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Publicada em 31 de Janeiro de 2025 às 16:04

Rio Grande do Sul deve repetir cenário de dengue em 2025, aponta Fiocruz

RS apresentou 207,9 mil casos confirmados em 2024; Porto Alegre, 16,4 mil

RS apresentou 207,9 mil casos confirmados em 2024; Porto Alegre, 16,4 mil

MAURO PIMENTEL/AFP/JC
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Thiago Müller
Thiago Müller Repórter
Tanto o Rio Grande do Sul como um todo quanto Porto Alegre enfrentaram muito mais casos de dengue em 2024, em comparação com o ano anterior. No território gaúcho, o número de ocorrências confirmadas da doença foi 5,3 vezes maior. Na Capital, 2,5 vezes. O Ministério da Saúde e a Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz), vinculada ao órgão, apontam que o Sul começou a registrar casos de dengue de forma sistemática em período tardio, comparado com o resto do Brasil. E a avaliação da fundação é que o cenário deve se repetir também neste ano.
Tanto o Rio Grande do Sul como um todo quanto Porto Alegre enfrentaram muito mais casos de dengue em 2024, em comparação com o ano anterior. No território gaúcho, o número de ocorrências confirmadas da doença foi 5,3 vezes maior. Na Capital, 2,5 vezes. O Ministério da Saúde e a Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz), vinculada ao órgão, apontam que o Sul começou a registrar casos de dengue de forma sistemática em período tardio, comparado com o resto do Brasil. E a avaliação da fundação é que o cenário deve se repetir também neste ano.
Porto Alegre, até o último boletim epidemiológico divulgado, teve um total de 16,4 mil casos confirmados de dengue no ano. Houveram mais 38,7 mil suspeitos e 11 óbitos. Em 2023, o número foi de 6,4 mil confirmados. No Rio Grande do Sul como um todo, o cenário é similar, com 207,9 mil casos confirmados em 2024, frente aos 38,7 mil do ano anterior.
O Ministério da Saúde, no Plano de Contingência Nacional Para Dengue, Chikungunya e Zika de 2025, cita como fatores relacionados à emergência em saúde pública por arboviroses as mudanças climáticas relacionadas ao fenômeno El Niño e La Niña. Outros motivos citados também são a circulação simultânea de mais de um sorotipo e cocirculação entre outros vírus do tipo. Há também demais fatores biológicos, ecológicos e até sociais, como a vulnerabilidade socioambiental e econômica do local, que ampliam o risco de impacto à saúde.
Os impactos do El Niño também influenciaram no restante do País. Eles promovem mudanças em padrões de temperatura e chuva e ocasionam condições favoráveis à transmissão. No Sul, também anteciparam a sazonalidade desse vírus. Somam-se a isso mudanças de temperatura e chuva ocasionadas pelo aquecimento global como um todo, "Você tem as condições ambientais e climáticas que favorecem a presença do Aedes aegypti o ano inteiro na região sul, assim como no resto do Brasil", explica a bióloga e pesquisadora da Fiocruz, Denise Valle.
No campo do clima, o InfoDengue, sistema de alerta da Fiocruz em colaboração com outras entidades, cita um limiar de 17ºC de temperatura. Quando o indicador está acima disso, existem condições ambientais favoráveis à transmissão do vírus.
As enchentes que ocorreram na região permanecem, porém, uma incógnita: embora à primeira vista os dados sugiram uma diminuição no número de casos pela doença, a pesquisadora argumenta que pode ter ocorrido grande quantidade de subnotificações. Ela ressalta que, por outro lado, as fases imaturas dos mosquitos vivem em criadouros. Quando as chuvas são muito torrenciais, dependendo da força, o material biológico pode ser lavado, esvaziando-os.
O mosquito, descreve, é muito adaptável e doméstico. "Se ele não encontrar a água nas melhores condições, ele se adapta à água com um pouco mais de matéria orgânica." O inseto também tende a se domiciliar, principalmente porque as casas costumam manter uma temperatura mais favorável a sua presença, facilitando criadouros nesses locais, que demandam mais atenção.
Do ponto de vista histórico, é a primeira vez que isso acontece na região sul. "De maneira geral, foi a última do Brasil que começou a ter dengue de forma mais sistemática, o resto do país já tem dengue há muito tempo”, explica a pesquisadora. Ela cita, para isso, condições de temperatura, já que o mosquito não resiste tão bem a tais coisas.
A dengue, conta, foi constatada de forma laboratorial, pela primeira vez, em Roraima no ano de 1981. Houve uma força tarefa para isolar o local e exterminar as cepas de dengue 1 e dengue 4 presentes.
Em 1986 a doença chegou no Rio de Janeiro, durante o carnaval carioca. As pessoas, infectadas pela dengue, retornaram às suas cidades, propiciando que a doença seja vetorizada pelo mosquito Aedes aegypti. Isso causou a circulação contínua de dengue no local. “A gente tem dengue o ano todo, mas com muito mais intensidade no verão.”
Agora, o Estado do RS já possui o vírus circulando, e isso é somado às condições ambientais e climáticas que favorecem a presença do mosquito que atua como vetor. “A situação que está montada há 30 ou 40 anos no Brasil também está sendo montada na região sul.” Ela complementa, porém, que a situação pode ser atenuada, “muito depende da ação do quanto conseguimos prevenir a situação”.

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