Recebido pela organização do Fórum Econômico Mundial em Davos como alguém que ao ser eleito "infundiu um novo espírito" em prol da liberdade econômica, o presidente da Argentina, Javier Milei, em sua primeira viagem internacional desde que assumiu a Casa Rosada, afirmou que "o Ocidente está em perigo por causa de ideias socialistas" abraçadas por líderes globais.
"O Ocidente está em perigo porque naqueles países que deveriam defender o liberalismo, a defesa da propriedade, a liberdade, estão abrindo as portas para o coletivismo", disse.
Em um discurso de 22 minutos no qual afirmou que o Estado "não é solução, mas problema" e encerrado com um aplaudido "viva la libertad, carajo", ele colocou a Argentina como parceiro de negócios disponível e a total desregulamentação da economia como panaceia.
Milei, disse ainda que pretende ampliar a parceria comercial com o Brasil. “Continuaremos a manter uma relação adulta”, respondeu o presidente a jornalistas brasileiros em Davos ao ser indagado sobre como estavam as relações com o governo de Luiz Inácio Lula da Silva. O presidente brasileiro não compareceu, em dezembro, à posse do ultraliberal, que já lhe dirigiu diversas críticas.
Questionado sobre o que seria uma “relação adulta”, Milei resumiu: “trabalharemos juntos por nossa entrada na OCDE [organização que reúne países ricos] e ampliaremos a parceria comercial”.
Milei, empossado em dezembro após vencer as eleições impulsionado por uma fala ultraliberal, fez um discurso mais conectado com a plateia e a comunidade internacional do que outros líderes da direita radical que subiram ao mesmo palco em outros anos, como o brasileiro Jair Bolsonaro, que falou por oito minutos, embora dispusesse de mais tempo, e o norte-americano Donald Trump, que levou uma fanfarra para abrir sua apresentação.
Usando como contraexemplo o declínio econômico argentino, exaltou as benesses do livre mercado, da desregulação, da redução de imposto e da liberdade. Incluiu no discurso, entretanto, a "defesa da vida" (jargão antiaborto), que contradiz os primeiros libertários que defendeu.
"Dizem que o capitalismo é mau por ser individualista e que o socialismo é bom por ser coletivista", afirmou, para risos da plateia. "A ideia de justiça social é injusta porque é violenta, e é injusta porque o Estado se financia com impostos."
Mas Milei foi recebido com descrença ao afirmar que não vê diferenças fundamentais entre nazistas, comunistas, fascistas, socialistas, progressistas, globalistas, sociais-democratas e nacionalistas: são todos, a seu ver, coletivistas.
Em sua longa defesa para a redução do papel do Estado, citou o capitalismo como enriquecedor e o socialismo como "invariavelmente" produtor de miséria. Com números de crescimento econômico da Argentina e do mundo dentro de determinados períodos, conseguiu manter a atenção do público em suas teses.
Ele criticou também as teorias econômicas clássicas, por "abrir as portas ao socialismo" e "condenar a sociedade à pobreza" ao regular o mercado, vetar monopólios e tributar a riqueza.
Mas não teve o mesmo sucesso com o público ao fazer críticas a baluartes progressistas não exclusivos da esquerda. Criticou o feminismo, chamando-o de uma ideia ridícula para opor homens e mulheres; a agenda para conter a mudança climática, que, em sua visão, coloca o homem contra a natureza; e o direito ao aborto.
Folhapress