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Publicada em 15 de Julho de 2024 às 16:40

Lula critica taxa de carbono da UE e diz que bloco precisa resolver 'contradições internas'

Fala foi feita durante declaração conjunta no Palácio do Planalto com presidente da República Italiana

Fala foi feita durante declaração conjunta no Palácio do Planalto com presidente da República Italiana

Evaristo Sa/AFP/Divulgação/JC
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Folhapress
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou, nesta segunda-feira (15), a taxa de carbono criada pela União Europeia, chamada de mecanismo de controle de emissão de carbono na fronteira (Cbam, na sigla em inglês).
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou, nesta segunda-feira (15), a taxa de carbono criada pela União Europeia, chamada de mecanismo de controle de emissão de carbono na fronteira (Cbam, na sigla em inglês).
O tributo onera produtos de fora da UE que não consigam comprovar que impediram emissões de gases poluentes. O objetivo é garantir o poder de concorrência de produtores europeus que precisam investir para garantir a sustentabilidade.
Lula disse ainda que o bloco precisa resolver suas "contradições internas" para poder firmar o acordo com o Mercosul.
"Explicitei [ao presidente Italiano, Sergio Mattarella] que o avanço das negociações depende de os europeus resolverem suas próprias contradições internas. Medidas como a taxa de carbono imposta de forma unilateral pela União Europeia podem afetar cinco dos dez produtos brasileiros mais exportados para o mercado italiano", disse Lula.
"A redução das emissões de CO2 é um imperativo, mas não deve ser feita com base em medidas unilaterais que vão impactar as vidas dos produtores brasileiros e dos consumidores italianos", completou.
A declaração de Lula foi dada durante declaração conjunta no Palácio do Planalto com o presidente da República Italiana, Sergio Mattarella. Eles também assinaram acordos de cooperação para beneficiar intercâmbios entre universidades.
A taxa citada por Lula, assim como a nova regra da União Europeia (UE) para barrar a compra de bens produzidos em áreas desmatadas, são vistas com preocupação pelo governo Lula e por setores produtivos, que temem um recuo das exportações brasileiras ao bloco dependendo do modelo a ser adotado.
Entre os setores mais afetados por esse ponto está o siderúrgico, por ser um dos principais emissores de dióxido de carbono no mundo.
A cobrança "antipoluição" será efetivada a partir de 2026, com início de uma fase transitória em outubro deste ano. O valor será ajustado com base no preço de carbono semanal na UE. Hoje, a taxa ficaria abaixo de 100 euros por tonelada de dióxido de carbono produzido, mas esse montante pode sofrer ainda grande variação nos próximos anos.
Marcela Carvalho, secretária-executiva da Camex (Câmara de Comércio Exterior), chama a atenção para o peso dessa taxa nos mercados emergentes. "O valor de 83 euros por tonelada de carbono emitido dá cerca de 3% do salário mínimo da Alemanha, mas dá 33% do nosso salário mínimo. Então, o impacto no mundo desenvolvido e em desenvolvimento é completamente diferente."
Em um primeiro momento, a regra não irá considerar as emissões indiretas de carbono no cálculo -decisão que é tida como uma barreira excessiva a produtos brasileiros do setor siderúrgico, como aço, ferro e alumínio.
A crítica de Lula à postura da União Europeia não encontrou resposta na declaração do presidente italiano. Ele se limitou a falar da importância de firmar o acordo.
"Consideramos que é indispensável chegar rapidamente à decisão histórica que diz respeito a duas grandes realidades para benefício do mundo, um tecido de colaboração que garante a paz para o resto mundo", disse Matarella.
O acordo comercial entre União Europeia e Mercosul teve as negociações concluídas desde 2019, no primeiro ano do governo de Jair Bolsonaro (PL), o texto ainda não foi ratificado pelos dois blocos -e agora corre o risco de não ser aprovado.
Negociada oficialmente desde 1999, a resolução esbarra em novas condicionantes ambientais pedidas pelos europeus, bem como divergências do governo brasileiro sobre prejuízos à reindustrialização do país.

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