A Rússia avança no território da Ucrânia pelo 58º dia consecutivo e anuncia que pretende dominar toda a região ao sul do país. Diante das ofensivas, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky acusou a Rússia de preparar um falso referendo de independência nas regiões de Kherson e Zaporizhia, localizadas no sul ucraniano e que estão sob o controle dos militares russos.
O objetivo da Rússia foi anunciado por Rustam Minnekaev, comandante-adjunto do Distrito Militar Central da Rússia, segundo o Tass, uma agência de notícias estatal russa.
"Desde o início da segunda fase da operação especial, que começou literalmente há dois dias, uma das tarefas do exército russo é estabelecer controle total sobre Donbas e sul da Ucrânia. Isso fornecerá um corredor terrestre para a Crimeia", disse o major.
Essa é a primeira vez que a Rússia detalha uma estratégia de guerra. O anúncio confirma que o país tenta estabelecer um corredor terrestre no território da Ucrânia capaz de conectar a Rússia à Crimeia, península que os russos anexaram ao seu território em 2014.
Ainda de acordo com as agências de notícias Interfax e TASS, o comandante-adjunto disse que o controle total da Ucrânia meridional melhoraria o acesso russo à região separatista pró-russa da Transdniestria, que faz fronteira com a Ucrânia e que Kiev teme que possa ser usada como rampa de lançamento para novos ataques.
No início deste mês, Kiev disse que um aeródromo na região estava sendo preparado para receber aeronaves e ser usado por Moscou para voar com tropas que se dirigiam para a Ucrânia. As alegações foram negadas pelo Ministério da Defesa da Moldávia e autoridades da Transdniestria.
"O controle sobre o sul da Ucrânia é outro caminho para a Transdniestria, onde também há provas de que a população de língua russa está sendo oprimida", disse Minnekayev em uma reunião em Sverdlovsk, região central da Rússia. As informações também são da Tass.
A agência não mencionou evidências ou detalhes dados por Minnekayev dessa alegada opressão. Já a RIA, outra agência de notícias da Rússia, noticiou que Minnekayev disse que as reportagens da mídia sobre os retrocessos militares russos estão longe da realidade.
"A mídia está agora falando muito sobre alguns fracassos de nossas Forças Armadas. Mas este não é o caso. Nos primeiros dias... as táticas das unidades ucranianas foram projetadas para garantir que, tendo avançado, grupos individuais de tropas russas caíssem em emboscadas pré preparadas e sofressem baixas", disse ele, segundo a RIA, agência de notícias russa.
REFERENDO FALSO
Em uma mensagem de vídeo na noite de ontem, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky pediu aos moradores de Kherson e Zaporizhia que não forneçam nenhuma informação pessoal - como número de passaporte - que forças russas pudessem pedir.
"Não é só para fazer um censo (...) Não é para dar ajuda humanitária de qualquer tipo. É para falsificar um suposto referendo em sua terra, se a ordem para organizar essa paródia vier de Moscou", alertou Zelensky.
Essa não é a primeira vez que a Ucrânia acusa a Rússia de montar um falso referendo. A primeira vez aconteceu em março e levantava suspeita sobre ocorrer em Kherson o que aconteceu em 2014 na península da Crimeia, ação considerada como ilegal por Kiev e países do ocidente.
"Não haverá uma república popular de Kherson. Se alguém quiser uma nova anexação, sanções mais fortes atingirão a Rússia", ameaçou o líder ucraniano.
Kherson, às margens do Mar Negro e do rio Dnieper, foi a primeira grande cidade tomada pelas forças russas após a invasão lançada em 24 de fevereiro. Mais a nordeste, o exército russo também controla um grande setor em torno de Zaporizhia, embora a cidade permaneça sob controle ucraniano.
ONU ACUSA EXÉRCITO RUSSO DE CRIMES DE GUERRA
A ONU (Organização das Nações Unidas) acusou hoje o exército russo de ações que "poderiam constituir crimes de guerra" na Ucrânia após a invasão de 24 de fevereiro, que deu início ao conflito bélico.
A organização leva em consideração os bombardeios indiscriminados que provocaram a morte de civis, além da destruição de escolas e hospitais.
"As Forças Armadas russas bombardearam de maneira indiscriminada zonas residenciais, mataram civis e destruíram hospitais, escolas e outras infraestruturas civis, em ações que poderiam constituir crimes de guerra", declarou Ravina Shamdasani, porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, que tem sede em Genebra.
Em um comunicado divulgado de modo paralelo, Michelle Bachelet, alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, afirmou que "durante as últimas oito semanas, o direito humanitário internacional não apenas foi ignorado, mas foi jogado ao mar".