A multidão que se reuniu ao redor da sede do Parlamento da Coreia do Sul para acompanhar a votação de impeachment do presidente, Yoon Suk Yeol, neste sábado (7), esvaziou-se rapidamente depois do anúncio de que o processo tinha sido adiado em razão de um boicote do partido do governo, por volta das 21h (9h em Brasília). Horas depois, porém, ainda restavam cerca de 50 pessoas no local. Gritavam, ininterruptamente: "Impeachment! Impeachment! Impeachment!".
A demonstração é um indício de que a crise política iniciada pela tentativa de autogolpe de Yoon do início desta semana pode continuar se agravando apesar do desenlace anticlimático da votação. Ao deixar a área dos atos, o oeste de Seul, diversos dos participantes disseram que voltariam a protestar.
A estudante de administração Hyunseo Lee, 20, disse à Folha acreditar que os protestos seguiriam, no entanto. "O presidente Yoon ainda tem quase dois anos" de mandato, disse ela, acrescentando que não achava que a população permitiria que ele seguisse no poder. A pianista Eunhye Chung, 41, foi uma das que se comprometeu a voltar a protestar. "Vim aqui para destituir o presidente. [Com o adiamento do impeachment], ele pode tentar uma nova lei marcial ilegal."
O presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, escapou do afastamento depois que a oposição não conseguiu, neste sábado, reunir apoio suficiente para removê-lo do cargo dias após uma tentativa de autogolpe. Os deputados do governista Partido do Poder do Povo (PPP), ao qual pertence Yoon, boicotaram a sessão -entre os 108 aliados do presidente, apenas três congressistas, Ahn Cheol-soo, Kim Yea-ji e Kim Sang-wook, permaneceram no plenário, segundo informou a agência de notícias sul-coreana Yonhap.
O presidente da Assembleia, Woo Won-shik, afirmou que o número de votos não atingiu quórum necessário, inviabilizando o impeachment -nesse cenário, a oposição obtinha apenas 195 votos dos 200 necessários para que o afastamento fosse aprovado. O principal membro da oposição da Coreia do Sul, o Partido Democrático, disse vai propor nova moção de impeachment em 11 de dezembro, a ser colocado em votação em 14 de dezembro, de acordo com a Yonhap. Já o PPP, de Yoon, disse que encontraria uma maneira "mais ordeira e responsável" de resolver a crise do que realizar o impeachment do presidente.
Horas antes da votação, na manhã de sábado no horário local (noite de sexta em Brasília), Yoon pediu desculpas em um comunicado à nação pela TV, em sua primeira fala após a deflagração da crise. Apesar de grande expectativa em torno de uma possível renúncia, disse que agiu motivado por desespero e que não declararia nova lei marcial.
Yoon declarou lei marcial na Coreia do Sul na noite de terça-feira (3) pelo horário local, a primeira vez que uma medida assim foi tomada desde o fim da ditadura do país em 1987. O texto suspendia atividades políticas e liberdades civis e levou militares às ruas de Seul, que chegaram a invadir o Parlamento, mas recuaram.
A medida, classificada como tentativa de autogolpe pela oposição e analistas, foi uma tentativa de Yoon de amordaçar a oposição, com quem vive uma disputa política no Legislativo. A lei marcial foi rejeitada por unanimidade na madrugada de quarta-feira (4), tarde de terça no Brasil, em uma votação sem participação de parlamentares governistas, que ademais também se manifestaram contra a medida. Enquanto a votação acontecia, milhares de sul-coreanos enfrentaram a temperatura em torno de 0ºC para protestar contra Yoon do lado de fora da Assembleia Nacional e pedir a prisão do presidente.
Folhapress