Na manhã seguinte ao ataque israelense que matou o comandante de sua força de foguetes e mísseis em Beirute, o grupo fundamentalista libanês Hezbollah fez um até aqui inédito ataque com um modelo balístico contra o centro econômico do Estado judeu, Tel Aviv.
O alvo, segundo os libaneses, era o quartel-general do Mossad, o serviço secreto israelense. A entidade é central no planejamento das mortes de líderes do Hezbollah nos últimos meses.
Na véspera, havia sido morto Ibrahim Qabisi, ampliando o estrago à ala militar do grupo, que, segundo Israel, perdeu 17 de seus 19 integrantes.
O míssil foi abatido, segundo as Forças de Defesa de Israel, sem consequências relatadas em solo. Seu ponto de lançamento foi destruído. O Hezbollah não havia lançado um míssil balístico contra Tel Aviv nesta guerra até aqui.
A Casa Branca considerou a situação "muito preocupante", embora ainda pense que é possível uma solução diplomática que evite uma "guerra total", afirmou o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby, à CNN. Ao Today Show, da NBC, o chefe da diplomacia americana Antony Blinken também apelou para uma solução diplomática.
Em contra-ataque de Israel, pelo menos 51 pessoas foram mortas e 223 feridas no Líbano nesta quarta, disse o ministro da saúde libanês, Firass Abiad, durante uma entrevista coletiva.
Foi também a primeira vez em cerca de uma semana que as sirenes soaram em Tel Aviv, que, devido ao status de Jerusalém, contestado pelos palestinos, é tratada pela maioria dos países como a capital de Israel na prática. Em 15 de setembro, a ameaça havia sido de um míssil lançado pelos houthis do Iêmen.
Os alertas acordaram diversos moradores próximos das 48 estações acionadas da cidade até Netania, balneário ao norte da cidade. Durante a madrugada, ocorreram diversos sobrevoos de aviões de caça israelenses em Jerusalém.
Eles rumavam ao sul libanês, onde houve uma nova onda de ataques a pontos de lançamento e depósitos de armas do Hezbollah. De acordo com um compilado da agência de notícias Reuters com base em declarações do Ministério da Saúde libanês, pelo menos 15 pessoas foram mortas e cerca de 50 ficaram feridas nesta quarta em ataques que atingiram cinco locais diferentes, incluindo pontos no norte do país.
Já a ação do Hezbollah foi simbólica. Apenas seus mais preciosos mísseis, de um arsenal estimado até a fase atual da guerra em 160 mil projéteis do tipo e foguetes, têm alcance para chegar a Tel Aviv, que fica a 580 km da fronteira libanesa.
Uma análise do Instituto para Estudos de Segurança Nacional aponta que, do arsenal, 4,5 mil modelos têm tal alcance, ante 10,5 mil que podem chegar à região de Hadera. Já 67,5 mil mísseis e foguetes podem alvejar a região de Haifa, mais ao norte, e os restantes, toda a área próxima do sul do Líbano. Isso fora drones diversos.
As ações não evoluíam para uma guerra aberta, como a travada pela última vez em 2006, embora tenha havido momentos de maior tensão. O mesmo ocorreu com o país que banca o Hezbollah e o Hamas, o Irã.
Mas Tel Aviv resolveu agora que os 60 mil moradores que deixaram a fronteira norte têm seu retorno às casas como uma prioridade da guerra. Críticos do governo de Benjamin Netanyahu contestam isso, dizendo que o premiê busca o prolongamento das hostilidades para se manter no poder e disfarçar as dificuldades em Gaza.
A faixa da fronteira a Haifa tem sido atacada de forma constante. Na terça, foram disparados 300 foguetes de curto alcance, cujos destroços atingiram casas e carros, ferindo moradores. Ainda assim, militares israelenses afirmam que nos últimos dias degradaram boa parte da capacidade de lançamento maciço de mísseis e foguetes dos rivais.
A guerra iniciada pelo ataque do grupo terrorista Hamas há quase um ano está em uma nova fase. Desde a semana passada, Israel decidiu atacar de forma mais decisiva o Hezbollah, que desde o início do conflito havia aumentado o atrito na área de fronteira para apoiar os aliados da Faixa de Gaza.
Por outro lado, pesquisas mostram que há apoio popular a uma solução para a crise no norte. Seja como for, Israel já prepara uma ofensiva terrestre caso o Hezbollah não recue para a faixa delimitada pela ONU em um acordo de 2000, criando um tampão entre o grupo e Israel no sul do Líbano.
Isso pode ou não acontecer, mas enquanto isso os ataques aéreos israelenses seguem intensos. A segunda (23) viu a maior ação em décadas contra alvos no vizinho, com mais de 500 mortos.
Folhapress