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Publicada em 16 de Março de 2025 às 10:00

Carnaval no Porto Seco reafirma a cultura popular em Porto Alegre

Dez escolas levaram à avenida enredos sobre diversidade, ancestralidade e religiões de matriz africana

Dez escolas levaram à avenida enredos sobre diversidade, ancestralidade e religiões de matriz africana

Alex Rocha/PMPA/JC
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Gabrieli Silva
Gabrieli Silva
A segunda noite de desfiles no Complexo Cultural do Porto Seco animou Porto Alegre do sábado (15) à madrugada de domingo (16). Dez escolas levaram à avenida enredos sobre diversidade, ancestralidade e religiões de matriz africana, enquanto o júri avaliava os quesitos técnicos.
A segunda noite de desfiles no Complexo Cultural do Porto Seco animou Porto Alegre do sábado (15) à madrugada de domingo (16). Dez escolas levaram à avenida enredos sobre diversidade, ancestralidade e religiões de matriz africana, enquanto o júri avaliava os quesitos técnicos.
O evento contou com distribuição de água, postos de saúde, limpeza, bombeiros e policiamento reforçado nos 10 setores. As arquibancadas foram ampliadas, com áreas gratuitas e espaços acessíveis para PCDs e acompanhantes. O público cresceu a partir da meia-noite e seguiu até as 7h, quando a última escola desfilou. As arquibancadas gratuitas lotaram às 2h, formando filas de espera.

Desde 2004, o Porto Seco é palco oficial do Carnaval da capital, reunindo milhares de foliões. O casal Elisandra e Gerson Martins, frequentadores há 21 anos, conta que criou os filhos nesse ambiente. Para eles, o Carnaval de 2014 foi inesquecível, quando a Imperadores do Samba quebrou um jejum de cinco anos com o enredo "150 anos de glórias: Vermelho e branco, uma só paixão", celebrando seu cinquentenário e o centenário do Sport Club Internacional.

Além da celebração cultural, o evento impulsiona a economia local, gerando empregos temporários. Setores como a costura veem a demanda crescer, enquanto ambulantes aproveitam para vender bebidas e alimentos.

Apesar dos desafios estruturais e financeiros, escolas e foliões seguem mantendo viva essa tradição. Para Kelly Ribeiro, presidente da UECGAPA, o Porto Seco é o melhor espaço para o Carnaval, mas precisa de melhorias.

"Temos uma estrutura incrível, mas ainda inacabada. Nossa luta nesses 21 anos é concluir esse espaço. Os barracões acomodam bem as escolas e materiais. Em duas décadas, não houve registros de violência. Aqui, podemos curtir com tranquilidade", afirma.

O futuro do Carnaval no Porto Seco depende de reconhecimento e investimento. Mesmo diante das dificuldades, a festa segue como um dos principais eventos culturais de Porto Alegre, reafirmando a força da cultura popular.

Tribo "Os Comanches"

Abrindo a noite, a Tribo Os Comanches trouxe para a avenida uma celebração das culturas indígenas, destacando a riqueza e a diversidade dos povos originários do Brasil. Com fantasias detalhadas e alegorias imponentes, a escola enfatizou a importância da preservação das tradições ancestrais e da conexão com a natureza. O samba-enredo ecoou pela avenida com o refrão: "Na batida do tambor, Comanches vem mostrar, a força da floresta, a alma do Guarani a brilhar". A comissão de frente apresentou uma coreografia que simbolizava rituais sagrados, enquanto a bateria, com suas batidas cadenciadas, evocava os sons da mata.

Academia de Samba Praiana

Em seguida, a Academia de Samba Praiana homenageou os navegantes e a influência das águas na formação cultural de Porto Alegre. Com o enredo "Nas ondas do tempo, Praiana navega em memórias", a escola trouxe carros alegóricos representando embarcações históricas e personagens lendários dos rios gaúchos. O samba-enredo contagiou o público com o trecho: "Remando contra a maré, Praiana vai além, desbravando histórias, cantando o que o rio tem". As alas coreografadas retrataram pescadores, sereias e lendas ribeirinhas, enquanto a bateria, denominada "Maré Cheia", incorporou sons que remetiam ao movimento das águas.

Unidos de Vila Mapa

A terceira escola a desfilar, Unidos de Vila Mapa, trouxe um enredo que exaltava a miscigenação e a diversidade cultural do Brasil. Intitulado "Brasil de todas as cores, um só coração", o desfile foi um mosaico de influências africanas, europeias e indígenas que formam a identidade nacional. O samba-enredo destacava: "Somos mistura, somos união, Vila Mapa é a voz da nação". As fantasias eram ricas em cores e detalhes, representando diferentes etnias e culturas.

Império da Zona Norte

O Império da Zona Norte apresentou um enredo que celebrava os 100 anos do samba, destacando sua evolução e importância na cultura brasileira. Com o tema "Do morro à avenida, o centenário do samba", a escola trouxe alas que representavam desde os sambistas pioneiros até os grandes nomes contemporâneos. O samba-enredo emocionou com o verso: "Nasceu no terreiro, cresceu na cidade, o samba é nosso, é identidade". A comissão de frente homenageou figuras icônicas do samba, enquanto a bateria "Batuque Imperial" fez uma viagem rítmica pelas diferentes fases do gênero.

União da Tinga

Encerrando a noite, a União da Tinga trouxe para a avenida um enredo que abordava a resistência e a luta das comunidades periféricas por direitos e reconhecimento. Com o tema "Da luta nasce a força, Tinga é resistência", a escola destacou figuras históricas e movimentos sociais que marcaram a trajetória das periferias brasileiras. O samba-enredo reforçou a mensagem com o refrão: "Nas ruas da Tinga, o povo a cantar, é voz de resistência, é força popular".

Império do Sol

Abrindo os desfiles da madrugada, a Império do Sol apresentou o enredo "Império do Sol numa História Fascinante Conta e Encanta a Barra do Ribeiro", homenageando a cidade de Barra do Ribeiro. O desfile destacou as belezas naturais, a chegada dos imigrantes e as festividades locais, como o Carnaval e as oferendas para Iemanjá. Com alegorias que retratavam as paisagens às margens do Lago Guaíba, a escola trouxe um samba-enredo contagiante que dizia: "Nas águas serenas do Guaíba, nossa história a navegar, Império do Sol reluzente, Barra do Ribeiro a brilhar". A comissão de frente representou os primeiros habitantes e colonizadores, enquanto as alas ilustraram as tradições culturais e religiosas da região.

Unidos de Vila Isabel

A Unidos de Vila Isabel trouxe o enredo "Libertação", um clamor por respeito, igualdade e tolerância. O desfile abordou temas como intolerância religiosa, racismo e violência contra a comunidade LGBTQIA+, reforçando a importância da cultura negra como agente de transformação. O samba-enredo emocionou com o verso: "No batuque da resistência, Vila Isabel vem cantar, liberdade é nossa essência, igualdade é o nosso lugar".

Estado Maior da Restinga

A terceira escola a desfilar, Estado Maior da Restinga, apresentou um enredo que exaltava a força e a resiliência das comunidades periféricas. Com o tema "Da Restinga para o mundo, a nossa voz ecoa", a escola destacou personalidades e movimentos culturais originários das periferias que ganharam projeção nacional. O samba-enredo contagiou o público com o refrão: "Da nossa gente, o orgulho e a raiz, Restinga canta e encanta, faz o povo feliz". As alas representaram manifestações culturais como o hip-hop, o funk e o samba de raiz.

Bambas da Orgia

A tradicional Bambas da Orgia trouxe para a avenida um enredo que celebrava os 90 anos da escola, intitulando-o "Bambas: 90 anos de glórias e conquistas". O desfile foi uma viagem no tempo, relembrando momentos marcantes da trajetória da agremiação. O samba-enredo emocionou com o verso: "São 90 anos de história, de lutas e vitórias, Bambas, nosso eterno amor". As alegorias retrataram os principais carnavais vencidos pela escola, e as fantasias homenagearam figuras emblemáticas que contribuíram para o legado dos Bambas.

Imperatriz Dona Leopoldina

Encerrando a noite, a Imperatriz Dona Leopoldina apresentou o enredo "Da realeza ao samba, a viagem de Leopoldina". O desfile contou a história da princesa Dona Leopoldina e sua influência na cultura brasileira, traçando paralelos entre a nobreza e a riqueza do samba. O samba-enredo destacou: "Imperatriz na avenida, com Leopoldina a reinar, da corte ao samba, nossa história a brilhar". As alegorias foram luxuosas, representando palácios e elementos da monarquia, enquanto as alas mostraram a miscigenação cultural resultante desse encontro histórico.

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