O povo norte-americano vai às urnas nesta terça-feira (5) para definir o futuro presidente nos próximos quatro anos. Em uma das eleições mais acirradas da história, nenhum instituto de pesquisa consegue colocar a democrata Kamala Harris ou o republicano Donald Trump à frente, mesmo com a margem de erro.
Os últimos levantamentos de intenção de voto indicam empate técnico em todos os Estados-pêndulo na disputa pela Casa Branca.
A democrata tem alguma experiência em eleições acirradas. Em 2010, quando disputou o cargo de procuradora-geral da Califórnia, ela superou por mísero 0,8% dos votos seu adversário republicano, Steve Cooley. A contagem levou três semanas, Cooley discursou antes como eleito e jornais locais o declararam vitorioso. Mas ela venceu.
Catapultada à candidata democrata à Casa Branca de forma inédita, após pressão do partido e de apoiadores pela desistência do titular da chapa e atual presidente, Joe Biden, Kamala gosta de se apresentar como a resultante improvável das possibilidades que só os EUA, a seu ver, oferecem. "Eu vivi a promessa americana" é frase recorrente em seus discursos, um aceno ao imaginário nacional de que aquela ainda é, apesar de tudo, a terra das oportunidades.
A história de Kamala tem elementos comuns a de muitos americanos, embora seu sucesso meticulosamente talhado requereu variáveis excepcionais, além de um bocado de sorte.
Diferentemente de seu adversário, porém, dinheiro e fama chegaram tarde à equação. Chegou a disputar a candidatura democrata à Presidência em 2020, mas encerrou sua campanha antes mesmo de participar da primeira primária, desestimulada. Kamala era esquerdista demais para os democratas de centro, por suas posições econômicas, e direitista demais pela ala mais à esquerda pelas posições em segurança.
Ao tornar-se a primeira mulher na vice-presidência do país, cativou a cultura pop, conquistando apoio de celebridades, uma imitação memorável no humorístico Saturday Night Live. Neste domingo, Kamala postou um vídeo em suas redes sociais dizendo que já vou por correio nas eleições presidenciais. A ideia da peça é incentivar seus eleitores a votarem.
Seu opositor, político não convencional por excelência, Trump poderá voltar à Casa Branca do mesmo jeito que lá chegou pela primeira vez, há oito anos, desafiando precedentes e probabilidades. Se antes foi apenas o quarto presidente a ser eleito sem experiência em cargo público - sendo que os outros três eram heróis de guerra - agora pode ser o segundo a retornar após uma derrota.
Há quatro anos, ao perder para Joe Biden numa das mais apertadas eleições da história, o republicano parecia ter chegado ao fim da linha. Seu golpismo explícito, ao estimular aliados a "encontrar votos" para ele, e o incentivo à invasão do Capitólio foram rechaçados até mesmo por figuras do seu partido.
Trump, no entanto, levantou da lona, moldando sua história a uma das fábulas favoritas da sociedade americana, a do "comeback kid", o sujeito que volta à ribalta contra todos os prognósticos. Ele manteve sua base energizada e fiel, denunciou os processos que sofre, inclusive o da invasão do Congresso, como perseguição comunista e aumentou a retórica anti-imigração, prometendo expulsar 12 milhões de estrangeiros sem documentação.
No front econômico, beneficiou-se politicamente da inflação alta, que erodiu a popularidade de Biden. E, embora longe de ser um rapazote, rejuvenesceu na comparação com o declínio físico do atual presidente. Se faltava uma imagem para este renascimento, ela veio em 13 de julho deste ano, quando Trump sobreviveu milimetricamente a um atentado a tiros durante comício na Pensilvânia.
Folhapress