A Ucrânia surpreendeu a Rússia com novos ataques contra Kursk, no sul do país governado por Vladimir Putin, levando Moscou a decretar emergência na região, a mobilizar reservas, determinar a retirada de civis de vilas próximas à fronteira entre os rivais e enviar médicos ao local.
Conforme o ministro da Defesa Andrei Belousov disse ao presidente, cerca de mil militares ucranianos participam do ataque. A emergência decretada suspende provisoriamente alguns direitos, como o de ir e vir sem checagem, além de facilitar a movimentação de tropas.
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A ação ucraniana é uma tentativa de Kiev de desviar atenção e recursos dos russos, que ameaçam romper defesas do país na região de Donetsk — uma das quatro que Putin anexou ilegalmente em 2022, depois da invasão do vizinho, cujo controle foi colocado pelo presidente russo como uma das condições para negociar a paz.
Apesar do alarme russo, por ora é incerto o resultado da iniciativa do governo de Volodymyr Zelensky, que já havia visto suas forças se exaurirem devido a uma nova frente aberta pela Rússia no norte do país, em maio. Tal ofensiva foi freada, ainda que siga em curso, mas às custas de mão de obra e equipamento de outras partes dos mil quilômetros de linhas de batalha.
Do ponto de vista de propaganda, pode ser uma oportunidade para Zelensky, que precisa mostrar ao mundo que ainda tem condições de guerrear — a Ucrânia tem lançado apenas ataques pontuais com armas de precisão ocidentais ou o emprego de drones.
Um espectador potencial é Donald Trump, que pode voltar à Casa Branca na eleição de novembro e já disse que quer acabar com a guerra "em um dia", sugerindo concessões territoriais a serem feitas por Kiev.
Por outro lado, a incursão aumenta os temores em Washington sobre escalada, ao menos publicamente. A Casa Branca correu para dizer que não havia sido consultada sobre a ofensiva e que iria falar com Kiev sobre o assunto.
Vídeos percorrem a internet russa com cenas de caminhões incendiados e até aviões de ataque sobrevoando áreas em combate. Segundo o Ministério da Saúde da Rússia, 31 civis ficaram feridos — não há dados sobre baixas militares.
Os ataques começaram na última terça-feira (6) e foram inicialmente repelidos, segundo o Ministério da Defesa da Rússia e observadores do país. Na noite de terça e na madrugada desta quarta (7), a investida foi renovada naquilo que a pasta classificou de "intensa batalha".
As forças ucranianas estão apoiadas por tanques e veículos blindados. Elas tentam chegar à cidade fronteiriça de Sudja, 530 quilômetros a sudoeste de Moscou, mas aparentemente foram bloqueadas. De forma impossível de verificar agora, a Defesa russa disse já ter destruído 50 blindados, incluindo sete tanques.
Sudja tem valor estratégico: é o ponto final de distribuição de gasodutos russos rumo à Europa. Ainda que o consumo europeu do produto tenha caído a 25% do que era antes da guerra, ele ainda é importante para a economia russa e passa, por meio de um acordo que ainda vale, pela Ucrânia.
Repercussão
De forma típica, Kiev ainda não comentou a operação, esperando seus resultados. Nas incursões de fronteira anteriores, o governo Zelensky colocou a responsabilidade em grupos russos dissidentes baseados em seu país, ainda que os blindados e armas empregados nas ações fossem da Ucrânia.
Seja como for, a emergência decretada mostra que a Rússia sentiu o impacto do ataque. Putin disse que "o regime de Kiev lançou uma nova grande provocação" e está "bombardeando indiscriminadamente" a população de Kursk. Ele fez uma reunião de urgência com Belousov, com o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, Valeri Gerasimov, e outras autoridades.
O governador interino de Kursk, Alexei Smirnov, disse no Telegram pela manhã que a situação está sob controle, mas determinou que vilarejos próximos da fronteira sejam evacuados e que moradores de cidades maiores coloquem proteções nas janelas contra eventuais estilhaços de drones abatidos. À tarde, anunciou a emergência.
Folhapress