Hong Kong virou palco de uma batalha campal, nesta quarta-feira (1º), entre ativistas pró-democracia e policiais no primeiro dia de vigência da nova lei de segurança nacional, imposta por Pequim ao território semiautônomo.
Como nos mais violentos dias dos protestos do ano passado, que tiraram a economia honconguesa do prumo e jogaram a região em caos político, houve barricadas com fogo, balas de borracha, spray de pimenta, canhões d'água, tijolos jogados, vandalismo de lojas e feridos leves de lado a lado. Ao menos 320 pessoas foram presas, nove delas enquadradas na rigorosa lei, que visa coibir atos considerados de secessão, subversão, terrorismo ou conluio com potências estrangeiras contra a ditadura comunista chinesa.
"É o fim do nosso país como o conhecemos, o fim do 'um país, dois sistemas'", disse por mensagem de aplicativo o deputado oposicionista Kwok Ka-ki, acerca do regime híbrido vigente em Hong Kong, onde há liberdade econômica e política, relativa.
Nesta quarta-feira, tradicionalmente ocorre uma passeata para relembrar o aniversário da devolução da então colônia britânica para a China, após 155 de domínio, em 1997. O tom sempre foi crítico a Pequim, e neste ano o governo local proibiu o evento.
Ainda assim, milhares de pessoas se concentraram em ruas de Causeway Bay, o metro quadrado comercial mais caro do mundo mesmo com a desvalorização que a crise política de 2019 trouxe. Por volta das 13h (2h em Brasília), começaram os protestos. A polícia fez subir uma nova bandeira de advertência, roxa, avisando que cantos e faixas pró-independência seriam puníveis pela nova lei. O estandarte anterior, azul e alertando sobre a ilegalidade do ato, continuou sendo usado.
Não deu certo e houve conflito, que se espalhou pelas ruas de um bairro vizinho, Wan Chai. Grupos fugiam da polícia e se reagrupavam. Mais a leste, 87 jovens foram detidos de uma só vez na área de Tin Hau.
Entre essas primeiras prisões sob a lei de segurança, que em casos extremos prevê prisão perpétua e julgamento por Pequim, está uma garota de 15 anos. Ela carregava um cartaz com um dos slogans clássicos dos protestos: "Independência de Hong Kong, revolução do nosso tempo", em cantonês e inglês.
O conflito coloca os ativistas em uma situação complicada. A lei é tão draconiana que, se a China a levar ao pé da letra, quase todo ativista que foi às ruas desde 2019 é passível de prisão.
Para outro deputado de oposição, Eddie Chu, o Partido Comunista Chinês deverá pegar alguns líderes dos protestos como exemplo, mas tentar manter intacta a estrutura partidária do país -- 22 dos 70 membros do Conselho Legislativo são contrários a Pequim.
Segundo esse raciocínio, a oposição irá se acomodar temendo uma repressão maior, institucional. O grande teste à frente é a eleição para o Conselho, em setembro. No pleito local de novembro passado, oposicionistas venceram em 17 de 18 regiões.