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Publicada em 03 de Agosto de 2024 às 11:22

Reação a Maduro divide continente e coloca EUA e Brasil em lados opostos

Antony Blinken firmou ao longo da semana que houve fraude nas eleições venezuelanas

Antony Blinken firmou ao longo da semana que houve fraude nas eleições venezuelanas

Basilio Sepe/AFP/JC
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Agência Estado
A decisão dos EUA de reconhecer o opositor Edmundo González Urrutia como vencedor da eleição da Venezuela causou uma divisão no continente. O governo americano lidera os países que consideram que houve fraude na votação. Na outra ponta, o Brasil se juntou a México e Colômbia em posição mais cautelosa, exigindo a divulgação das atas de votação antes de bater o martelo sobre a legitimidade do processo.
A decisão dos EUA de reconhecer o opositor Edmundo González Urrutia como vencedor da eleição da Venezuela causou uma divisão no continente. O governo americano lidera os países que consideram que houve fraude na votação. Na outra ponta, o Brasil se juntou a México e Colômbia em posição mais cautelosa, exigindo a divulgação das atas de votação antes de bater o martelo sobre a legitimidade do processo.
Embora a divisão viesse sendo desenhada ao longo da semana, ela se acentuou na quinta-feira, quando o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, anunciou a nova posição da Casa Branca: houve fraude, a oposição venceu e González Urrutia era o presidente legítimo da Venezuela - uma repetição do que ocorreu com Juan Guaidó, em 2019, que não trouxe nenhum resultado prático.
A nota de Blinken provocou uma reação histriônica de Maduro, que gosta de repetir a cartilha de seu mentor, Hugo Chávez, e culpa os americanos pelas mazelas da Venezuela. "Os EUA dizem que a Venezuela tem outro presidente. Os EUA deveriam tirar o nariz da Venezuela, porque o povo soberano é quem governa na Venezuela, quem nomeia, quem escolhe", disse Maduro, que descreveu González Urrutia como um "Juan Guaidó, parte 2".
Já o governo brasileiro não pretende seguir o caminho dos EUA. Funcionários do Itamaraty ouvidos pelo Estadão alegam temer o recrudescimento do regime chavista, que poderia se transformar em uma espécie de Daniel Ortega, o ditador da Nicarágua que vem colocando atrás das grades até padres da Igreja Católica.
Enquanto isso, o Itamaraty segue uma política de manter um canal de comunicação e pressionar pela divulgação das atas de votação. Não sabe, porém, quanto tempo esperar por uma decisão das autoridades eleitorais venezuelanas - ou quanto tempo é preciso para concluir que os dados detalhados não existem.
A posição americana também foi criticada pelo presidente do México, Andrés Manuel López Obrador. "Com todo respeito, o que o Departamento de Estado dos EUA fez é um exagero. Peço desculpas a Blinken, mas estão se excedendo. Isso não ajuda na convivência pacífica e harmoniosa entre as nações. É uma imprudência."
O presidente colombiano, Gustavo Petro, se uniu a Brasil e México e também rejeitou a posição americana. Ele alegou que a precaução de seu governo era uma tentativa de evitar uma "catástrofe humanitária" que afetaria a Colômbia. "Não é um governo estrangeiro que deve decidir quem é o presidente da Venezuela", disse.
A reboque da prudência de Brasil, Colômbia e México vêm os países automaticamente alinhados com o chavismo: Nicarágua, Bolívia, Cuba e Honduras, que até parabenizaram Maduro pela vitória. Mas a posição dos EUA também abriu as portas para que o grupo de países que reconhecem a vitória da oposição aumentasse.
Nesta sexta, Argentina, Uruguai, Costa Rica, Panamá e Equador apoiaram a estratégia. "Todos podemos confirmar, sem dúvida, que o legítimo vencedor foi González Urrutia", disse a chanceler argentina, Diana Mondino.

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