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Publicada em 16 de Janeiro de 2024 às 16:41

A previsão é de que as tensões entre Taiwan e China se mantenham, diz especialista

O vencedor das eleições para Líder de Governo elegeram o partido mais anti-china entre os concorrentes, o PDP (foto)

O vencedor das eleições para Líder de Governo elegeram o partido mais anti-china entre os concorrentes, o PDP (foto)

Yomiuri/AFP/DIVULGAÇÃO/JC
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Mariana Dawas Vieira
As corrida eleitoral taiwanesa ocorreu no último sábado (13), resultando na eleição do atual Vice de Governo Lai Ching-te, do Partido Democrático Progressista (PDP), com 40,1% dos votos. A disputa foi entre os três candidatos Lai Ching-te, Hou Yu-ih (Kuomintang - KMT) e Ko Wen-je (Partido do Povo de Taiwan - PPT), dentre eles o vencedor é o mais favorável à independência da ilha.
As corrida eleitoral taiwanesa ocorreu no último sábado (13), resultando na eleição do atual Vice de Governo Lai Ching-te, do Partido Democrático Progressista (PDP), com 40,1% dos votos. A disputa foi entre os três candidatos Lai Ching-te, Hou Yu-ih (Kuomintang - KMT) e Ko Wen-je (Partido do Povo de Taiwan - PPT), dentre eles o vencedor é o mais favorável à independência da ilha.
O PDP é o partido no poder pelos últimos dois mandatos e, desde 2020, Tsai Ing-Wen era o Chefe de Governo, com Lai Ching-te como seu Vice. "A eleição de Lai Ching-te significa que, pela primeira vez, haverá um terceiro mandato do Partido Democrático Progressista (PDP) na ilha", explica Luana M. Geiger, professora na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), membro não-residente do Centro de Estudos de Segurança de Taiwan (TCSS) e coordenadora de Pesquisa do think tank Observa China.
"Embora tenha declarado em campanha apoiar a manutenção do status quo na ilha, Lai Ching-te propõe reduzir a dependência econômica de Taiwan em relação à China continental e assinar tratados de comércio com outros países", acrescenta a professora. A sua antecessora teve uma política de aproximação com os Estados Unidos, de fortalecimento das forças armadas e de busca por estabilização econômica. 
A professora destaca ainda a sensibilidade da economia taiwanesa, dada a desaceleração do desempenho da economia, a alta inflação, o aumento dos custos imobiliários e a estagnação salarial. "Lai também apoia o fechamento das plantas de energia nuclear de Taiwan até 2025, o que gera receios na população quanto à perspectiva de aumento dos custos energéticos".
Este cenário é somado ao contexto político dividido, já que o partido Kuomintang (KMT) possui a maioria no poder legislativo. Além disso, a maioria dos votos (59,5%) foram divididos entre os dois partidos perdedores - em eleição de apenas um turno. Tal situação reflete especialmente em como lidar com as relações com a China.

China

A República Popular da China reivindica soberania sobre a ilha de Taiwan, separada do continente pelo estreito de mesmo nome, de cerca de 130km de distância da China continental. Também conhecida como Ilha Formosa, o território não é majoritariamente reconhecido como independente da China, além de ser economicamente dependente das fortes parcerias com a potência asiática. 
Diversos foram os relatos de testes de armamentos chineses aos redor de Taiwan, progressivamente se aproximando da ilha, como forma de aviso da potencial invasão caso decidam tomar medidas de independência. Em agosto do ano passado, Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, visitou a ilha e aumentou as tensões locais, já que um representante de alto escalão estadunidense não visitava a ilha desde 1997.
Historicamente, Taiwan se diverge politicamente da China após a Revolução Comunista Chinesa, de 1949, com a vitória de Mao Tsé-tung e a proclamação da República Popular da China. A oposição nacionalista, o Kuomintang, se deslocou para a ilha e formou a República da China. Com governo autônomo, Taiwan realiza eleições para Líder de Governo desde as primeiras eleições diretas de 1996. Atualmente, apenas 11 países reconhecem Taiwan como independente da China.
A população local mostra se identificar cada vez menos como chinesa e mais como taiwanesa, e diversos representantes políticos, inclusive do governo atual e recém-eleito, rejeitam as reivindicações chinesas de soberania.
"Beijing (capital chinesa) deixou claro o seu descontentamento com os candidatos do PDP, especialmente em função de uma declaração realizada por Lai Ching-te ao longo de sua carreira política, indicando apoio à independência de Taiwan. O PDP apresenta postura mais distante de Beijing, agindo de forma mais provocativa e dificultando o diálogo. Em função disso e da recusa da atual Chefe de Governo de Taiwan Tsai Ing-Wen, em reconhecer o Consenso de 1992 – acordo basilar das relações interestreito –, Beijing cortou o seu canal de comunicação com a ilha em 2016", comenta a professora. "As perspectivas são de continuidade das tensões entre os dois lados do Estreito de Taiwan".

Estados Unidos

Apesar dos partidos "anti-China" buscarem a aproximação de relações com os EUA, o presidente estadunidense afirmou, após o resultado das eleições, que os Estados Unidos não apoiam a independência de Taiwan. 
Mesmo com os EUA serem os maiores fornecedores de armamento para a ilha, o governo de Biden mantem o que chama de política de "uma só China", trabalhando para acalmar as tensões na região. Este comportamento levou ao encontro entre o presidente chinês, Xi-Jinping e Biden, em novembro de 2023.
"Tudo indica que veremos continuidade no perfil de contato mais próximo com os Estados Unidos. A Vice-Presente eleita, Hsiao Bi-khim, é filha de uma norte-americana e foi representante de Taiwan em Washington entre 2020 e 2023, o que reflete esta tendência. Embora os Estados Unidos não reconheçam Taiwan diplomaticamente, o extenso contato e experiência de Hsiao em Washington pode contribuir ao aprofundamento dos laços informais", acrescenta Luana.
Logo após o resultado, porém, o secretário de Estado Antony Blinken, chefe da diplomacia estadunidense, parabenizou a vitória de Lai Ching-te, atitude que foi vista como ofensiva pelo governo chinês por mandar "um sinal gravemente errado" aos favoráveis à separação. 

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