A vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, realizou nesta terça-feira (23) uma transmissão ao vivo nas redes sociais para se defender do
pedido de prisão feito pelo Ministério Público. Em ação que ainda será julgada, com possibilidade de recurso, o promotor Diego Luciani solicitou também a inabilitação de Cristina de modo definitivo para concorrer a cargos públicos e sentenças para outros oito acusados por corrupção.
Cristina decidiu fazer uma transmissão nas redes sociais depois de ver negado pelo juiz seu pedido para voltar a se defender nos tribunais nesta terça. Sua defesa formal no processo havia sido apresentada em 2019 - na ocasião, ela se recusou a responder a perguntas, insultou promotores e levantou-se antes do fim da sessão.
Pela manhã, a ex-mandatária deixou o edifício onde vive em Buenos Aires, no bairro da Recoleta, aplaudida por apoiadores, que tiravam selfies e gritavam "Cristina presidente". Ao chegar ao Senado, começou a transmissão ao vivo, em que comentou reportagens de jornais e mostrou o que seriam conversas entre políticos rivais que, segundo ela, indicavam que o julgamento vinha sendo marcado por decisões de grupos ligados à oposição.
O processo no qual Luciani pediu a pena de prisão para Cristina está ligado a uma acusação de associação ilícita e fraude ao Estado. A vice-presidente é acusada de chefiar o esquema e, por meio dele, favorecer o empresário Lázaro Báez - que ganhou dezenas de concessões de obras públicas desde a ascensão ao poder do ex-presidente e ex-governador Néstor Kirchner, morto em 2010. Báez também está sendo processado e já cumpriu parte de uma sentença por desvio de verbas em outro processo.
"Nada do que os promotores disseram foi provado. Ao contrário, muito do que disseram, na verdade, foi o oposto do que ocorreu", afirmou Cristina na live. Ela fez acusações ao braço direito de Mauricio Macri, Nicolás Caputo, mostrando mensagens que provariam uma atuação dele para livrar o ex-mandatário de acusações de corrupção em seu governo.
A vice-presidente ainda chamou o sistema judicial argentino de corrupto e tendencioso. "Só protege a eles (oposição), por isso não sabemos onde estão os US$ 45 bilhões que Macri pediu ao FMI nem porque ele espionou os familiares das vítimas do ARA San Juan", disse.
A fala fez referência ao acordo do país com o fundo, que foi confirmado pelo governo de Alberto Fernández, contando com a oposição de Cristina; e a uma ação na qual o ex-presidente se tornou réu, envolvendo as 44 vítimas do naufrágio de um submarino em 2017.
Cristina ainda acrescentou: "Querem me condenar por 12 anos porque foram 12 anos que governamos a Argentina com sucesso (referindo-se a seu período e o de Néstor). Mas, se eu nascesse 20 vezes, faria o mesmo 20 vezes. Não posso respeitar um tribunal que está atuando com base no lawfare (uso da lei para perseguição política)".
Do lado de fora, militantes acompanharam o discurso por celular e gritavam em apoio à ex-mandatária. Associações peronistas, como o La Cámpora e a Juventude Peronista, estavam presentes. O caso agora segue para avaliação dos juízes - se condenada, Cristina poderá recorrer. Espera-se que a sentença seja dada em dezembro.