Mesmo áreas praticamente intocadas da floresta amazônica estão sendo impactadas pelas queimadas recordes deste ano. Em agosto, a poluição da atmosfera na região chegou a superar em 80 vezes a média da estação chuvosa e ao menos 13 vezes a média da estação seca, segundo dados divulgados nesta segunda-feira (9) pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).
Os registros foram feitos no Atto (sigla em inglês para Observatório da Torre Alta da Amazônia), projeto localizado na Estação Científica de Uatumã, cerca de 150 quilômetros ao norte de Manaus, no Amazonas. A área da reserva fica distante da rota de cidades ou de atividades econômicas.
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O complexo é composto por três torres, sendo que a principal delas tem 325 metros de altura e está equipada com sensores que captam a circulação de partículas em uma zona de influência acima de 400 quilômetros. São registrados continuamente dados meteorológicos, químicos e biológicos com o objetivo de compreender melhor os processos da floresta.
A concentração de material particulado fino (as partículas em suspensão na atmosfera, denominadas tecnicamente de MP2.5) aumenta todos os anos na temporada seca da Amazônia, devido aos incêndios florestais.
Enquanto na época das chuvas a concentração em média é de 1 µg/m³ (microgramas por metro cúbico), na estação seca varia entre 5 e 7 µg/m³. No último mês, porém, foram registrados picos de poluição muito acima do considerado normal. De 10 a 15 de agosto, as concentrações médias atingiram 60 µg/m³, enquanto do dia 27 ao 30 a média diária foi de 80 µg/m³.
Imagens registradas pela equipe de pesquisa no dia 28 de agosto mostram uma densa nuvem de fumaça sobre a floresta e ao redor das torres do observatório. "Ainda não sabemos as causas do aumento das concentrações nesse período. Isso pode estar relacionado a um possível aumento dos focos de queimadas em toda a Amazônia, ou ainda à presença de focos de queimadas mais próximos à torre Atto", disse em comunicado Luciana Rizzo, especialista em aerossóis e pesquisadora do observatório.
"Quanto mais perto for a frente de queimadas, mais altas serão as concentrações", explicou Rizzo. Ela acrescentou, ainda, que nos arredores do centro de pesquisa não costumam ocorrer grandes eventos de queimada, mas a torre capta a fumaça que vem de outras partes da floresta.
O monitoramento de MP2.5, assim como de outros poluentes, é realizado por equipamentos instalados no alto da torre Atto, com a coleta de dados sendo realizada a cada 30 minutos. Os métodos utilizados são recomendados por agências ambientais internacionais. A recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é que a média diária para a concentração de MP2.5 seja inferior a 15 µg/m³.
Altas concentrações desse material podem agravar ou aumentar o risco de desenvolver doenças cardiorrespiratórias. Na floresta, podem impactar ecossistemas, alterando propriedades das nuvens e a quantidade de luz solar que atinge a superfície da Terra, segundo o Inpa.
Folhapress