Embora o resultado da votação pela presidência dos Estados Unidos só deva ser conhecido ao longo da semana, a disputa entre Donald Trump e Kamala Harris irá reverberar no Brasil. De forma geral, especialistas em política externa acreditam que a vitória do republicano Trump possa aumentar a pressão sobre o País, enquanto a eleição da democrata Kamala signifique continuidade da administração de Joe Biden.
Sendo os EUA um dos principais parceiros comerciais e políticos do Brasil, o professor de Relações Internacionais da Pucrs, João Jung, entende que as conexões devam sofrer mudanças significativas de quem for assumir o cargo na principal potência econômica do mundo. Para ele, existe uma distinção muito clara entre o programa do Partido Republicano e o programa do Partido Democrata: ”Trata-se de um certo isolacionismo em relação aos assuntos do resto do mundo, a gente quer se preocupar com a gente, o que importa somos nós, então a gente vai agir no mundo conforme os nossos interesses internos”, exemplifica ele sobre o Partido Republicano.
Já Kamala, na sua opinião, está dentro de uma plataforma seguida desde o governo Obama. “Internacionalmente, os democratas têm muito mais essa visão de uma espécie de mediador de relações globais, de intervir, não necessariamente militarmente ou diretamente, mas estar presente nas discussões do que acontece no mundo”, afirma.
Jung destaca que o Brasil tem uma forte dependência econômica dos Estados Unidos, "ainda que por vezes seja balançada pela sua aproximação com a China e os BRICS". Apesar disso, ele afirma que o País está conseguindo circular bem entre essas duas esferas, com tendência a seguir assim caso Kamala assuma o cargo. Mas, apesar de ser um parceiro fundamental na América do Sul, a eleição de Trump pode transferir este protagonismo para a Argentina, cujo presidente Javier Milei tem posicionamento mais próximo dele.
Kamala Harris concorre pelo Partido Democrata
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Na avaliação do professor de Relações Internacionais da UniRitter, João Gabriel Burmann, independentemente do desfecho nas urnas, a questão econômica geralmente é a que menos se modifica nas trocas de governo norte-americano, embora Trump traga uma retórica de protecionismo comercial mais agressiva. “Ele traz uma retórica mais forte com relação a alguns países com os quais competem. Mas, no geral, em termos de sistema financeiro, de poder do dólar, é uma coisa que também não tem grandes alterações”, afirma o docente.
Outro ponto em comum entre as duas nações diz respeito à defesa da democracia. Segundo Burmann, há uma forte comparação entre o 6 de janeiro de 2021 nos EUA (a invasão do Capitólio) e o 8 de janeiro de 2023 (depredação às sedes dos Três Poderes em Brasília). “Trump já deu indícios de que não aceitaria uma derrota, por conta de discurso de fraude, e que a Câmara provavelmente aceitaria.”
Trump é o cadidato dos Republicanos
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