O surgimento de hematomas no cérebro como o apresentado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de 79 anos, é uma complicação comum em pessoas que caem e batem a cabeça, situação vivida pelo petista, que sofreu um acidente doméstico em outubro no Palácio da Alvorada. Nesta terça-feira (10), o presidente se submeteu a uma cirurgia de emergência para drenar o hematoma e se recupera bem.
O neurocirurgião Paulo Worm, chefe do Serviço de Neurocirurgia da Santa Casa de Porto Alegre, explica que o hematoma subdural crônico é um acúmulo de sangue nos vasos sanguíneos que se desenvolve tardiamente após uma pancada na cabeça. É mais corriqueiro em idosos pelo fato de que as pessoas mais velhas caem com frequência.
O hematoma começa com um pequeno sangramento na hora da batida que vai evoluindo e aumentando com a ruptura de pequenas veias. O líquido ocupa a área do cérebro e pode prejudicar algumas funções.
Os sintomas do hematoma podem ser desânimo, dificuldade para falar e caminhar e dores de cabeça, entre outros. “Por isso é importante fazer uma drenagem o mais rápido possível para que o cérebro não perca as funções e não ocorra nenhum tipo de sequela”, orienta.
Normalmente, o hematoma ocorre em torno de 30 a 45 dias após a batida. “Foi o que ocorreu com Maradona, que também teve um trauma e 1 mês e pouco depois foi necessário fazer uma drenagem do hematoma subdural, mas ele teve complicações e acabou falecendo”, relembra o neurocirurgião, que também é professor da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA).
A formação desse acúmulo de sangue não está relacionada com algum comportamento da pessoa. Horas antes de sentir as fortes dores que levaram o presidente ao hospital, Lula postou um vídeo em suas redes sociais fazendo uma caminhada. No post, o presidente comemorava o retorno às atividades físicas e salientava a importância dos exercícios.
“Pessoas extremamente ativas como o presidente tocam a vida normalmente depois de uma pancada. Às vezes, sente uma dificuldade na fala, se sente mais apático, aí vai no médico e consulta. Sempre que tem um hematoma subdural agudo como o do presidente, uma hemorragia aguda, uma pancada aguda, é necessário fazer o seguimento com o médico neurocirurgião, fazendo exames de imagem para ver se o sangue foi todo absorvido”, esclarece.
O presidente foi submetido a uma craniotomia para drenar o hematoma, que consiste em uma perfuração no crânio para a retirada do líquido que se formou na região. Um dreno é colocado no local para extração do sangue, evitando que ele volte a se acumular. Após a remoção do hematoma, o cérebro volta a ocupar o espaço onde havia aquele coágulo. Em pessoas mais velhas, há o risco de o cérebro estar já fisicamente atrofiado (menor), e os hematomas podem retornar. "Tem que acompanhar após drenar, fazer exames e ver se ficou totalmente resolvido", ressalta. Worm diz que esse tipo de procedimento não costuma deixar sequelas quando executado por um neurocirurgião habilidoso, já que o acúmulo de sangue ocorre entre o cérebro e a membrana que o reveste e não há intervenção cirúrgica no órgão.
Quando o hematoma não é tratado, há acúmulo de fluidos e, em decorrência, ocorre uma reação inflamatória no cérebro. Isso ocasiona alteração neurológica como perda de força nos braços ou pernas. Se não for tratado, o paciente entra em coma e vai a óbito, por isso a importância em procurar atendimento médico ao sentir dor ou outro sintoma nos períodos que se seguem a uma queda ou pancada na cabeça.