Conectar pacientes a estudos clínicos, permitindo o acesso a tratamentos de saúde inovadores e assim proporcionando maiores chances de cura, e ampliar a participação em pesquisas médicas. Esses são alguns dos objetivos da plataforma Let Me Trial. Desenvolvida por uma startup gaúcha, o projeto busca aproximar sistemas de saúde, médicos e pacientes e centros de pesquisas credenciados.
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A ideia surgiu a partir da experiência do médico nefrologista e clínico geral Giovani Gadonski com pesquisas clínicas após atender um paciente com indicação de usar um medicamento indisponível no Brasil. O tratamento era testado no centro de pesquisa da Pucrs, porém naquele período o local estava fechado e foi preciso ir atrás de outra opção. Gadonski procurou por conta própria em sites internacionais e brasileiros, contatou colegas e pessoas ligadas à área de pesquisa e não encontrou nenhum centro onde aquela medicação estivesse em estudo.
“Então pensei bom, vamos desenvolver um instrumento, uma plataforma onde durante a consulta médica o profissional possa inserir as características da doença ou algumas peculiaridades e a ferramenta localiza onde existe um centro de pesquisa que o paciente possa entrar em um dos protocolos e receber pelo menos o que vem sendo usado atualmente para aquela condição, ou então a droga ou procedimento inovador que a indústria farmacêutica está testando, e a pessoa possa assim se beneficiar”, conta o médico e diretor da Let Me Trial.
Inicialmente, a Let Me Trial está rastreando as pequisas na área de Oncologia, conta Gadonski
Agência Anatomy/Divulgação/JC
O projeto entrou na trilha de Inovação da Puc e participou do Startup Garagem. Na sequência, se fundiu com uma startup de Bento Gonçalves e, mais recentemente, incorporou uma empresa de análise de ciência de dados de São Paulo que está desenvolvendo uma forma mais automatizada para a realização da busca.
Além dos benefícios para os pacientes e médicos ao oferecer novas opções de tratamentos, a plataforma também será vantajosa para as operadoras de saúde. Ao se submeter a um estudo clínico, custos dos pacientes que deveriam ser arcados pelo plano de saúde deixam de existir. As Unimeds da Serra e do Vale do Caí começaram a incluir usuários na Let Me Trial para acessar as pesquisas. Hospitais e a indústria farmacêutica poderão ter uma maior participação de pacientes nos seus estudos clínicos.
Inicialmente, a Let Me Trial está rastreando pesquisas médicas na área de Oncologia, podendo abranger outras áreas no futuro. “É a especialidade que mais tem essa conduta de procurar estudos clínicos. Desde a formação, o oncologista é treinado para buscar alguma alternativa nos casos em que a doença progride, e nem sempre isso está no mercado brasileiro, muitas vezes até por questões de regulação. Encontramos essa solução que beneficia todas as pontas, todos os stakeholders que estão participando desse ecossistema”, salienta Gadonski. A previsão é que até o final de novembro todas as funcionalidades da ferramenta estejam disponíveis para que as pessoas possam efetuar o cadastro, que é gratuito, e buscar os estudos clínicos.
A iniciativa está participando de uma batalha durante o Health Meeting - Business & Innovation, evento de saúde que ocorre até esta quarta-feira (13) na Pucrs em Porto Alegre. O vencedor vai receber um investimento da Ventiur Aceleradora. “Isso pode fazer com que a gente cresça e acrescente mais tecnologia, mais pessoas na equipe para ter uma abrangência maior em número de especialidades e de centros de pesquisa”, projeta.
No final de semana passado, a Let Me Trial foi selecionada entre mais de 100 startups do Brasil para participar do Congresso Brasileiro de Oncologia, onde apresentará sua proposta. Isso reforçou a existência de um mercado enorme em outras partes do Brasil, como no Sudeste e Nordeste, para que a população que não têm acesso a determinada medicação possa ser incluída em algum protocolo científico. “Estamos animados com o potencial de crescimento da nossa empresa e especialmente pela chance de oportunizar o tratamento para as pessoas. A plataforma estará disponível para o SUS também, não só para convênio, então pessoas do Interior do Estado que não são ligadas à academia necessariamente, que ficam fora desse processo, passam a ter essa oportunidade”, ressalta.
A Let Me Trial tem o modelo de negócios assinado pela M. Stortti Business Consulting Group. Era preciso uma construção jurídica e econômica do negócio para fazer o projeto ser rentável e, numa segunda fase, interessar até players internacionais que queiram entrar no mercado brasileiro.
Um plano de ações e de marketing foi elaborado para a plataforma através da participação de eventos e conteúdo. “Nosso trabalho foi o de dar essa roupagem para que a Let Me Trial seja uma plataforma científica no formato de uma empresa, com um conselho, uma estruturação legal. O contexto da plataforma é muito interessante porque ela será uma grande empresa de informação científica, com um valor intangível muito alto e também por conta da inovação desse projeto que é brasileiro”, afirma Maurenio Stortti, diretor da consultoria.