Profissional responsável pela formação de todos os outros, o professor vive, historicamente, uma realidade desafiadora no Brasil. Entre a precarização das condições trabalhistas e a crescente perda de espaço em sala de aula para as tecnologias, o dia a dia dos educadores está longe de ser valorizado à altura de sua importância. Neste 15 de outubro, Dia do Professor, a realidade de quem dedica a vida a ensinar escancara as dificuldades de uma profissão fundamental para o futuro do nosso País.
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Edson Garcia, docente da Educação Profissional na rede pública estadual há mais de 25 anos, destaca que o maior problema enfrentado por ele e seus colegas é a falta de investimento em infraestrutura. Conforme explica, a consequência dessas questões se dá na desmotivação por parte de estudantes.
"Primeiro de tudo, convivemos com uma sensação constante de desvalorização por parte do governo, tanto em relação às escolas quanto aos professores. E quando o assunto são os estudantes especificamente, é muito mais complicado de mantê-los motivados quando não há bibliotecas abertas nas instituições, não há um refeitório de qualidade, não há uma quadra para a prática de esportes... Têm muitos alunos de baixa renda que precisam dessas coisas para manter o foco nos estudos", relata.
Analisando o cenário atual da educação brasileira, Garcia observa um agravamento das desigualdades e um enfraquecimento nas relações interpessoais, consequências da pandemia de covid-19. "Durante aquele período, alunos sem condições mínimas para acessar as aulas online tiveram seu aprendizado interrompido. Mesmo aqueles que conseguiram acompanhar, acabaram perdendo ou não construindo vínculos afetivos importantes. Isso ainda reflete de forma negativa hoje", conclui.
Na rede privada, o professor de Geografia Diego Brandão, que atua em uma escola particular de Porto Alegre há 5 anos, enfrenta outro tipo de desafio, proveniente de outra realidade social: a dificuldade em captar a atenção dos alunos, cada vez mais imersos nas telas.
"Os estudantes parecem cada vez mais distantes da ideia de uma sala de aula tradicional. Engajá-los, portanto, tem se tornado um grande desafio. No Ensino Médio, recebo alunos que cresceram imersos em tecnologia - seja em tablets, computadores ou celulares - e competir com isso é difícil. Fazer com que uma aula de 50 minutos faça sentido para todos é uma tarefa complexa," destaca.
De positivo, porém, ele enxerga uma geração mais curiosa e disposta a aprender. "Mesmo que os nossos jovens estejam apresentando problemas de concentração, muito graças à instantaneidade das redes sociais, também estão se mostrando mais interessados no mundo ao seu redor. A facilidade do acesso a informações desperta curiosidade, o que é ótimo para nós em sala de aula", finaliza.
Em 2024, diversas escolas gaúchas tiveram suas atividades suspensas por meses durante as enchentes de maio. Para mensurar os impactos desse período na educação do Estado, o JC procurou o Centro dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul (Cpers) e o Sindicato dos Professores do Ensino Privado do RS (Sinpro/RS).
Segundo a presidente do Cpers, Helenir Schürer, a categoria foi profundamente impactada no período, com muitos professores e funcionários do sindicato perdendo suas casas e precisando recorrer a abrigos temporários. No entanto, ela destaca que as atividades já foram normalizadas. "Tenho muito orgulho de dizer que essa categoria de luta não se entrega. Retomamos as aulas, e os nossos profissionais estão dando o melhor de si, mesmo com todas as dificuldades deste ano. É uma categoria que me orgulha muito, pela disposição de superar qualquer obstáculo, apesar da desvalorização que enfrentamos", afirma.
Já conforme a diretora do Sinpro/RS, Cecília Farias, a primeira preocupação do grupos após a interrupção das aulas foi estabelecer um novo cronograma que garantisse o cumprimento dos 200 dias letivos sem prejudicar os profissionais de ensino. "Nossa prioridade foi assegurar que os professores não fossem submetidos a uma carga de trabalho excessiva e que tivessem garantidos seus períodos de recesso e férias. Por isso, procuramos o sindicato das escolas para negociar condições justas de compensação dos dias parados. Para o Sinpro/RS, todo dia é Dia do Professor, e por isso estamos sempre atentos, ao longo de todo o ano, para defender os interesses da categoria", conclui.