O presidente da Argentina, Javier Milei, notificou nesta quinta-feira, o governo Luiz Inácio Lula da Silva sobre sua viagem ao Brasil, neste fim de semana. O ultraliberal irá a Balneário Camboriú a fim de participar da Conferência da Ação Política Conservadora (CPAC, na sigla em inglês), evento da direita promovido por opositores do petista, além de se reunir com o ex-presidente Jair Bolsonaro. Ele não fará qualquer contato com o presidente Lula.
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A conferência contará com parlamentares que integram o "núcleo duro" do bolsonarismo no Congresso Nacional. Também está prevista a participação de José Antonio Kast, líder da extrema direita no Chile.
A Embaixada da Argentina enviou ao Itamaraty formalmente, no início da tarde, uma nota verbal com informações sobre o plano da viagem de Milei. Até então, o Ministério das Relações Exteriores dizia que o governo brasileiro não havia sido nem sequer comunicado da visita.
Por decisão de Milei, ele não pediu uma reunião com Lula e autoridades do Palácio do Planalto. Milei havia indicado em duas cartas interesse em se reunir com o petista, mas ficou sem resposta. Os presidentes se encontraram na Itália, durante uma sessão plenária do G-7, mas apenas se cumprimentaram de forma protocolar.
O argentino pretende desembarcar em Santa Catarina no sábado (6), à noite, e regressar a Buenos Aires no dia seguinte, também no período noturno.
Milei repete no Brasil o que fez quando visitou a Espanha, em maio, e ignorou o premiê socialista Pedro Sánchez, em um episódio da crise política entre os países, que continua aberta. Ele disse recentemente que o premiê é "motivo de chacota" e o chamou de "incompetente" e "covarde".
O governo Lula vai observar o tom do discurso de Milei em relação ao petista. Medidas de reprimenda diplomática estão sobre a mesa, mas o Itamaraty tem evitado o confronto. A vinda ao Brasil sem qualquer referência ao presidente Lula foi interpretada como descortesia e provocação.
"Não me compete comentar declarações do presidente de outro país, nem do meu presidente", disse a embaixadora Gisela Padovan, secretária de América Latina e Caribe no Itamaraty. "Trabalhamos para que as relações com a Argentina continuem sendo o que sempre foram, de dois países parceiros, com interesses enormes, as duas economias, as duas populações, com integração em múltiplos setores estratégicos, nuclear, espacial, defesa. É isso que a gente busca preservar."
O governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), prepara um jantar para Milei e Bolsonaro. Havia a previsão de que a reunião fosse uma agenda pública mas, diante de um entrave logístico, o encontro será feito reservadamente.
Senador aliado de Lula faz fortes críticas a Milei
As atitudes do líder argentino, Javier Milei, repercutiram no Congresso Nacional. O senador Omar Aziz (PSD-AM), aliado de Lula, disse que Milei é um "vagabundo", em resposta à nova ofensiva contra o petista. No entendimento do parlamentar, os ataques contra o presidente atingem o País.
"Quem é o Milei para sacar contra a maior autoridade do Brasil? Não é mais o Lula, ele é o Brasil nesse momento, gostando ou não dele. Não dá para aplaudir o Milei que está dando uma de moleque, que vai para a internet falar mal do presidente da República. Isso é coisa de moleque. O Milei é um vagabundo. A Argentina tem um presidente que é vagabundo", afirmou o senador nesta quinta-feira.
Nos últimos dias, em uma inflexão da postura cautelosa que vinha adotando e dos sinais de interesse em contato pragmático, o libertário passou a criticar Lula, voltou a chamá-lo de "corrupto", "comunista" e outros termos ofensivos e rejeitou um pedido de desculpas exigido pelo petista.
Em pouco tempo no cargo, o presidente da Argentina acumula crises diplomáticas, motivadas por razões ideológicas e declarações ofensivas, com México, Colômbia, Venezuela e Bolívia.