Em Brasília, a vitória de Yamandú Orsi no Uruguai foi altamente celebrada. Nos termos de um interlocutor do governo Lula, a situação muda totalmente e haverá um diálogo político muito mais íntimo; nos de outro, haverá uma aproximação grande e uma pitada de ânimo na América do Sul. Todos se referem a Orsi como o herdeiro de José "Pepe" Mujica.
De fato, ele o é. Orsi pertence à mesma corrente política que Mujica fundou ao lado de outros ex-guerrilheiros tupamaros nos anos 1980 para compor a história coalizão Frente Ampla. Em janeiro de 2023, esteve com Lula quando o presidente visitou a chácara de Mujica em Rincón del Cerro, zona rural de Montevidéu.
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Na legenda de uma foto sorridente com o petista, Orsi escreveu: "Uma honra; sua presença e a de seus ministros no Uruguai é sinal de esperança para o posicionamento da região em um mundo que vai se fechando". Era o início de Lula 3, e o presidente passou pelo Uruguai após uma agenda na Argentina.
Em reserva, um diplomata diz que agora a balança do bloco está 3 a 5. É uma menção ao fato de que os governos do Brasil, do Uruguai e da Bolívia (Luis Arce) estarão mais alinhados contra o avanço da ideologia argentina de Javier Milei e a atuação tímida do Paraguai de Santiago Peña para confrontar Buenos Aires. Seja como for, a Bolívia ainda não tem poderes de decisão no bloco.
Com Lacalle Pou, o Uruguai insistiu em estabelecer um acordo de livre-comércio com a China por fora do Mercosul, ideia freada por Brasília, a quem Montevidéu chama de protecionista. A campanha de Orsi disse que freará a ideia de um acordo por fora do bloco, mas que vê o Mercosul aquém de suas capacidades e pouco dinâmico. A Argentina de Milei caminha no mesmo sentido. O Brasil espera que com Orsi o debate siga vivo, mas dentro das portas do Mercosul.
Folhapress