China aceitou enviar armas à Rússia, dizem documentos vazados dos EUA

Divulgação de documentos secretos do Pentágono teve dois importantes desdobramentos nesta quinta

Por Agência Estado

ARLINGTON, VIRGINIA - NOVEMBER 29: The Pentagon is seen from a flight taking off from Ronald Reagan Washington National Airport on November 29, 2022 in Arlington, Virginia. The Pentagon is the headquarters of the U.S. Department of Defense and the world’s largest office building. Alex Wong/Getty Images/AFP (Photo by ALEX WONG / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Getty Images via AFP)
A divulgação de documentos secretos do Pentágono teve dois importantes desdobramentos nesta quinta (13). Primeiro, a revelação de um relatório de inteligência dos EUA sugerindo que a China aceitou enviar armas à Rússia, maior temor do Ocidente no esforço para ajudar a Ucrânia na guerra. Em paralelo, o FBI identificou o responsável pelo vazamento, que foi preso em Massachusetts.

Jack Douglas Teixeira tem 21 anos, faz parte da Guarda Aérea Nacional, trabalhava numa base militar e é especializado em inteligência. Ele participava de um grupo de bate-papo no site Discord, onde foram postados os documentos, em março. O espaço era usado para troca de ideias sobre armas, games e memes racistas.

Segundo os investigadores, a primeira impressão é a de que Teixeira pretendia impressionar os outros membros do grupo, a maioria jovens como ele. Segundo o Departamento de Justiça, ele deve ser julgado com base na Lei de Espionagem. Cada acusação pode render uma pena de 10 anos de prisão. Como é possível que cada documento vazado seja tratado como uma acusação diferente, ele pode passar um longo tempo na cadeia.

Desde o início, o governo americano tentou conter as consequências constrangedoras do vazamento, que expôs vulnerabilidades na defesa aérea da Ucrânia e avaliações de aliados em uma série de delicadas questões de inteligência.

A Casa Branca, no entanto, ainda não conseguiu avaliar todas consequências diplomáticas e de segurança nacional dos documentos vazados desde que o escândalo estourou, na semana passada. Um importante porta-voz do Pentágono disse que as revelações representam um "risco muito sério para a segurança nacional". O Departamento de Justiça abriu uma investigação para apurar o caso.

O site Discord é uma plataforma de mídia social popular entre pessoas que gostam de jogos online. O site, que hospeda chats de voz, vídeo e texto em tempo real para grupos, disse estar cooperando com as autoridades americanas.



China



Por mais que o governo americano tente amenizar a importância do conteúdo dos documentos, o vazamento foi um desastre para os EUA. Entre os detalhes mais constrangedores estão os pontos fracos do sistema de defesa aérea da Ucrânia e as dificuldades enfrentadas em uma possível contraofensiva ucraniana.

Outros documentos revelam uma abordagem constrangedora dos EUA com seus aliados. A Coreia do Sul foi pressionada a enviar armamento e munição à Ucrânia. O Mossad, serviço secreto de Israel, teria incentivado seus agentes a participar dos protestos contra o governo do premiê Binyamin Netanyahu.

Em razão da quantidade de documentos, as revelações vêm a conta-gotas. Ontem, um relatório de inteligência dos EUA, com base em conversas interceptadas da agência de espionagem russa, sugeriu que a China havia aprovado o envio de ajuda letal a Moscou, no início do ano.

O governo chinês, de acordo com os americanos, planejava fornecer armas como se estivesse enviando equipamento de uso civil. Os documentos, no entanto, não confirmam que a ajuda chinesa tenha realmente sido enviada à Rússia.


ONU


Segundo outros documentos divulgados ontem, os EUA também espionaram o secretário-geral da ONU, António Guterres. Para Washington, o português estava sendo condescendente em relação aos interesses russos na Ucrânia.

Os novos documentos contêm observações do secretário-geral sobre a guerra e informações sobre o acordo para liberar a exportação de grãos no Mar Negro, negociado pela ONU e pela Turquia, em julho, em meio a temores de uma grave crise alimentar mundial.

"Guterres enfatizou seus esforços para melhorar a capacidade de exportação da Rússia, mesmo que isso envolva entidades ou indivíduos russos sob sanções", diz um documento. Os americanos também disseram que o secretário-geral da ONU estava prejudicando os esforços para responsabilizar a Rússia pela guerra na Ucrânia.

Segundo reportagem da BBC, um funcionário da ONU alegou que a organização foi "movida pela necessidade de mitigar o impacto da guerra sobre os mais pobres e isso significa fazer o possível para reduzir o preço dos alimentos e garantir que os fertilizantes sejam acessíveis aos países que mais precisam".