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Publicada em 04 de Novembro de 2024 às 19:14

Estudo da Ufrgs aponta megadesastre por deslizamentos durante as enchentes

Estudo da Ufrgs mapeou cerca de 18 mil km² e identificou 16.862 movimentos de massa

Estudo da Ufrgs mapeou cerca de 18 mil km² e identificou 16.862 movimentos de massa

Ufrgs/Divulgação/JC
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Fabrine Bartz
Fabrine Bartz Repórter
Um estudo realizado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), divulgado no começo deste mês, caracteriza os deslizamentos ocasionados pelas fortes chuvas de maio no Estado como um megadesastre. Ao todo, foram identificados 16.862 pontos de ruptura, com Caxias do Sul, na Serra Gaúcha, liderando o número de ocorrências, totalizando 656 cicatrizes, seguida de Veranópolis, na mesma região, com 636.
Um estudo realizado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), divulgado no começo deste mês, caracteriza os deslizamentos ocasionados pelas fortes chuvas de maio no Estado como um megadesastre. Ao todo, foram identificados 16.862 pontos de ruptura, com Caxias do Sul, na Serra Gaúcha, liderando o número de ocorrências, totalizando 656 cicatrizes, seguida de Veranópolis, na mesma região, com 636.
“O solo e a rocha não conseguiram suportar a quantidade de chuva nesses pontos, indo muito além dos nossos registros, em termos de quantidade”, explica o pesquisador Clódis Andrades-Filho, professor do Instituto de Geociências da Ufrgs e coordenador do mapeamento. Tanto o mapeamento quanto as prefeituras indicam que a área rural foi a mais afetada.

Segundo a nota técnica elaborada pelo Instituto de Geociências da Ufrgs, juntamente com o Centro Estadual de Pesquisas em Sensoriamento Remoto e Meteorologia, o número total de registros no Rio Grande do Sul supera o fenômeno de 2011, no Rio de Janeiro, quando foram registradas 4.300 cicatrizes.

Ao todo, as equipes mapearam mais de 18 mil km², desde abril até o final de outubro, a pedido dos voluntários, que estavam atuando nas áreas de deslizamentos. “Começamos pelo Vale do Taquari, mas identificamos que se tratava de um evento extremo que atingiu outras áreas do Estado”, reforça o pesquisador Andrades-Filho.

Os dados cobrem as bacias hidrográficas Taquari-Antas, Caí, Sinos, Pardo, e os rios Alto e Baixo Jacuí, além de Vacacaí-Mirim, abrangendo 150 municípios da Região Hidrográfica do Guaíba. As cicatrizes e os pontos de ruptura de movimentos de massa representam 100% da área atingida na escarpa sul do Planalto Meridional-RS. Foram registradas 15.376 cicatrizes e 16.862 pontos de ruptura, tornando este evento o mais devastador já registrado no Brasil – com mais de 10 mil propriedades afetadas e diversas vias de acesso comprometidas.

Cada tipo de ruptura, no entanto, se comporta de forma diferente e gera necessidades distintas. “O fluxo de detritos aproveita uma área da encosta que já é mais acanalada, com predisposição para ter fluxo e se forma um rio de pedra, o que é muito destrutivo”, exemplifica.

Já em casos de deslizamentos, o movimento do solo e da rocha acontece mais próximo de onde começou, o que gera uma área menor de impacto, embora o grau destrutivo seja relevante. Os rastejos de solo, caracterizados por fissuras e rachaduras, em geral, ocorrem de forma lenta, segundo Andrades-Filho. No entanto, com as enchentes, o movimento ocorreu de forma mais abrupta. As contenções ocorrem em áreas rurais, especialmente nas lavouras, com cobrimento das rupturas e drenagem.
As informações do mapeamento são utilizadas para estimar os danos, além da revisão do Plano Diretor dos municípios. A expectativa é que os “dados deem suporte e avancem para o aperfeiçoamento para os sistemas de previsão e alerta para risco geológico e ocorrências de deslizamentos”, reforça o professor Andrades-Filho.

Caxias do Sul e Veranópolis, na Serra, lideram número de ocorrências

O mapeamento, elaborado pela Ufrgs, indica que a região da Serra Gaúcha concentra os maiores números de ocorrências. Em Caxias do Sul, município que lidera as ocorrências (656), o foco está destinado para a reconstrução do bairro Galópolis. O contrato da empresa Terra Service Geologia e Engenharia com a prefeitura é de R$ 1 milhão e desde agosto são realizados levantamentos técnicos.

“Que bacana que temos o Instituto de Geociências e o IPH. Os mapeamentos realizados deveriam ser feitos a cada seis meses para identificarmos o que está acontecendo e onde”, argumenta o geólogo Nério Susin, responsável pela empresa. De acordo com ele, em uma situação como a do bairro Galópolis, há duas opções: “ou o município reitera as pessoas, algo que não é factível, ou encontra soluções”.

O trabalho realizado pela Terra Service consiste em procurar descrever o que desencadeou os deslizamentos, com objetivo de embasar o estudo que apontará a necessidade, por exemplo, da estruturação de um sistema de alerta ou de adequações geométricas nos terrenos, com previsão de expressiva movimentação de terra.

Este trabalho inicial não inclui a movimentação de terra e uso de máquinas pesadas. As primeiras intervenções ocorreram na Rua José Casa (lado esquerdo do Arroio Pinhal), uma das mais prejudicadas pela intempérie. Além dos estudos geotécnicos, foi contratada a modelagem do arroio para que dê vazão a volumes excepcionais de chuva, sem transbordamento. Ao todo, estão previstas 120 análises, 30 perfurações de sondagens, identificação de rochas e análises de solo.

Já em Veranópolis, cidade com 636 ocorrências, serão investidos R$ 21 milhões para a reconstrução das áreas afetadas, com recursos oriundos dos governos municipal, estadual e federal. Deste montante, R$ 6 milhões já foram investidos, além de outros R$ 4 milhões de horas-máquina. A reconstrução das vias é uma das prioridades.

“Seguimos atuando na reconstrução das vias e das áreas atingidas. As máquinas estão trabalhando e ainda há barreiras que precisam ser retiradas. Nosso interior foi muito atingido”, reforça a Coordenadora da Defesa Civil, Fabiana Parise, também secretária municipal de Desenvolvimento Social. De acordo com ela, as rupturas iniciam nos topos de montanha e seguem até o rio.

No município, 20 famílias ainda recebem aluguel social. No momento de pico da enchente, 12 empresas atuaram diretamente com a reconstrução dos espaços atingidos pelos deslizamentos. “Desde o momento do evento, mantivemos o contato com o estado, porque os volumes já eram altos. Tínhamos como áreas de risco, as áreas urbanas, pois ocorrem enxurradas, mas os deslizamentos começaram no dia primeiro de maio ", lembra Fabiana.

A empresa InfraGeo Engenharia e Geotécnica, de Passo Fundo, foi contratada para realização de um projeto de contenção no município. A expectativa é que escritório seja realocado para Veranópolis ainda nesta semana

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