Número de fumantes de cigarro cai nos EUA, e uso de maconha cresce

2022 foi o ano em que o norte-americanos menos fumaram, de acordo com levantamento do instituto Gallup

Por Folhapress

Em Nova York, às 16h20min de 29 de dezembro, inaugurou a primeira loja oficial regulamentada pelo estado de venda da substância. NEW YORK, NEW YORK - DECEMBER 29: A license sign is seen at Housing Works Cannabis Co on December 29, 2022 in New York City. New York officials and Housing Works leadership held a press conference ahead of the grand opening of Housing Works Cannabis Co, New York state's first legal cannabis dispensary. It is one of the first recreational cannabis dispensaries to be awarded a CAURD license in the state of New York. All sales from the dispensary will be directed to parent organization Housing Works, Inc and will be used to address HIV/AIDS and homelessness crisis. Michael M. Santiago/Getty Images/AFP (Photo by Michael M. Santiago / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Getty Images via AFP)
Ano novo, vida nova e, pelo menos em um aspecto, os norte-americanos têm conseguido cumprir as promessas típicas dessa época: diminuir o uso do cigarro. No alto da lista de resoluções para 2023, 20% dos habitantes nos Estados Unidos prometem tentar melhorar a saúde física e 10% citam parar com hábitos ruins, segundo pesquisa do instituto YouGov publicada na última semana do ano passado.
Meio caminho já está tomado, a depender do uso do cigarro, já que 2022 foi o ano em que o norte-americanos menos fumaram, de acordo com outro levantamento, do instituto Gallup: 11% relataram ter fumado alguma vez na semana anterior à pesquisa. É menos do que os 16% registrados em 2021 e o índice mais baixo da série histórica, que começa nos anos 1940. Além disso, 60% dos entrevistados fumantes afirmaram que gostariam de deixar o vício.
Mas, se o uso de tabaco vem caindo em todas as faixas etárias e grupos sociais, por outro lado o de maconha cresce e ultrapassou em 2022 o número de fumantes de cigarros comuns. Outra pesquisa Gallup, de agosto, apontou que 16% dos norte-americanos relataram fumar maconha - diferentemente do levantamento sobre o cigarro, porém, a pergunta questiona de forma mais genérica se o entrevistado usa a substância e não especifica se o fez na semana anterior.
Não há dados robustos que apontem, no entanto, que os norte-americanos estejam substituindo o tabaco pela maconha, segundo Paul Armentano, vice-diretor da Norml (Organização Nacional para a Reforma das Leis da Maconha). Ele defende que é provável que parte do aumento no uso de cannabis medido pelas pesquisas não seja porque a substância está de fato mais popular, mas esteja ligado ao fato de que hoje o uso é legal na maioria dos estados dos EUA.
"Em um ambiente no qual ela é mais aceitável culturalmente, e considerando que em muitas jurisdições o uso é legalizado, há certamente maior probabilidade de que as pessoas estejam mais confortáveis do que antes em admitir publicamente o uso da maconha", diz.

EUA tem 37 estados que de alguma forma permitem o uso de maconha

Desde que a Califórnia legalizou o uso medicinal, em 1996, abriu-se a porteira das regulações estaduais. Ao menos 37 estados e a capital atualmente têm autorizações para fins semelhantes. Em 2012, veio uma nova onda verde, quando Washington e Colorado legalizaram o uso recreativo, e hoje 21 estados, além da capital, também o permitem.
A legalização tem aprovação da ampla maioria dos norte-americanos, segundo pesquisa do instituto Pew de novembro, que apontou que 30% apoiam o uso medicinal da erva e 59% defendem tanto o medicinal quanto o recreativo - ainda que fumar a substância seja prejudicial, da mesma forma que o cigarro comum. É quase mais fácil comprar maconha do que álcool em uma série de regiões dos EUA. Em Washington, um panfleto com um cardápio de produtos pode chegar à caixa de correios anunciando taxa zero de entrega, em meio a uma chuva de "junk mail" com liquidações das lojas mais triviais.
Em Nova York, food trucks de maconha servem quem caminha por zonas movimentadas, ainda que de maneira irregular e se aproveitando de brechas da lei - vácuo que foi de certa forma resolvido às 16h20min de 29 de dezembro, quando se inaugurou a primeira loja oficial regulamentada pelo estado de venda da substância.
Ajudam na popularização da erva os altos números da lucrativa indústria da maconha, que movimentou US$ 10,8 milhões em 2021 e deve crescer a uma média de 15% por ano até 2030, segundo análise da consultoria Grand View Research. No mesmo ano retrasado, a título de comparação, a indústria do tabaco movimentou US$ 49,7 bilhões.
O presidente Joe Biden já afirmou que pretende avançar com uma legislação nacional para descriminalizar o uso da erva e, em outubro, perdoou condenados na Justiça Federal por posse da substância. Pela lei nacional, a posse é punível com até um ano de prisão e multa de US$ 1.000 (R$ 5.210,00) para a primeira condenação.

Cenário da maconha nos EUA

  • 11% dosnorte-americanos relataram ter fumado ao menos uma vez na semana anterior à pesquisa, menor índice registrado pelo Gallup
  • 16% admitem fumar maconha, em outro levantamento deste ano do mesmo instituto
  • 89% são a favor da legalização da maconha, para fins medicinais ou recreativos
  • 37 estados e a capital, Washington, permitem o uso medicinal da maconha
  • 21 estados e a capital permitem o uso recreativo da substância
Fonte: Gallup