Consequências da enchente histórica de maio, a recuperação de unidades de saúde, o aumento da demanda por saúde mental e a alta nos casos de dengue, entre outras coisas, marcaram 2024 como um ano desafiador para a saúde pública no Rio Grande do Sul. Diante desse cenário, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) adotou estratégias para enfrentar as crises e garantir avanços no atendimento à população. Em entrevista ao Jornal do Comércio, a secretária adjunta de Saúde, Ana Costa, analisa os principais obstáculos do setor ao longo do ano, as ações implementadas e as metas traçadas para o futuro.
Jornal do Comércio - Quais foram os principais desafios enfrentados pela saúde pública no RS em 2024?
Ana Costa - O ano trouxe desafios constantes para a Saúde, mas as enchentes de maio foram, sem dúvida, o maior deles. As cheias criaram demandas urgentes, exigindo uma resposta rápida e bem coordenada. Foi preciso organizar transporte aeromédico para pacientes graves em áreas isoladas e garantir o abastecimento de oxigênio e insumos essenciais nos hospitais. A hemodiálise também se tornou um grande desafio, já que as estradas bloqueadas dificultaram o acesso ao tratamento de pacientes que dependem dele semanalmente. Além disso, houve um esforço intenso para reestruturar rapidamente os serviços danificados. A logística desempenhou um papel crucial na entrega de medicamentos e na prevenção de doenças relacionadas às enchentes, como leptospirose, com ações de quimioprofilaxia.
JC - Como o sistema de saúde lidou com as demandas geradas pelas enchentes?
Ana Costa - Houve uma articulação intensa entre o Estado, conselhos profissionais, entidades de saúde e voluntários, o que foi essencial para enfrentar a situação. Essa colaboração garantiu a entrega de geradores, ambulâncias e insumos, além de manter os serviços essenciais funcionando, mesmo diante de tantas dificuldades. Foi uma ação integrada, envolvendo Saúde, Segurança e Assistência Social. Graças a essa mobilização, por exemplo, foi possível realizar o transporte de órgãos para transplantes, distribuir sangue e assegurar o funcionamento de serviços críticos.
JC - O impacto psicológico das enchentes foi significativo. O que tem sido feito para ampliar o acesso ao atendimento em saúde mental?
Ana Costa - Formamos equipes multidisciplinares para oferecer suporte em atenção primária nas regiões mais afetadas, atuando tanto em unidades de saúde quanto em ações comunitárias. Além disso, parcerias com empresas de telessaúde ampliaram o acesso remoto a serviços de saúde mental. Essa estratégia foi fundamental para atender à alta demanda por suporte psicológico, especialmente em áreas isoladas. Com o apoio de conselhos de classe, conseguimos garantir assistência mesmo nas situações mais críticas.
JC - Quais avanços na saúde pública a senhora destacaria em 2024?
Ana Costa - Neste ano nós reabrimos hospitais, fortalecemos a atenção primária com equipamentos tecnológicos e garantimos o armazenamento adequado de vacinas e imunobiológicos. Pelo programa Avançar Saúde, interiorizamos serviços essenciais, como hemodiálise e ressonância magnética, e inauguramos atendimentos em especialidades como escoliose pediátrica e oftalmologia. Apesar das enchentes, mantivemos projetos prioritários, ampliando a rede CAS e TEAcolhe, com serviços para pessoas com transtorno do espectro autista. Também inauguramos ambulatórios do Programa Assistir, incluindo os voltados para cirurgias bariátricas, fortalecemos a Rede Bem Cuidar, especialmente na área materno-infantil, e reestruturamos hospitais na Região Metropolitana. Com investimentos de R$ 1 bilhão pelo Avançar Saúde, entregamos equipamentos e serviços que aproximam o atendimento da população.
JC - Com o aumento de casos de dengue no Brasil, como o RS está se preparando para o verão de 2025?
Ana Costa - O enfrentamento da dengue passa por ações de prevenção e conscientização. Em 2024, o Rio Grande do Sul reforçou campanhas educativas e investiu em tecnologias para monitoramento e resposta rápida. Para 2025, essas iniciativas serão ampliadas, com o apoio dos municípios e uma colaboração integrada entre os governos estadual, municipal e federal.
JC - Quais estratégias foram adotadas para melhorar a cobertura vacinal?
Ana Costa - Tivemos muitas ações, mas destaco o lançamos o prêmio Município Amigo da Vacina, em parceria com o Ministério Público, para reconhecer as cidades que atingiram as metas de vacinação. Também desenvolvemos um sistema de inteligência que integra dados de vacinação e matrículas escolares, ajudando a identificar áreas com baixa adesão. No próximo ano, esse sistema será expandido para todos os municípios, tornando as campanhas ainda mais eficientes.
JC - Quais são as principais metas da Secretaria de Saúde para 2025?
Ana Costa - Nossos principais objetivos para 2025 incluem ampliar a Rede Bem Cuidar e implementar 18 unidades do programa Ser Mulher, além de fortalecer o cuidado ao idoso e intensificar o combate ao HIV/AIDS com o programa Previne. Queremos seguir alinhando todas as ações às necessidades reais da população, assegurando avanços em vigilância, prevenção e atendimento.