Em visita ao túmulo do primeiro pontífice que renunciou ao cargo, o Papa Francisco, de 85 anos, elogiou, neste domingo (28), a humildade de líderes que renunciam voluntariamente em vez de governar por toda a vida. A declaração vem em meio a especulações de que ele possa deixar a função em breve - algo que o próprio Papa já cogitou ao comentar problemas de saúde.
Durante a manhã (madrugada no Brasil), Francisco foi à L'Aquila, cidade no centro da Itália onde o Papa Celestino V está sepultado. Ele renunciou em 1294, depois de apenas cinco meses de muita pressão no cargo. O Papa emérito Bento XVI, por sua vez, visitou o local em 2009, quatro anos antes de renunciar.
"Celestino V foi uma testemunha corajosa do Evangelho, porque nenhuma lógica de poder se encaixava ou dominava. Com ele, admiramos uma Igreja livre da lógica mundana e testemunha plena da misericórdia de Deus", destacou Francisco em uma missa neste domingo. Ele acrescentou: "Aos olhos dos homens, os humildes são vistos como fracos e perdedores, mas, na realidade, são os verdadeiros vencedores porque são os únicos que confiam completamente no Senhor e conhecem sua vontade".
A viagem simbólica à L'Aquila coincide com a posse de 20 novos cardeais - entre eles, dois brasileiros - um dia antes. As nomeações ocorrem quase corriqueiramente, mas a sucessão de eventos importantes marcados pelo Papa
alimentou rumores de uma eventual renúncia.
De volta ao Vaticano, a partir de segunda (29), o líder católico vai acompanhar uma assembleia a portas fechadas com todos os cardeais, convocados de forma extraordinária. Segundo especialistas, uma de suas intenções é promover o encontro de todos os cardeais eleitores, muitos dos quais nunca estiveram juntos. A reunião, portanto, serviria como uma oportunidade para os religiosos conhecerem os perfis dos candidatos ao próximo papado.
Em uma entrevista à agência Reuters no mês passado, Francisco, porém, riu dos rumores e disse que "nunca passou por sua cabeça" uma eventual renúncia. Na mesma ocasião, ele não descartou a possibilidade de deixar o cargo por motivos de saúde em um futuro distante.
Neste domingo, Francisco - que tem dificuldade para andar e usa cadeira de rodas - chegou à catedral de papamóvel, cumprimentando os milhares de fiéis; alguns agitavam bandeiras amarelas e brancas do Vaticano. "O mundo precisa de perdão e o perdão constrói a paz", diziam as faixas.
Na missa, o Papa comentou o terremoto de 2009 que matou cerca de 300 pessoas e feriu mais de 1.500 em L'Aquila, cidade com 70 mil habitantes. "Vocês mostraram que são pessoas de caráter resiliente", disse Francisco aos fiéis. O pontífice destacou também o que chamou de difícil reconstrução, não só física, mas cultural, espiritual e moral da cidade, localizada a 80 quilômetros de Roma. Cerca de 50 mil pessoas perderam suas casas na época.
"Esta visita do Papa é especial. É como se Jesus tivesse vindo aqui", disse chorando Rita Maccarone, 45 anos, à agência AFP. Ela perdeu sua cunhada e dois sobrinhos no desastre.