Emergências em hospitais e unidades de pronto atendimento (UPAs) pediátricas e adultas em Porto Alegre estão com superlotação. O sistema de saúde está com porcentagem de leitos ocupados em 200,8% para adultos e 140,7% para pediatria, com quadros diversos, conforme levantamento da Secretaria Municipal de Saúde (SMS).
O órgão público havia registrado diminuição na taxa de ocupação no último sábado (14), mas os números voltaram a aumentar. Dados eram 187% e 83% para leitos adultos e pediátricos, respectivamente. A principal causa, segundo a SMS, segue sendo por questões respiratórias.
Ainda, conforme já apurado pelo Jornal do Comércio, a qualidade do ar de Porto Alegre deve se manter boa até quarta-feira (18). Porém, a partir da quinta-feira (19), as condições do tempo devem mudar por causa do reingresso do vento Noroeste, que deve trazer a fumaça dos incêndios florestais novamente ao Rio Grande do Sul.
Segundo o Coordenador Municipal de Urgências da SMS, Paulo Bobek, até sexta-feira (13), as solicitações para leito hospitalar por síndrome respiratória aguda grave ficaram na média de 90 na segunda-feira (9), 88 na terça-feira, e 104 na última quarta. Nesta segunda-feira (16), o número se mantém similar: 104 solicitações em Pronto Atendimentos, sendo 26% causas respiratórias.
O profissional ressalta, porém, que não há como ligar um nexo causal entre a fumaça das queimadas e internações específicas. “Teria que ver caso a caso, a situação de cada pessoa, mas certamente a poluição atmosférica tem impacto importante sim na saúde da população”, justifica.
O caso mais crítico na emergência adulta é o Hospital São Lucas da Pucrs, com 360% de internação. São 10 leitos, 36 pacientes internados e 13 aguardando internação. O estabelecimento descreveu o caso na última semana: “Não notamos, ainda, aumento devido às fumaças, visto que o quadro de superlotação já está assim há algumas semanas”, relatou o hospital, em nota. Procurada, a fins de atualização, a instituição não se comunicou até a publicação desta reportagem.
O Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) segue a mesma tendência dos outros invernos. Como os casos mais simples são atendidos em UPAs e UBSs, não houve aumento na procura em função de crise respiratória, sendo este um hospital de média e alta complexidade. Com 56 leitos, 124 pacientes internados e 22 aguardando, a lotação do hospital se encontra em 221,4%.
A Santa Casa de Misericórdia, em contrapartida, está com 242,8% de ocupação. O hospital explicou que percebeu uma redução de atendimentos por doenças respiratórias, em comparação com a última semana, embora não tenha uma estimativa numérica.
Nas UPAs, a lotação varia de 100% no Pronto Atendimento da Lomba do Pinheiro, que estava em 237,5% na sexta-feira (13), e 422,2%, no Pronto Atendimento da Cruzeiro do Sul, sendo esses por motivos diversos, não abrangendo somente crises respiratórias.
"A Organização Mundial da Saúde relaciona que as doenças respiratórias, em torno de 20% a 30% delas, têm o impacto causado pela poluição atmosférica, e também mortes prematuras por doenças cardíacas e infarto em torno de 58%, e doenças pulmonares obstrutivas crônicas e broncopneumonias em torno de 18% podem ter sido afetadas e impactadas na questão de óbitos em função da poluição atmosférica”, explicou Bobek.
A SMS já havia emitido uma recomendação, na última terça-feira (10), em função dos cuidados pela permanência da fumaça das queimadas no ar. A questão é especialmente reiterada para crianças menores de cinco anos, idosos, pessoas asmáticas, diabéticas ou hipertensas e gestantes.
Confira as recomendações para toda a população
- Se tiver sintomas respiratórios, busque atendimento médico o mais rápido possível;
- Beber mais água e líquidos para manter o aparelho respiratório úmido e mais protegido;
- Se possível, ficar menos tempo em ambiente aberto, durante o dia ou à noite;
- Manter portas e janelas fechadas para diminuir a entrada da poluição externa no ambiente;
- Evitar atividades em ambiente aberto enquanto durar o período crítico de contaminação do ar pela fumaça.
Recomendações a pessoas com problemas cardíacos, respiratórios e imunológicos:
- Manter ao alcance os medicamentos indicados pelo médico, para uso em crises agudas;
- Buscar imediatamente atendimento médico se apresentar sinais ou sintomas de piora das condições de saúde após exposição à fumaça;
- Consultar o médico sobre a necessidade de mudar o seu tratamento.