A presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, a democrata Nancy Pelosi, anunciou, ontem, a abertura de um processo de impeachment contra o presidente Donald Trump. Em um telefonema em julho, o republicano teria pressionado o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, para que este investigasse o filho de um de seus principais adversários, Joe Biden. É por esse caso que ele deverá ser investigado.
"Isto é uma quebra da Constituição", afirmou Nancy ao anunciar a abertura do processo. Biden atualmente lidera a disputa democrata pela vaga de candidato a presidente em 2020, provavelmente para enfrentar o próprio Trump.
Pouco antes da conversa, o presidente cancelou uma ajuda de cerca de US$ 400 milhões para a Ucrânia. A oposição afirma que o republicano usou a verba para pressionar Zelenski a investigar o filho de Biden, o que a Casa Branca nega. Na ocasião, Trump teria pedido que o ucraniano trabalhasse com seu advogado, o ex-prefeito de Nova Iorque Rudolph Giuliani, na investigação contra o adversário.
Giuliani se encontrou, nesta terça-feira, com o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, após o discurso deste na Assembleia Geral da ONU. Na saída, ele comentou o caso e atacou os democratas. "Eles são um bando de enganadores políticos. Tudo o que estão fazendo é torná-lo (Trump) mais popular. E o que estão fazendo é destruir a si próprios", afirmou Giuliani.
O início do processo permite aos deputados investigarem Trump, mas não significa que ele terá que deixar o cargo. Cabe à Câmara aceitar ou não o processo por maioria simples, o equivalente a 218 deputados, caso todos os 435 estejam presentes. Segundo o jornal The New York Times, 172 (171 democratas e um independente) já se declararam a favor da medida. O julgamento em si, porém, é feito no Senado, no qual dois terços dos 100 senadores precisam aprovar a medida. Apenas se isso acontecer é que Trump deixaria o cargo.
O contato entre o norte-americano e Zelenski foi revelado pela imprensa ao longo dos últimos dias e fez aumentar a pressão para que Nancy desse início aos procedimentos de impeachment contra o republicano. Muitos democratas já vinham sugerindo, em público e em particular, que as evidências recentes indicavam a pressão de Trump sobre o governo ucraniano e acusavam sua tentativa de obstruir o acesso do Congresso a mais informações.
Um agente de inteligência que ouviu a conversa de Trump com o líder ucraniano - um procedimento padrão nos EUA - teria alertado as autoridades que o presidente teria colocado em perigo a segurança nacional. O Congresso também foi automaticamente avisado do problema, mas não recebeu detalhes.
Os democratas acusam a Casa Branca de esconder as informações para proteger Trump. Com isso, os deputados fizeram duas requisições ao governo: que liberasse a transcrição das conversas do presidente com Zelenski - o Senado fez um pedido semelhante - e que permitisse que o agente que ouviu a ligação testemunhasse sobre o caso (ele ainda não teve o nome divulgado). Ontem, o presidente do Comitê de Inteligência da Câmara, Adam Schiff, afirmou que o agente concordou em testemunhar.
Apesar de diversas alas democratas defenderem a abertura do processo, Nancy se recusava a dar início à medida. Ela afirmava que um processo poderia aumentar a polarização e influenciar as eleições de novembro de 2020. Além disso, a deputada dizia que as chances de o impeachment ser aprovado no Senado eram baixas, já que a casa tem maioria republicana.
Segundo o Washington Post, Nancy mudou de ideia e, agora, deve anunciar a criação de uma comissão especial para investigar Trump, semelhante à que foi criada em 1973 para investigar o então presidente Richard Nixon pelo escândalo de Watergate. Nixon acabou renunciando ao cargo antes da Câmara concluir o processo.
No Twitter, Trump lamentou o fato de que, em um dia importante, no qual falou na Assembleia Geral da ONU e teve "muito trabalho e muito sucesso", os democratas "arruinaram" o cenário com a "caça às bruxas". O presidente questionou o fato de que os democratas nem viram a transcrição do telefonema para Zelenski. Ele orientou sua equipe a divulgar o áudio na íntegra, negando que tenha havido qualquer irregularidade.