Porto Alegre,

Anuncie no JC
Assine agora

Publicada em 21 de Julho de 2024 às 15:10

Biden comunica em carta desistência de concorrer à reeleição

Biden agradeceu a quem trabalhou para ele ser reeleito e disse que detalhará decisão mais tarde

Biden agradeceu a quem trabalhou para ele ser reeleito e disse que detalhará decisão mais tarde

MANDEL NGAN/afp/jc
Compartilhe:
JC
JC
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, usou suas redes sociais para noticiar o comunicado mais relevante e, que havia forte expectativa: ele não vai mais disputar a reeleição ao cargo contra o adversário, o ex-presidente Donald Trump, dos Republicanos. 
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, usou suas redes sociais para noticiar o comunicado mais relevante e, que havia forte expectativa: ele não vai mais disputar a reeleição ao cargo contra o adversário, o ex-presidente Donald Trump, dos Republicanos
Aos 81 anos, Biden manifestou em uma carta aos americanos, de uma página, sua decisão. O democrata teve diagnóstico de Covid-19 na semana passada. No texto, Biden disse que vai "falar para a nação esta semana sobre os detalhes da minha decisão".
O presidente citou, na carta, esforços do seu governo em busca de progressos ao país. Também falou em gratidão a quem "trabalhou duro para vê-lo reeleito".
A decisão toma conta das televisões e da cobertura de notícias nos Estados Unidos. A questão é saber quem vai ocupar a vaga. Trump já se pronunciou, dizendo que será mais fácil vencer Kamala Harris, a vice de Biden.   

Pressão e rumos da disputa eleitoral

Biden não resistiu à intensa pressão interna do Partido Democrata pela sua saída, que começou após o desastroso desempenho no debate realizado no fim de junho e não arrefeceu mesmo após várias tentativas do presidente de assegurar apoiadores e eleitores de que tinha condições de derrotar Donald Trump.
Foram várias iniciativas nesse sentido nas últimas semanas -Biden deu uma entrevista exclusiva para a ABC News dias depois do debate, participou de uma entrevista coletiva após a cúpula da Otan na qual conversou diretamente com a imprensa por uma hora, e fez uma série de discursos enérgicos em eventos de campanha, insistindo na tese de que era a pessoa melhor posicionada para evitar uma vitória de Trump em novembro.
Mas os esforços foram marcados por problemas que agravaram as preocupações de democratas sobre a idade avançada do presidente. Na entrevista coletiva, confundiu sua vice, Kamala Harris, com seu adversário, Donald Trump; nos discursos de campanha e conversas com a imprensa, cada gafe piorou sua situação com aliados e fortaleceu vozes do partido que pediam sua saída.
O anúncio de Biden vem em um momento em que as pesquisas de intenção de voto colocavam o presidente atrás de Trump em estados-chave como Pensilvânia, Wisconsin e Michigan, tornando mais remotas as chances de vitória do democrata.
Também acontece uma semana depois da tentativa de assassinato contra Trump e logo após a convenção do Partido Republicano que oficializou o ex-presidente como candidato, eventos que energizaram a base do adversário, enquanto Biden precisou interromper a campanha para fazer isolamento social em casa em Delaware após receber um diagnóstico de Covid-19.
A decisão histórica de Biden de desistir da candidatura torna imprevisível a disputa pela Casa Branca neste ano. Democratas terão que definir uma nova chapa na convenção do partido, prevista para agosto, em Chicago.
Os principais nomes que vêm sendo cotados para substituir o presidente na chapa democrata, além de Kamala, são os governadores Gavin Newsom (Califórnia), J.B. Pritzker (Illinois), Josh Shapiro (Pensilvânia) e Gretchen Whitmer (Michigan), além do secretário de Transportes, Pete Buttigieg.
A última vez que uma convenção democrata serviu de fato para nomear um candidato, e não apenas oficializar o vencedor das primárias, foi em 1968. O escolhido, Hubert Humphrey, perdeu para o republicano Richard Nixon.
O anúncio antecipa o fim de uma carreira política de mais de 50 anos. Aos 29 anos, Biden foi um dos mais jovens senadores eleitos na história dos EUA e, aos 77, o presidente mais velho a tomar posse.
O democrata assumiu o país após a conturbada presidência de Trump a quem derrotou em uma eleição até hoje questionada, sem provas, pelo adversário. Em meio à crise da Covid, ele priorizou o combate à pandemia e a recuperação dos EUA.
Seu mandato foi marcado por feitos expressivos, como os pacotes bilionários de incentivo à transição energética e de investimentos em infraestrutura. Biden desafiou a previsão predominante entre economistas de que uma recessão era inevitável e alcançou uma das taxas de desemprego mais baixas da história.
Em contrapartida, a inflação disparou durante o seu governo, acumulando alta de quase 20%. A alta do custo de vida foi o início do fim da lua do mel do presidente com o eleitorado.
À alta de preços somou-se o aumento da entrada irregular de imigrantes nos EUA, alcançando níveis recordes. Cenas de caravanas vindas do México reproduzidas na TV reforçaram a imagem de descontrole na fronteira e de fraqueza do presidente.
Biden viu ainda a eclosão de duas guerras durante seu mandato: a invasão da Ucrânia pela Rússia, em 2022, e o conflito entre Israel e Hamas na Faixa de Gaza, iniciado em outubro de 2023. Nos dois casos, sua decisão foi manter-se fiel às alianças americanas com Kiev e Tel Aviv, em contraposição a Moscou e a adversários americanos no Oriente Médio.
A decisão do democrata teve um custo político. O apoio à Ucrânia foi crescentemente questionado pela população e a oposição no Congresso. A aliança com Israel, por sua vez, fragmentou sua base, sobretudo a ala mais jovem e progressista da coalizão que o elegeu em 2020. Este grupo passou a criticar Biden por considerar que a Casa Branca estava chancelando a ofensiva contra palestinos, sob a qual recaíram acusações de genocídio, rejeitadas por Tel Aviv.
Questionamentos sobre a viabilidade eleitoral e a capacidade de Biden de exercer um novo mandato, em face de sua idade, ocorreram praticamente ao longo de todo o seu mandato. Cenas de tropeços, especialmente a queda durante uma cerimônia militar, correram o mundo.
Biden havia conseguido reduzir em certa medida dúvidas sobre sua candidatura após as seguidas vitórias nas primárias e o bem avaliado discurso de Estado da União, em março.
No entanto, tornaram-se mais frequentes nas últimas semanas situações em que o presidente parece desorientado ou com dificuldade de falar. Uma das razões para sua campanha decidir antecipar o debate presidencial para antes mesmo das convenções era justamente aplacar os rumores sobre sua saúde.
O desastre de sua aparição no debate de 27 de junho acabou tendo o efeito contrário e abriu uma crise no partido, que passou a não confiar em Biden para derrotar Donald Trump, 78, em novembro. 
  • Jornal do Comércio, com Folhapress

Notícias relacionadas