A repressão na Venezuela produziu um feito raro: a líder opositora María Corina Machado divulgou mensagem à sua base nesta terça-feira (6) sem mostrar sua imagem. É algo pouco comum para o rosto da mobilização opositora no país de Nicolás Maduro.
A mensagem também tem tom distinto do que vinha sendo divulgado até aqui. Agora María Corina fala em uma "pausa operativa" necessária. "O medo não vai nos paralisar, teremos perseverança e resiliência, mas isso não significa que estaremos sempre nas ruas", diz pausadamente.
"Às vezes estamos incessantemente em ação. Mas nem sempre estamos ativos. Uma pausa operativa é necessária para assegurar que todos os elementos da estratégia estão alinhados e prontos para a ação."
Nesta semana em que a repressão escalou no país, María Corina e o candidato opositor Edmundo González, que representou a coalizão nas urnas após a inabilitação da liberal para concorrer a cargos públicos, afirmaram estar resguardados para se protegerem.
Após a dupla publicar uma carta aberta aos militares e policiais nesta segunda-feira (5) se descrevendo como "presidente eleito" e "líder das forças democráticas na Venezuela" e pedindo apoio das Forças Armadas, o Ministério Público aliado ao chavismo anunciou uma investigação penal contra eles por incitar insurreição.
O próprio fato de María Corina não aparecer na imagem teria relação com o resguardo e a tentativa de não fornecer elementos visuais que ajudem a identificar em qual local a líder opositora está. Comumente com um terço no pescoço durante as manifestações nas ruas, María Corina também deu aspecto religioso à sua mensagem desta terça-feira. "Essa é uma luta espiritual do bem contra o mal, e Deus está conosco", disse ela. "Que Deus os abençoe."
Lembra de certo modo os termos que o ditador Maduro tem usado. Com frequência ele emprega metáforas com "demônios" para se referir à oposição no país. Ainda que a ex-deputada tenha reafirmado em sua mensagem que González foi o eleito e que não desistirão de pleitear isso - "não há volta, isso é irreversível e até o final", disse -, o recuo na estratégia da oposição abre a dúvida sobre quais serão os próximos passos e a capacidade de manter uma base mobilizada diante da repressão.
Levantamento da ONG Foro Penal, referência no país, aponta que desde a eleição do último dia 28 mais de 1.100 pessoas foram presas por motivos ligados a protestos contra os resultados oficiais, sejam manifestações nas ruas ou nas redes sociais. A organização diz ainda que cem dessas pessoas seriam menores de idade.
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Folhapress