Um tribunal de Moscou condenou nesta segunda-feira (17) o ativista Vladimir Kara-Murza, 41, a 25 anos de prisão. Opositor de Vladimir Putin, ele era uma das poucas vozes críticas ao Kremlin que não estava preso ou exilado -sua pena é, porém, a maior dada a um dissidente do governo desde o início da Guerra da Ucrânia.
Kara-Murza nega todas as acusações contra ele, que incluem "alta traição", prestação de serviços para organização ilegal e divulgação de informações falsas sobre o Exército russo.
Desde a invasão ao país vizinho, em fevereiro de 2022, a administração aprovou uma série de leis com fins de censura que criminalizam, por exemplo, ações como difamar o Exército (pena de cinco anos em cárcere) ou espalhar deliberadamente informações "falsas" (pena de 15 anos em cárcere).
O ativista criticou abertamente o que o Kremlin chama ainda hoje de "operação militar especial" inúmeras vezes. Também já afirmou que seu país bombardeou alvos ucranianos em discursos nos Estados Unidos e na Europa, acusação que Moscou nega reiteradamente.
Muito próximo de outro opositor de Putin, Boris Nemtsov, assassinado em 2015, ele ainda passou anos fazendo lobby para que governos ocidentais impusessem sanções à administração e a indivíduos russos por supostas violações de direitos humanos.
Integrante da equipe de defesa do ativista, Maria Eismon afirmou a agências de notícias russas que apresentará recurso contra o veredicto e denunciou "violações processuais graves" no julgamento, realizado a portas fechadas. Seu cliente a princípio será enviado a uma colônia penal, onde servirá em regime fechado.
Kara-Murza deu uma entrevista à emissora CNN horas antes de ser preso. Então, alegou que a Rússia estava sendo comandada por um "regime assassino". Na semana passada, em sua declaração final tribunal, ele havia afirmado não lamentar nenhum de seus atos.
"Criminosos devem se arrepender do que fizeram. Eu, por outro lado, fui preso em razão de minhas opiniões políticas", declarou ele, que também tem passaporte britânico e é pai de três filhos. "Sei que chegará o dia em que a escuridão sobre nosso país se dissipará", prosseguiu -o ativista antes havia comparado seu processo aos julgamentos midiáticos promovidos pelo regime de Josef Stálin dos anos 1930.
Segundo relato da Reuters, Kara-Murza aparentou calma ao ouvir sua sentença de dentro de uma cela de vidro no tribunal. Após o anúncio da pena, ele teria dado um breve sorriso e dito "a Rússia será livre", mote tradicional da oposição a Putin. Também gesticulou para pedir que seus apoiadores escrevam para ele na prisão.
A comunidade internacional censurou a decisão judicial. A embaixadora dos Estados Unidos na Rússia, Lynne Tracy -presente no tribunal de Moscou durante a leitura do veredicto- afirmou que a decisão era uma clara tentantiva de silenciar a dissidência. "Criminalizar posições contrárias à ação do governo é sinal de fraqueza, não de força."
Já embaixadora britânica no país, Deborah Bronnert, declarou que Kara-Murza havia sido punido por ousar se opôr à Guerra da Ucrânia e exigiu sua libertação imediata. O Reino Unido anunciou ter convocado o embaixador russo em Londres -um ato de reprimenda na prática diplomática- para protestar contra o que chamou de um veredicto "politicamente motivado".
Governos da França, Noruega e Alemanha ecoaram as declarações. Enquanto isso, o alto comissário para os direitos humanos da ONU, Volker Turk e o chefe de política externa da União Europeia, Josep Borrel, exigiram a libertação imediata de Kara-Murza.
O ativista entrou em coma duas vezes, em 2015 em 2017, segundo ele em resultado de envenenamento por parte das forças de segurança russas. Ele se recuperou em ambas as ocasiões, mas seus advogados afirmam que desenvolveu em função delas uma doença conhecida como polipolineuropatia, que atinge o sistema nervoso periférico e causa insensibilidade nos membros, dores, atrofia muscular e perda de movimentos.
Folhapress