As eleições para o Parlamento Europeu, concluídas no domingo (9) confirmaram as previsões de um avanço da extrema direita, embora em menor força do que o esperado. O resultado da nova formação do parlamento, que mantém os partidos tradicionais e pró-europeus na maioria, não deve ter um impacto significativo nas decisões do bloco, avaliam especialistas, mas serve como um termômetro para medir mudanças nas concepções de democracia.
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A extrema direita se saiu bem em países como Alemanha, Itália e Áustria. Na França, onde o Reagrupamento Nacional obteve o dobro dos votos da aliança liberal lançada pelo presidente Emmanuel Macron, eleições legislativas antecipadas foram convocadas. Nunca antes as eleições europeias tiveram um impacto tão devastador na política doméstica de um país do bloco.
Os ganhos, porém, não foram tão surpreendentes como o esperado: o Partido Espanhol de extrema direita Vox, por exemplo, ficou em terceiro lugar com seis eurodeputados. No vizinho Portugal, a oposição socialista superou por uma estreita margem a coalizão governante de direita moderada, enquanto a extrema direita do Chega ficou com 9,8%, em um distante terceiro lugar. Assim, o centro seguiu como maioria do Parlamento.
Neste cenário, a esperada influência da extrema direita deve ser amortecida, especialmente levando-se em conta a fragmentação interna deste grupo, com posições divergentes em questões importantes da União Europeia, conforme pontua a doutora em Relações Internacionais pela London School of Economics, Carolina Pavese. "Há algumas discordâncias que são importantes ao ponto de inviabilizar uma coalizão completa e que seja uma aliança fechada para todas as questões", sinaliza, sugerindo que qualquer coalizão seria pontual e focada em temas específicos.
Um dos pontos de consenso entre esses grupos, conforme a especialista, é a resistência à migração e às políticas de asilo mais generosas da União Europeia. Ela prevê uma forte pressão desses grupos para restringir as políticas de acolhimento de refugiados e a política migratória, visando torná-las mais severas. O ceticismo em relação às mudanças climáticas também une esses grupos em uma frente conservadora, especialmente contra o orçamento destinado a políticas ambientais e de sustentabilidade, segundo Pavese.
Os resultados indicam que a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, possa alcançar o segundo mandato, figurando como o principal nome para o posto. Para isso, ela precisa do apoio dos líderes dos 27 países da UE e do novo Parlamento. E os resultados das eleições indicam que ela conseguirá.