Com sua vitória nas primárias praticamente certa, a campanha de Joe Biden trata a votação na Carolina do Sul deste sábado (3) como um laboratório para o pleito geral, em novembro.
O eleitorado negro do estado foi responsável por ressuscitar a candidatura do presidente na disputa pela nomeação democrata em 2020, após duas derrotas consecutivas. Passados quatro anos, Biden busca novamente o impulso do segmento em sua difícil batalha pela reeleição - a ponto de ter alterado o calendário das primárias para isso, passando a Carolina do Sul à frente dos tradicionais Iowa e New Hampshire.
"Esta é a primeira vez que eleitores negros votarão primeiro em quem escolhem para presidente", disse a diretora do Partido Democrata na Carolina do Sul, Christale Spain, ao jornal The New York Times. "Nosso objetivo é levar às urnas o maior número possível de eleitores negros."
Assim, mais importante do que o resultado, o que importa neste sábado é a participação desse grupo demográfico, que corresponde a um quarto da população do estado segundo dados do censo americano.
Para isso, a campanha democrata dobrou a aposta no apelo explícito a ele. No último final de semana, Biden visitou uma barbearia e duas igrejas da comunidade negra. A vice-presidente, Kamala Harris, também participou de eventos no estado, assim como outros democratas da cúpula do partido, como o governador da Califórnia, Gavin Newsom.
"Vou ficar surpreso se a participação estiver no mesmo nível que a de 2020 ou for maior. Seria uma excelente notícia para Biden", afirma à Folha o cientista político Todd Shaw, professor da Universidade da Carolina do Sul e ex-presidente da Conferência Nacional de Cientistas Políticos Negros.
O motivo pelo qual o engajamento não deve ser tão alto é que, diferentemente de 2020, as primárias democratas neste ano não são competitivas - os demais candidatos, Dean Phillips e Marianne Williamson, têm chances quase nulas e mal fizeram campanha no estado.
Por isso, segundo Shaw, o verdadeiro parâmetro é o quão mais baixa a participação nas urnas será neste sábado. Um grau muito inferior do que a do pleito anterior reforçaria um temor que paira sobre os democratas: a perda de apoio entre o eleitorado negro, segmento que foi fundamental para derrotar Donald Trump quatro anos atrás. "Qualquer descolamento da base de Biden pode afetá-lo porque a eleição vai ser muito acirrada", resume o pesquisador.
Embora haja pouca esperança de que o presidente vença em novembro na Carolina do Sul -a última vez em que o estado elegeu um presidente democrata foi em 1976-, o engajamento da população negra é um termômetro para o seu desempenho em estados de fato disputados, como Geórgia (onde 33% da população é negra), Carolina do Norte (22%) e Michigan (14%).
Se o resultado deste sábado for ruim, "é melhor para eles receberem essa notícia agora do que na Super Terça", completa Shaw, em referência ao dia em que 15 estados e um território realizam suas primárias, em 5 de março.
O alarme na campanha democrata foi disparado por pesquisas de opinião que mostram um aumento da rejeição a Biden entre a população negra. Em julho de 2022, por exemplo, 57% dos entrevistados com esse perfil faziam uma boa avaliação do presidente e 42%, uma ruim. Já em janeiro deste ano, a visão positiva havia caído para 48%, ligeiramente abaixo da negativa, então em 49%, segundo dados do instituto americano de pesquisas Pew Research Center.