Papa Francisco encontra Fidel Castro em Havana
Milhares de pessoas se reuniram ontem na Praça da Revolução, em Havana, capital de Cuba, para esperar a primeira missa realizada pelo Papa Francisco no país. Após a celebração, o pontífice teve um encontro particular, de cerca de 30 minutos, com o ex-presidente cubano Fidel Castro, sua mulher, Dalia Soto del Valle, filhos e netos.
Francisco desembarcou na tarde de sábado na ilha para uma viagem de oito dias que ainda inclui Estados Unidos no roteiro. No aeroporto José Martí, foi recebido com honras de chefe de Estado pelo presidente Raúl Castro e o arcebispo de Havana, cardeal Jaime Ortega y Alamino. Castro agradeceu ao pontífice pela visita e citou alguns dos feitos do regime em seu discurso.
Francisco tornou-se o terceiro Papa a visitar a nação caribenha - após João Paulo II e Bento XVI ?, mas com uma condição especial: a de ser o primeiro líder da Igreja Católica a pisar em uma Cuba que, após mais de 50 anos de rompimento, retoma as relações diplomáticas e comerciais com os EUA. Mais que isso, ele foi um dos principais responsáveis pela reaproximação entre ambos os governos. Em seu primeiro discurso na ilha, o Papa convocou os presidentes Barack Obama e Raúl Castro a avançarem por este caminho.
À ?espera pela missa na Praça da Revolução, um dos eventos mais ?esperados da visita, católicos e não católicos irromperam em aplausos quando o primeiro Papa latino-americano passou no meio da multidão em seu papamóvel. Francisco não decepcionou, passando devagar pelas pessoas e parando para beijar crianças levadas até ele. Embora a maioria dos cubanos se diga católica, menos de 10% praticam a sua fé.
Em sua homilia, exortou os cubanos a cuidarem uns dos outros por um senso de "servir" ao próximo, e não por ideologia, e a não julgarem o outro "olhando para um lado ou para outro para ver o que o nosso vizinho está fazendo ou não fazendo". Não ficou imediatamente claro a que Francisco se referia, mas muitos cubanos se queixam da rigidez de um sistema em que quase todos os aspectos da vida são controlados pelo governo. Os cubanos podem ser excluídos ou perder benefícios se forem percebidos como sendo desleais ou infiéis aos princípios da revolução.
"Ser cristão significa promover a dignidade dos nossos irmãos e irmãs, lutando por isso, vivendo para isso", disse o Papa à multidão. "É por isso que os cristãos são constantemente chamados a deixar de lado suas próprias vontades e desejos, sua busca por poder, e olhar, em vez disso, para aqueles que são mais vulneráveis."
No encerramento, ainda fez um apelo ao governo e aos rebeldes na Colômbia, que realizam negociações de paz em Havana há mais de dois anos, para que ponham fim ao mais longo conflito armado da América do Sul. "Por favor, não temos o direito de nos permitir mais um fracasso neste caminho de paz e de reconciliação."