Forças de Israel e do Hamas se enfrentaram em solo na Faixa de Gaza no primeiro combate divulgado pelos dois lados desde o começo da atual guerra. Segundo as Forças de Defesa de Israel (IDF), houve incursões limitadas entre domingo e segunda-feira (23), além do bombardeio de 320 alvos. O objetivo, segundo explicou o porta-voz Daniel Hagari, é matar esquadrões de terroristas que se preparam para o próximo estágio da guerra.
"As incursões também procuram o que for possível em termos de inteligência sobre os reféns", disse, aumentando para 222 o número de civis e soldados levados pelo Hamas no mega-ataque terrorista contra Israel no dia 7 de outubro, a maior ação contra o país em 50 anos, que levou ao conflito atual. O Hamas diz ter 250 cativos.
O grupo terrorista que administra a região desde 2007, afirmou, em comunicado na noite do domingo, que havia repelido "infiltrações israelenses em Khan Yunis", destruindo um tanque e duas escavadeiras rivais -algo que Hagari não comentou. A cidade fica no sul da Faixa de Gaza, fora da zona de exclusão militar determinada no dia 13 pelos israelenses, e está lotada de refugiados. Segundo os palestinos, a maior parte dos 436 civis mortos nesta segunda estava na região.
Das 26 pessoas à espera de repatriação para o Brasil, 16 estão em quatro apartamentos de Khan Yunis. O restante do grupo está em Rafah, ponto da fronteira com o Egito.
Já houve relato de outras ações pontuais por terra em Gaza, mas esta é a primeira vez que ambos os beligerantes contam histórias semelhantes de engajamento. Sob a ótica israelense, é uma forma de dar uma resposta pública à pressão que o governo de Benjamin Netanyahu tem sofrido.
Além de ser apontado como culpado pelo fracasso político em lidar com a questão palestina, no qual apostou em fortalecer o Hamas em detrimento do governo reconhecido pela ONU na Cisjordânia, Netanyahu também carrega o peso do desastre de inteligência que não anteviu o ataque do dia 7.
Agora, o debate é em torno da anunciada invasão por terra para, nas palavras do governo, destruir o Hamas de vez. Tal operação carrega enorme risco militar e político, pois os terroristas tiveram anos para se preparar, tendo construído uma rede de túneis que em 2021 o Hamas dizia ter 500 km de extensão.
Políticos de direita em Israel, aliados de Netanyahu, pressionam por um ataque rápido ao Hamas. Ao longo do fim de semana, contudo, diversas reportagens na imprensa local e norte-americana contaram versões acerca do atraso que variavam de planejamento militar complicado a um suposto pedido dos EUA para priorizar o resgate de reféns ante ação armada. Nesta segunda, o Hamas libertou mais dois civis israelenses.
FOLHAPRESS
Ministro da Defesa de Israel diz que "ataque está sendo preparado"
Nesta segunda (23), o ministro da Defesa, Yoav Gallant, visitou uma base naval no Sul de Israel e voltou a dizer que o ataque está sendo preparado. "Estamos nos preparando para o próximo passo, uma operação multilateral por ar, terra e mar", afirmou.
Ao mesmo tempo, seu gabinete, o das IDF e o de Netanyahu divulgaram uma rara nota conjunta, enfatizando unidade em tempo de guerra. "Há confiança total e mútua, a unidade do objetivo é clara. Pedimos que a mídia seja responsável e evite relatos falsos que apenas prejudicam nossa unidade e de nossas forças", diz o texto.
Seja como for verdade, ao divulgar um degrau a mais de intensidade na sua ação, Israel parece buscar ganhar tempo. O fato é que parece impossível a libertação dos reféns sem algum tipo de negociação - até aqui o Hamas sinalizou superficialmente, soltando duas norte-americanas capturadas.
Os ataques terroristas mataram mais de 1.300 pessoas, e a retaliação israelense passou das 5.000 vítimas nesta segunda, segundo os palestinos. As IDF dizem ter matado e ficado com os corpos de ao menos mil terroristas.
Por outro lado, o Ocidente não parece saber o que fazer, a julgar pela declaração conjunta no domingo dos líderes dos EUA, França, Alemanha, Itália, Reino Unido e Canadá, após videoconferência convocada pelo americano Joe Biden. Nela, apoiaram Israel, mas afirmaram que o foco é permitir a entrada de auxílio humanitário a Gaza e evitar a escalada do conflito.
No Norte de Israel, a tensão com o grupo islâmico libanês Hezbollah, aliado do Hamas e igualmente financiado pelo Irã, rival existencial de Tel Aviv, segue em alta. Houve novas trocas de fogo na fronteira, que foi largamente desocupada pelos israelenses para facilitar as ações e reduzir danos civis de seu lado. Foguetes, mísseis antitanque e ao menos um drone foram lançados em direção a Israel, sem registro de vítimas.
O Hezbollah, porém, diz estar pronto para entrar totalmente na guerra, o que abriria uma perigosa segunda frente, dado que o grupo é mais forte que o Hamas. Além disso, na prática o risco de uma conflagração regional subiria muito, uma vez que os libaneses são parte do chamado Eixo da Resistência, liderado por Teerã e que ainda inclui a Síria e entes como o Hamas e a Jihad Islâmica.