Ex-promotor de Justiça que se tornou estrela no país, o presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, que decretou lei marcial nesta terça-feira (3) e depois recuou em meio a graves atritos com a oposição, foi eleito em 2022 com uma plataforma conservadora no pleito mais apertado da história coreana, com apenas 0,73% dos votos à frente do segundo colocado.
Yoon entrou formalmente para a política partidária menos de um ano antes de chegar à presidência, mas abalou as estruturas de poder sul-coreanas, tanto com o impeachment e a prisão da ex-presidente Park Geun-hye quanto com suas propostas controversas.
Filho de professores universitários, Yoon, 63 anos, estudou direito na prestigiada Universidade Nacional de Seul -ele só conseguiu passar no exame para se tornar advogado nove anos depois da formatura, após uma série de reprovações.
Sua trajetória chegou a ser comparada, no Brasil, à do ex-juiz, ex-ministro da Justiça e hoje senador Sergio Moro (União Brasil-PR). Além de terem passado a maior parte da carreira no Judiciário, atuaram em casos que terminaram no impeachment de uma presidente em 2016 -no Brasil, de forma indireta, já que a Operação Lava Jato custou a popularidade da ex-presidente Dilma Rousseff, mas não foi a causa oficial de sua saída do governo.
Yoon liderava a equipe de investigação dos crimes que levaram ao afastamento da primeira mulher presidente da Coreia do Sul, Park Geun-hye, presa e condenada em 2018 a 24 anos de prisão por uma série de violações envolvendo corrupção e abuso de poder. Libertada após um indulto presidencial em 31 de dezembro de 2021, tornou-se aliada de seu antigo algoz.
Com a projeção que ganhou no caso, Yoon foi nomeado procurador-geral pelo então presidente, Moon Jae-in, em 2019, seis meses depois de Moro assumir o Ministério da Justiça no Brasil -e ambos deixaram os governos para os quais foram convidados pouco depois.
Moro rompeu com Bolsonaro em abril de 2020, e Yoon deixou a gestão Moon, progressista, no começo de 2021, após acusações de abuso de poder e embates com a ministra da Justiça, que tentava reformar a Promotoria do país. Fora do governo, Yoon se virou para a direita e se candidatou com sucesso como oposição.
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No poder, ele estabeleceu uma política de linha dura com a Coreia do Norte, reforçou a aliança com os Estados Unidos e se aproximou do Japão, ex-potência colonial com a qual Seul mantém divergências históricas. A relação com a oposição sempre foi turbulenta e se agravou em abril deste ano, quando os liberais do Partido Democrático passaram a controlar o Congresso. O ápice, nesta terça (3), terminou com um recuo de Yoon cujas consequências ainda são incertas.
Folhapress