Porto Alegre,

Anuncie no JC
Assine agora

Publicada em 05 de Abril de 2024 às 19:55

Disputas internas fazem Milei evitar brigas com Brasil

Milei recebeu um "choque de realidade" ao assumir o pode e agora existe intenção de explorar a relação com o Brasil

Milei recebeu um "choque de realidade" ao assumir o pode e agora existe intenção de explorar a relação com o Brasil

Mandel NGAN/AFP/JC
Compartilhe:
Agência Estado
Os primeiros 100 dias de Javier Milei como presidente da Argentina foram insuficientes para restabelecer uma aproximação com o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva. A relação entre os dois, deteriorada por agressões e ofensas no ano passado, segue "congelada", cercada de desconfiança.Recentemente, os embates e provocações arrefeceram, mas ao menos no governo brasileiro a aparente trégua não desfez interrogações a respeito de Milei, um dos ícones da direita no continente. A expansão desse movimento e sua expressão mais radical preocupa Lula, que chegou a pedir ajuda a peronistas para estudar o fenômeno na Argentina.
Os primeiros 100 dias de Javier Milei como presidente da Argentina foram insuficientes para restabelecer uma aproximação com o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva. A relação entre os dois, deteriorada por agressões e ofensas no ano passado, segue "congelada", cercada de desconfiança.

Recentemente, os embates e provocações arrefeceram, mas ao menos no governo brasileiro a aparente trégua não desfez interrogações a respeito de Milei, um dos ícones da direita no continente. A expansão desse movimento e sua expressão mais radical preocupa Lula, que chegou a pedir ajuda a peronistas para estudar o fenômeno na Argentina.
Diplomatas e analistas políticos observam que Milei, às voltas com problemas domésticos, mudou o comportamento nos últimos tempos. Ele deixou de lado a retórica da "casta vermelha" contra Lula e o Brasil, usada na campanha, e parou de citar o brasileiro como contraponto a suas ideias.

Fogo cruzado entre Brasil e Argentina

Em campanha, Milei chamou Lula de corrupto, o acusou de ser "comunista", "totalitário" e de interferir na disputa eleitoral argentina de 2023 para beneficiar os peronistas.

Lula apoiou o ex-ministro da Economia Sergio Massa e recebeu visitas do então presidente Alberto Fernández. Ele chegou a se referir a Milei em privado como "louco".

Ficaram no ar pedidos de desculpas cobrados por ministros de Lula, vistos como necessários para uma aproximação por assessores e conselheiros do Palácio do Planalto. Eles dizem que Milei "agrediu primeiro" e em público, por isso caberia a ele dar o primeiro passo. Mas reconhecem que Lula também devolveu as agressões.

Um auxiliar de Lula, que despacha no Planalto, resume o status do relacionamento como "congelado" - não se agravou, mas também não evolui. O governo brasileiro, no entanto, sabe que as provocações não interessam a ninguém.
Ninguém no governo aposta em mudança de cenário sem um gesto de Milei. O argentino chegou a enviar uma carta a Lula como convite para sua posse, em dezembro, mas o brasileiro não foi - enviou o chanceler, Mauro Vieira, como seu representante. Na ocasião, o ex-presidente Jair Bolsonaro foi tratado como convidado especial.

Os relatos de ambos os lados indicam que os trabalhos de nível técnico vão bem e existe engajamento direto entre Vieira e a chanceler argentina, Diana Mondino. Ela j veio ao Brasil duas vezes e pode voltar em abril para outra reunião no Itamaraty.

Encontro entre os países

O primeiro encontro entre eles - coisa que Milei desdenhou na campanha - só ocorrerá quando houver um "amadurecimento" político dos dois lados, reconhece o embaixador do Brasil em Buenos Aires, Julio Bitelli. "O importante é não cair numa espécie de armadilha de deixar a relação bilateral refém desse aspecto", disse o embaixador ao Estadão.

Segundo o diplomata, Milei recebeu um "choque de realidade" ao assumir o pode e agora o que se ouve do lado argentino é a intenção de explorar a relação com o Brasil. Ele diz que a classe dos industriais alertou Milei que o futuro da indústria dependia do Brasil.

O embaixador acredita que o governo argentino não pretende aprofundar as divergências com Lula e entende que os episódios foram dramatizados, o que seria uma tendência nas sociedades dos dois países.

Notícias relacionadas