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Publicada em 24 de Março de 2024 às 21:00

Governo Milei sugere que Mães da Praça de Maio 'inventaram' cifra de vítimas da ditadura

Milhares de argentinos foram às ruas para relembrar o aniversário do golpe que levou o país à ditadura

Milhares de argentinos foram às ruas para relembrar o aniversário do golpe que levou o país à ditadura

EMILIANO LASALVIA/AFP/JC
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Folhapress
Neste domingo (24), data em que a Argentina relembra o aniversário do golpe que empurrou o país para a ditadura militar (1976-1983), a Casa Rosada divulgou em suas redes sociais um vídeo de 12 minutos com a sua visão sobre a repressão e a luta armada nos anos anteriores ao regime e no qual rechaça a cifra de 30 mil desaparecidos na ditadura militar.
Neste domingo (24), data em que a Argentina relembra o aniversário do golpe que empurrou o país para a ditadura militar (1976-1983), a Casa Rosada divulgou em suas redes sociais um vídeo de 12 minutos com a sua visão sobre a repressão e a luta armada nos anos anteriores ao regime e no qual rechaça a cifra de 30 mil desaparecidos na ditadura militar.
O presidente Javier Milei republicou o vídeo em sua conta no X, o antigo Twitter, com a mensagem "por uma memória completa para que haja verdade e justiça". Chamado de "Dia da Memória pela Verdade e Justiça", o vídeo tem formato de documentário e abre com o escritor Juan Bautista "Tata" Yofre lendo um trecho de um livro do tcheco Milan Kundera no qual ele fala que "para liquidar as nações, o primeiro passo é tirar-lhes a memória".
A partir daí, Bautista lança a ideia de que a história da violência dos anos 1970 e da ditadura "não foi contada de forma completa".
Já o ex-guerrilheiro Luis Labraña conta como teria sido ele quem inventou a cifra de 30 mil desaparecidos, num momento em que as Mães da Praça de Maio buscavam financiamento no exterior. "Esses 30 mil serviram para buscar a verdade, ajudaram a realidade? Não. Fortaleceram o ódio e também começaram a obscurecer a verdadeira história. Não, senhores, 30 mil era falso. Coloquei o número 30 mil e ninguém pode discutir comigo," diz.
O número oficial, que até hoje é compilado pelo Registro Unificado de Vítimas do Terrorismo de Estado, é de 8.631 mortos e desaparecidos no período de 1976 a 1983, mas o próprio relatório reconhece que a cifra é subestimada. A cifra de 30 mil é comumente adotada por movimentos sociais.
Também no vídeo, María Fernanda Viola, filha do capitão Viola, um militar assassinado por guerrilheiros de esquerda dois anos antes da ditadura, diz que o governo Kirchner proibiu uma homenagem ao seu pai no cemitério onde ele está sepultado. "Acredito que com a verdade plena muitas feridas serão curadas", afirma.
Ela também ironiza os movimentos que pedem por direitos humanos, perguntando onde estariam os seus e os de sua irmã, que eram crianças pequenas quando seu pai foi assassinado. Por fim, chama a ditadura militar de guerra e diz que pessoas "de ambos os lados" foram mortas, afirmando que quando só se conta uma parte da história ela não está completa.
Antes da divulgação do vídeo pela conta oficial da Casa Rosada, a vice-presidente Victoria Villaruel fez uma publicação na qual também fazia referência ao número de desaparecidos e solicitava reparações às vítimas do terrorismo.
Villlarruel é notória revisionista da ditadura argentina. Em setembro passado, já durante a campanha, ela organizou evento em Buenos Aires em que chamou grupos armados contrários ao regime militar de terroristas e defendeu a indenização de vítimas deles durante o período.
A ideia do vídeo, segundo a imprensa local, é apresentar o que Milei e principalmente sua vice defenderam durante a campanha: uma "memória completa" do período repressivo, ressaltando violências cometidas por grupos militantes contrários ao regime à época e pintando o período como um momento de guerra. Ainda de acordo com a imprensa argentina, o responsável pela peça é o produtor Santiago Oría, documentarista do presidente e um dos estrategistas de imagem de Milei.
Organizações de direitos humanos e movimentos de esquerda tradicionalmente realizam atos em memória das vítimas da repressão no dia 24 de março. Em Buenos Aires, as ruas foram tomadas por milhares de pessoas buscando justiça aos desaparecidos durante a ditadura e pedindo que isto não se repita nunca mais.

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