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Publicada em 09 de Janeiro de 2025 às 20:16

Expedição da Ufrgs na Antártica busca indicadores de mudanças climáticas

Grupo a bordo do Akademik Tryoshnykov é composto por pesquisadores brasileiros e de outros seis países

Grupo a bordo do Akademik Tryoshnykov é composto por pesquisadores brasileiros e de outros seis países

Anderson Astor e Marcelo Curia/ICCE/JC
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Gabriel Margonar
Gabriel Margonar Repórter
Na reta final de uma das mais ambiciosas missões científicas lideradas pelo Brasil em toda a história, a Expedição Internacional de Circum-Navegação Costeira Antártica já observa que as queimadas no Brasil estão impactando diretamente o continente gelado. Medições detectaram que partículas de fumaça, como as que encobriram o céu de Porto Alegre em setembro do ano passado, podem ser transportadas por correntes atmosféricas até a região, evidenciando a crescente influência das ações humanas mesmo nas regiões mais remotas do planeta.
Na reta final de uma das mais ambiciosas missões científicas lideradas pelo Brasil em toda a história, a Expedição Internacional de Circum-Navegação Costeira Antártica já observa que as queimadas no Brasil estão impactando diretamente o continente gelado. Medições detectaram que partículas de fumaça, como as que encobriram o céu de Porto Alegre em setembro do ano passado, podem ser transportadas por correntes atmosféricas até a região, evidenciando a crescente influência das ações humanas mesmo nas regiões mais remotas do planeta.
De acordo com o glaciologista líder da missão, Jefferson Cardia Simões, do Centro Polar e Climático (CPC) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), análises preliminares, combinadas com imagens de satélite, indicam que os chamados rios atmosféricos — corredores de vapor de água originados nos trópicos que se deslocam em direção aos polos — têm transportado regularmente partículas da América do Sul e da África para a Antártica. Posteriormente, amostras de água do mar e neve, que contém microplásticos, carbono de queimadas e hidrocarbonetos, serão analisadas no Brasil, com o objetivo de contribuir para o estudo das mudanças climáticas ao longo das últimas quatro décadas.
A expedição partiu do Porto de Rio Grande em 22 de novembro e, desde aquele momento, já percorreu mais de 28 mil km a bordo do navio quebra-gelo Akademik Tryoshnikov. Ao longo da costa antártica, o grupo de 57 pesquisadores - sendo 27 brasileiros - enfrentou desafios como o congelamento do oceano em extensão anômala, causado pelo fenômeno El Niño. Isso atrasou a chegada ao Mar de Ross, onde se encontra a maior geleira do mundo, que deve ser alcançado apenas nos próximos dias.
Durante o percurso, a tripulação precisou enfrentar momentos de isolamento forçado, como o causado por uma tempestade no Natal, que separou parte do grupo por três dias - apesar do desconforto, todos estavam bem abastecidos com comida e abrigo. Mesmo nas condições extremas, porém, houve celebrações a bordo, respeitando diferentes tradições culturais: os brasileiros improvisaram um menu especial no dia 24 de dezembro, com bastante chocolates e castanhas, enquanto a tripulação russa, por exemplo, celebrou o Natal no início de janeiro, de acordo com o calendário ortodoxo.
Fora os momentos de pesquisa, a rotina da tripulação, composta além de brasileiros e russos, por argentinos, chilenos, chineses , indianos e peruanos, inclui momentos de confraternização, como exercícios físicos, pequenas reuniões e refeições em horários fixos, que reúnem os 57 cientistas envolvidos. "Tentamos manter uma rotina equilibrada, mas o fuso horário é um desafio constante. Estamos em uma região com sol 24 horas, o que confunde a percepção de tempo", comenta Simões.
No campo científico, a missão já lançou 21 balões atmosféricos equipados com radiossondas para medir pressão, temperatura, vento e composição do ar. Esses dados são tidos como fundamentais para compreender a formação de frentes frias e ciclones extratropicais que afetam o Sul do Brasil.
"Passamos por várias estações oceanográficas, onde medimos temperatura, salinidade, acidez, dióxido de carbono e outras variáveis. Também estamos coletando testemunhos de gelo e analisando solos congelados, alguns dos quais já estão derretendo, o que tem implicações nas mudanças climáticas", complementa o pesquisador, ressaltando ainda que a retração das geleiras e os impactos do aquecimento global na biodiversidade antártica já são visíveis.
O retorno ao Brasil está previsto para o dia 30 de janeiro, mas a agenda segue intensa. Além do lançamento de novos balões e coletas de gelo, a equipe deixará amostras na Estação Antártica Comandante Ferraz, que serão trazidas pela Marinha. Segundo Simões, mesmo na reta final da expedição, ainda falta completar ao menos 30% dos trabalhos.
 

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