A França poderá começar a sair do confinamento a partir de 11 de maio, se o número de novos casos diários de Covid-19 seguir a tendência de queda prevista pelos epidemiologistas, informou nesta terça-feira (28) o premiê francês, Édouard Philippe. Mas idosos devem continuar com os movimentos limitados, uma decisão sobre bares e restaurantes só sairá no final de maio e campeonatos de futebol profissional não voltarão antes de setembro.
Ao apresentar o plano para a Assembleia Nacional, que precisa aprová-lo, Philippe disse não ter dúvidas de que a quarentena evitou um colapso dos hospitais, mas que "um instrumento só é útil se, a longo prazo, os efeitos positivos forem maiores que os negativos".
O efeito negativo, segundo ele, é o risco de a economia do país entrar em colapso. O desconfinamento, porém, será lento e progressivo: "Uma segunda onda pode pegar o sistema de saúde ainda se recuperando do esforço enorme que vem fazendo, e provocar outro bloqueio. Devemos levar esse risco a sério".
A estratégia do governo se concentrará em ampliar o número de testes (para 700 mil por semana), isolar os casos positivos, rastrear e testar os contatos e reforçar o distanciamento físico. Quarentena de 14 dias será imposta também aos assintomáticos e casos suspeitos. "Não é uma punição, mas uma medida de proteção coletiva", disse o primeiro-ministro.
O governo francês também planeja lançar um aplicativo, batizado de StopCovid, para avisar quem tenha se encontrado com alguém que for infectado pelo coronavírus. Como as regiões da França têm níveis de contágio diferentes, o descongelamento será irregular, e viagens entre as áreas serão desaconselhadas.
Como já havia anunciado o presidente Emmanuel Macron, as creches e primeiras turmas das escolas fundamentais devem retomar as aulas no dia 11, com no máximo 10 crianças nas creches e 15 por turma nas escolas (a metade da ocupação antes da pandemia).
Bibliotecas, pequenos museus e cemitérios também serão abertos em 11 de maio. O governo recomenda que o trabalho remoto seja mantido e, se for necessário ir à empresa, as escalas de trabalho sejam refeitas para reduzir a lotação dos escritórios e do transporte público.
Em ônibus, trens e metrôs, será obrigatório o uso de máscaras e deverá haver um assento livre entre cada duas pessoas. Philippe disse que em 11 de maio haverá máscaras suficientes para toda a população, mas pode levar um tempo para que os estoques das lojas estejam repostos.
O comércio também será reaberto e feiras livres poderão voltar a funcionar, com medidas de distanciamento e higiene. Nas ruas, será permitida reunião de até 10 pessoas. A partir de 18 de maio, estudantes mais velhos poderão voltar à escola, nas regiões em que a pandemia estiver controlada.
O programa de testes em massa permitirá ao governo avaliar uma segunda etapa de descongelamento, a partir de 2 de junho. Até lá, ficam fechados teatros, cinemas, grandes museus, bares, cafés e restaurantes, as praias continuam interditadas e estão suspensos eventos coletivos. Grandes eventos (e campeonatos de futebol e rúgbi) não devem voltar antes de setembro.
Primeiro país a confirmar um caso de coronavírus na Europa, em 25 de janeiro, a França tomou sua primeira medida contra a pandemia em 29 de fevereiro, três dias após a primeira morte: proibiu eventos públicos.
As aulas foram suspensas em 16 de março; na noite desse dia, Macron foi à TV avisar que um lockdown começaria no dia seguinte: "Estamos em guerra", repetiu várias vezes, ao pedir que os franceses respeitassem o confinamento para derrotar o inimigo invisível.
Havia na ocasião menos de 200 mortos no país, ainda uma fração das registradas na Itália e na Espanha, os primeiros países a verem seus hospitais sobrecarregados, mas já o terceiro lugar na Europa. Os casos confirmados quando a quarentena foi decretada estavam perto de 8 mil.
Passados 42 dias, eles são 165.842, mas o país é um dos que menos aplicou testes até agora, em relação à população: 710 por 100 mil habitantes, 30ª colocação entre as 36 maiores nações do continente.
Nesta terça-feira, o país tinha 23.694 mortes, o sétimo número de mortes em relação à população, dentre os 36 países europeus com mais de 1 milhão de habitantes. O número de casos está em 169 mil.