O Ministério Público (MP) da Venezuela iniciou uma investigação penal por, entre outros possíveis delitos, "instigação à insurreição" e "conspiração" contra o principal ex-candidato à presidência do país na última eleição, Edmundo González, e a liderança da oposição, María Corina Machado.
Segundo comunicado do órgão, a apuração é consequência de um comunicado emitido pelos dois na última segunda-feira (5). O MP venezuelano afirma que a nota dos opositores incita abertamente os policiais e militares a desobedecerem as leis.
Segundo o chefe do MP, Tarek William Saab, o comunicado pode incidir em crimes como "usurpação de funções, difusão de informação falsa para causar agitação; instigação à desobediência das leis, instigação à insurreição e associação para delinquir e conspiração". A nota do órgão venezuelano diz ainda que, "à margem da Constituição e da lei, falsamente anunciam um ganhador das eleições presidenciais distinto ao proclamado pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), único órgão qualificado para tal".
No comunicado que motivou a investigação foi publicado nas redes sociais, Corina Machado e Edmundo González afirmam que venceram a eleição e acusam o governo de repressão contra opositores, pedindo para policiais e militares "se coloquem ao lado do povo". "Nós pedimos que impeçam a devassidão do regime contra o povo e a respeitar e fazer respeitar os resultados das eleições de 28 de julho", afirmam os opositores.
Conflito
Edmundo e Corina afirmam ter publicado mais de 80% das atas eleitorais na internet que comprovariam a vitória de González. A oposição argumenta ainda que as instituições venezuelanas, incluindo o MP e o CNE, não são independentes e que atuariam apenas para favorecer Maduro.
O governo acusa a oposição de falsificar mais de 9,4 mil atas publicadas na internet e tem responsabilizado Corina e Edmundo pelos protestos registrados no país, o que tem sido classificado pelas autoridades como atos terroristas com ataques a prédios públicos, forças policiais e lideranças chavistas.
Estima-se que os protestos tenham tirado a vida de 11 manifestantes, segundo análise preliminar da organização não governamental (ONG) venezuelana Foro Penal. Além disso, cerca de 1,2 mil pessoas foram presas, mais de 80 policiais foram feridos e um assassinado, segundos dados de autoridades venezuelanas.
Como o CNE não disponibilizou aos partidos, candidatos e observadores eleitorais as atas por mesa de votação, tem persistido uma guerra de versões sobre o resultado do pleito. Enquanto a oposição contesta amplamente a vitória de Maduro após ter feito levantamentos de votos, o Poder Eleitoral alega que um ataque cibernético prejudicou o trabalho da instituição.
Na última sexta-feira (2), o Tribunal Supremo de Justiça iniciou uma investigação sobre os resultados da disputa — o CNE entregou ontem as atas das mais de 30 mil mesas de votação ao órgão.