Em meio a uma alta de casos de Covid-19, diversos países europeus estão restringindo atividades e diminuindo a circulação de pessoas, trazendo à memória o trauma do início da pandemia.
Ainda faltam várias etapas até a adoção de "lockdowns", como no começo do ano, mas proibições como toques de recolher e decretações de estados de emergência e calamidade já ocorrem na
França, na Espanha e em
Portugal, que anunciaram novas regras nesta quarta-feira (14) para conter a disseminação do coronavírus.
No começo de outubro, Reino Unido e França chegaram a registrar mais de 15 mil novos casos diários cada um, muito acima do contabilizado em abril, quando as cifras nos países não passavam de 10 mil. Na Espanha, esse número hoje anda perto dos 10 mil, similar ao registrado no pico, em março.
O número de mortes, porém, é muito menor do que no auge da crise e está em torno de 100 a 200 por dia em cada país, uma vez que médicos aprenderam a tratar melhor a doença - embora a alta nas internações preocupe - e porque o vírus atinge hoje mais jovens, com menor propensão a complicações pelo vírus.
Nesta quarta-feira, o presidente francês, Emmanuel Macron, foi à TV anunciar toque de recolher em Paris, Marselha, Toulouse e outras seis grandes cidades francesas, a partir de sábado (17).
A medida atingirá cerca de um terço dos 67 milhões de habitantes do país e valerá de 21h às 6h do dia seguinte. Nesse horário, só poderá sair de casa quem estiver em situação de emergência. Aqueles que descumprirem a regra terão de pagar multa de 135 euros (R$ 887,00). Já as viagens entre as regiões do país, por outro lado, seguem permitidas.
A França também decretou estado de emergência sanitária, válido a partir de sábado, o que autoriza o governo a tomar medidas radicais para combater a pandemia, como determinar "lockdowns", estabelecer multas e forçar governos locais a adotar restrições. "Estamos em uma segunda onda. Temos de reagir", disse Macron. O país registrou 22.591 diagnósticos no balanço desta quarta-feira, além de 104 mortes.
Na Espanha, o governo da Catalunha determinou o fechamento dos salões de todos os bares e restaurantes, que poderão trabalhar apenas com entregas ou retiradas, durante ao menos 15 dias.
A região, que inclui Barcelona, também limitou a presença em academias (50% da capacidade), lojas e shoppings (30% do público). Eventos culturais terão de terminar até as 23h e poderão ocupar apenas 50% da plateia.
Na semana passada, Madri adotou um confinamento parcial, revogado pela Justiça e reimposto pelo governo nacional por meio de uma declaração de estado de emergência. Com as regras, moradores da capital e de cidades do entorno não podem deixar os limites de seu munícipio sem que tenham uma justificativa, como trabalhar ou buscar atendimento médico.
A governadora da região de Madri, Isabel Ayuso, é contrária à ampliação das restrições e segue atacando a decisão do governo nacional. "É mais um problema político do que de saúde, porque Madri estava fazendo as coisas certas", disse ela em entrevista ao jornal britânico Financial Times, na terça-feira (13). "Querem aniquilar nossa economia e frear nosso desenvolvimento econômico e social." Já há protestos convocados contra as novas restrições.
O governo espanhol, comandado pelo socialista Pedro Sánchez, diz ter tomado as medidas porque os números na cidade estavam muito elevados - e o comando de Madri não estaria respondendo de maneira adequada. Das 7.118 infecções contabilizadas na Espanha na terça-feira, 1.126 foram na capital.
Na Alemanha, a chanceler alemã Angela Merkel se reuniu com os 16 governadores nesta quarta-feira e disse que todos concordaram em adotar medidas mais duras, mas não deu informações sobre elas. Ela afirmou que as próximas semanas serão decisivas e pediu aos jovens que deixem de ir a festas. "Já estamos em uma fase de crescimento exponencial, os números diários mostram isso."
Berlim decretou toque de recolher no sábado (10), medida que seguirá até 31 de outubro. Os estabelecimentos comerciais, exceto farmácias e postos de gasolina, devem fechar entre 22h e 6h.
Em Portugal, o governo retomou o estado de calamidade nesta quarta-feira, uma etapa abaixo do estado de emergência. Assim, ficam proibidas reuniões com mais de cinco pessoas. A fiscalização a empresas e restaurantes portugueses foi reforçada, e as multas podem chegar a 10 mil euros (cerca de R$ 65 mil).
O país tem registrado mais de mil novos casos diários, e nesta quarta o recorde de novas infecções diárias desde o início da pandemia foi superado: 2.072 pessoas detectadas com a Covid-19.
Na
Itália, novas restrições entraram em vigor nesta quarta. Festas, inclusive ao ar livre, estão proibidas. Restaurantes e bares devem fechar à meia-noite e, a partir das 21h, estão proibidos de servir pessoas em pé, dentro ou fora das instalações.
A soma diária de casos no país, baixa até o começo de outubro, agora é similar à do auge da pandemia, perto de 6 mil por dia. Até então, a Itália era uma exceção frente ao cenário na França e na Espanha.
Nesta quarta-feira, as autoridades da Rússia disseram que adotarão o ensino virtual para muitos estudantes a partir de segunda-feira (19), e a Irlanda do Norte anunciou o fechamento de escolas por duas semanas e de restaurantes, por um mês.
A Holanda retomou um lockdown parcial nesta quarta-feira, fechando bares e restaurantes, mas manteve as escolas abertas.
Na República Checa, que tem alto número de casos per capita, aulas presenciais foram suspensas, e hospitais estão adiando procedimentos sem urgência para liberar camas.
Para conter essa nova onda, os governos apostam também em aplicativos para rastrear contaminações e reforçar a exigência do uso de máscaras. Na Itália, um decreto recente recomenda o acessório até mesmo dentro de casa, na presença de não familiares.
Conforme o inverno se aproxima no Hemisfério Norte, há temores de que o frio possa piorar o quadro, pois baixas temperaturas agravam problemas respiratórios e estimulam aglomerações em ambientes fechados.
"Não virão semanas nem meses fáceis. Na Europa, os casos continuam aumentando, e na Espanha a situação é frágil. Não podemos baixar a guarda", disse Salvador Illa, ministro da Saúde espanhol.