Com uma trégua na semana passada, a fumaça das queimadas que atingem o Centro e o Norte do Brasil voltou a circular no Rio Grande do Sul. Nesta quarta-feira (2), Porto Alegre registrou a 5ª pior qualidade do ar entre as capitais, segundo a plataforma suíça IQAir. Com o Índice de Qualidade do Ar (IQA) em 89, Porto Alegre ficou atrás apenas de Florianópolis, Campo Grande, São Paulo e Cuiabá - que atingiu o índice de 138.
A fumaça proveniente dos incêndios florestais afeta negativamente a qualidade do ar e provoca sérias consequências para o ambiente e para a saúde humana, segundo um alerta da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), publicado em setembro. A nota técnica foi elaborada por um professor e um egresso da Universidade Federal de Rio Grande (Furg).
“Nas primeiras semanas de setembro, já foi identificado um aumento na procura nos serviços de saúde em Porto Alegre, na Região Metropolitana e nas cidades mais impactadas. A dimensão global e mais precisa só teremos mais adiante”, reforça o professor do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) Flavio Rodrigues. De acordo com ele, entre a procura por atendimento, o registro e a divulgação das informações pelo Ministério da Saúde, há um tempo considerável.
Durante a tarde desta quarta, 401 pessoas estavam em observação ou internadas nas emergências adulto da rede hospitalar de Porto Alegre, número que supera os 203 leitos disponíveis. Já nas emergências pediátricas, a situação apresenta uma melhora, na comparação com semanas anteriores. Atualmente, 87 crianças estão em 71 leitos.
Embora não tenha relação direta com as fumaças, as internações ocorrem, principalmente, por questões respiratórias. “Em adultos, a pneumonia é a principal causa de internação. Já as causas de atendimentos são variadas: bronquite, sinusite e asma, em função da alteração do clima”, explica o diretor de Atenção Hospitalar e Urgências, Favio Telis, da secretaria municipal de Saúde (SMS).
Conforme a nota da SBPC, a fumaça oriunda da queima de biomassa é composta por material particulado fino (MP2.5), monóxido de carbono (CO), ozônio (O3), e uma série de compostos orgânicos voláteis (COVs), que, quando inalados, são capazes de penetrar nos pulmões e na circulação e podem provocar problemas respiratórios, cardiovasculares e outros efeitos adversos à saúde.
Entre as principais recomendações, estão o fortalecimento da fiscalização para combater queimadas ilegais, a ampliação do monitoramento da qualidade do ar e uma maior articulação com o setor de saúde para lidar com os efeitos das queimadas nas populações vulneráveis. A nota também chama a atenção para a necessidade de maior investimento em ciência e tecnologia para desenvolver alternativas sustentáveis de gestão dos territórios e mitigar os danos ambientais.
Somente em agosto deste ano, mais de 5,5 milhões de hectares foram queimados no Brasil, contemplando áreas nativas de diferentes biomas, áreas agrícolas e urbanas. As consequências no campo da saúde também são perceptíveis em outras capitais, como é o caso de São Paulo, onde “há registros de óbitos acima do esperado por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), em consequência da intensificação dos incêndios recentes”, apresenta o material.