Lívia Araújo

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