Um dos poucos países europeus que não implantaram uma quarentena para combater o coronavírus, a Suécia anunciou nesta sexta-feira (24) que vai apertar a fiscalização de bares e restaurantes. "Deixe-me ser extremamente claro: não quero ver restaurantes ao ar livre lotados em Estocolmo", disse o ministro do Interior, Mikael Damberg, em entrevista publicada por jornais escandinavos.
A cena de grupos aproveitando o bom tempo nos cerca de 1.500 restaurantes ao ar livre da capital tem sido cada vez mais comum conforme avança a primavera. Entre outras coisas, os restaurantes são proibidos de permitir reuniões de mais de 50 pessoas no mesmo local e obrigados a garantir que elas não fiquem de pé ou próximas umas das outras.
Na Suécia, lojas e escolas também continuam abertas. Há restrições à circulação para maiores de 70 anos e doentes, além de orientação para que as pessoas circulem o menos possível e trabalhem de casa, mas sem obrigatoriedade ou punições. "Meu objetivo não é fechar restaurantes, mas, se eles não cumprirem as restrições, serão fechados", disse o ministro.
"As restrições não são apenas dicas; devem ser seguidas", afirmou a prefeita de Estocolmo, Anna König Jerlmyr, que também participou da entrevista. A administração municipal afirmou que fará fiscalizações "24 horas por dia" e pediu que a população denuncie irregularidades pelo aplicativo oficial.
Estocolmo é a cidade mais afetada pelo novo coronavírus na Suécia, com 6.681 dos 16.755 casos confirmados no país, segundo estatísticas da agência de saúde pública. O país tem o 13º maior número de casos entre 46 nações europeias.
Segundo estimativas dos epidemiologistas que aconselham o governo, 26% dos quase 1 milhão de residentes da capital devem ter tido contato ou estar infectados com o coronavírus no começo de maio. No país, calcula-se que o contato com o vírus esteja entre 15% e 20%.
O número de mortes por dia parou de crescer, mas permanece em nível considerado alto. No total, há 2.021 mortos, 9º maior número na Europa, a mesma colocação quando se considera a taxa de letalidade em relação à população. Até esta sexta-feira (24), eram 20 mortes por 100 mil habitantes, enquanto seus vizinhos escandinavos tinham menos de um terço: 6,8 mortos/100 mil na Dinamarca, 3,6 na Noruega e 3,1 na Finlândia.
Pela manhã, em entrevista a um dos canais de rádio da BBC, o epidemiologista que orienta o governo sueco, Anders Tegnell, disse que a estratégia adotada deixa a Suécia em melhor posição para enfrentar um repique da pandemia quando os outros países começarem a reduzir restrições.
Tegnell afirmou também que, apesar de apresentar números de contágio e mortes maiores que os de muitos países europeus, a Suécia conteve a transmissão e o sistema de saúde não ficou sobrecarregado. O epidemiologista afirmou que, durante toda a pandemia, a ocupação das UTIs não passou de 80%.
Sobre a taxa de letalidade, Tegnell disse que até 50% das mortes registradas no país aconteceram em asilos, onde as visitas haviam sido proibidas. "É difícil saber se um lockdown teria evitado essas mortes", afirmou.
O epidemiologista diz que não é possível afirmar que estratégias baseadas em quarentena restrita são mais apropriadas ou "cientificamente embasadas", já que há ainda muitas dúvidas sobre como o novo coronavírus se comporta.