Porto Alegre,

Anuncie no JC
Assine agora

Publicada em 18 de Junho de 2024 às 15:49

Putin tempera visita ao ditador Kim com exercício militar

Essa é a primeira ida do líder russo em 24 anos à Coreia do Norte

Essa é a primeira ida do líder russo em 24 anos à Coreia do Norte

SERGEI KARPUKHIN/AFP/JC
Compartilhe:
Folhapress
Embalado por uma retórica comunista clássica, chamando o ditador Kim Jong-un de "camarada", Vladimir Putin desembarcou ontem em Pyongyang. É sua primeira viagem em 24 anos à capital do obscuro regime da Coreia do Norte.
Embalado por uma retórica comunista clássica, chamando o ditador Kim Jong-un de "camarada", Vladimir Putin desembarcou ontem em Pyongyang. É sua primeira viagem em 24 anos à capital do obscuro regime da Coreia do Norte.
Como cartão de visitas, o presidente ordenou o início de um exercício militar de dez dias com 40 navios e 20 aeronaves de sua Frota do Pacífico em torno de águas da península coreana e do Japão, pontos que concentram quase 80 mil militares norte-americanos.
A viagem é qualificada no Ocidente como o aprofundamento de uma relação estratégica e comercial, na qual Kim incrementará o arranjo em que recebe tecnologia espacial e de mísseis russa, além da ocasional limusine presidencial, em troca de munição para Putin empregar na Ucrânia.
Mas a retórica do russo mostra que, se tudo isso pode ser verdade, há uma intenção outra: evidenciar um aliado da Guerra Fria na versão 2.0 do conflito, no qual a União Soviética cedeu espaço para a China, mas a Rússia segue como parceiro importante deste polo. Do outro lado, segue Washington.
A Coreia do Norte, rival da aliada americana Seul, vive o pior momento de relacionamento com o Sul da península dividida pela guerra de 1950-1953. Após o fracasso de uma aproximação promovida por Donald Trump após testes de mísseis capazes de atingir os Estados Unidos em 2017, a relação com sul-coreanos e americanos é glacial.
Kim promove exercícios com suas forças capazes de empregar alguma das 50 ogivas nucleares que detém com regularidade, e testa mísseis balísticos quase todo mês. Tem fracassado consistentemente no lançamento de satélites, e é aí onde os russos entram também -em sua viagem ao país de Putin no ano passado, foi recebido numa base espacial.
Como o ditador vive, para todos os efeitos, num sistema congelado politicamente nos anos 1950, faz todo sentido o tom adotado por Putin em sua carta ao líder, publicada na primeira página do Rodong Sinmun, o jornal oficial do regime.
"Camarada Kim", escreveu o russo ao ditador, usando a expressão que até hoje é empregada por russos que viveram os tempos soviéticos. "A Rússia sempre apoiou e vai continuar apoiando a República Democrática Popular da Coreia e o heroico povo coreano na sua oposição a inimigo insidioso, agressivo e perigoso", disse Putin, falando dos EUA.
Depois, disse que os norte-americanos têm ameaçado a estabilidade na Eurásia ao expandir sua atuação, remetendo ao aumento da assertividade nuclear da aliança entre Joe Biden e a Coreia do Sul, para ficar nas preocupações de Kim.
Os exercícios de Putin miram mostrar que suas forças estão vivas no Pacífico, onde costumam operar em conjunto com a aliada China. É a segunda demonstração do tipo em uma semana: na segunda, uma flotilha russa de ataque deixou Havana após cinco dias em exercícios militares no Caribe, quintal estratégico dos EUA.

Notícias relacionadas