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Publicada em 19 de Agosto de 2024 às 19:59

Infectologista acende alerta para possível surto de mpox no Brasil

Vacina já é disponibilizada no País, mas restrita a grupos mais vulneráveis

Vacina já é disponibilizada no País, mas restrita a grupos mais vulneráveis

Cristine Rochol/PMPA/JC
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Gabriel Margonar
Gabriel Margonar Repórter
Na última quarta-feira (14), a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou o novo surto de mpox no Congo como uma emergência de saúde global, o mais alto nível de alerta da entidade. A decisão foi motivada pela ameaça representada por uma nova variante do vírus, que já se espalha para países que anteriormente não haviam registrado casos da doença.
Na última quarta-feira (14), a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou o novo surto de mpox no Congo como uma emergência de saúde global, o mais alto nível de alerta da entidade. A decisão foi motivada pela ameaça representada por uma nova variante do vírus, que já se espalha para países que anteriormente não haviam registrado casos da doença.
Com um período de incubação da enfermidade que pode chegar a 21 dias e o grande volume de voos internacionais que o Brasil recebe cotidianamente, o infectologista e diretor clínico do Grupo Fleury, Celso Granato, alerta para o risco de um surto de infecções no país nos próximos meses, semelhante, mas em menor intensidade, ao ocorrido com a Covid-19 em 2020.
"Isso pode acontecer, assim como ocorreu com a Covid-19, que já estava circulando fora do Brasil por um tempo até que uma pessoa veio da Itália para cá e trouxe o vírus. Esse cenário é possível porque o tempo entre o contato com o mpox e o aparecimento dos sintomas pode durar até 21 dias. É muito tempo, e durante parte desse período, a pessoa pode transmitir a doença. Imagine alguém saindo da África do Sul, aparentemente saudável ou com sintomas iniciais inespecíficos. Se os profissionais de saúde nos portos e aeroportos não estiverem atentos, isso pode passar despercebido", analisa o médico.
Responsável por mais de 524 mortes somente em 2024 no Congo, a mpox é uma doença viral zoonótica, cuja transmissão para humanos pode ocorrer através do contato com pessoas infectadas, materiais contaminados ou animais silvestres portadores do vírus - através de mordidas, arranhões ou ingestão da carne mal cozida. Segundo Granato, embora seja difícil definir um grupo de risco específico para a doença, nos últimos anos, têm se destacado o número de casos observados em adultos sexualmente ativos e crianças.
"Em 2022, durante o surto no Brasil, houve uma incidência relativamente alta de casos entre homens que fazem sexo com homens. Porém, isso não é uma regra. O padrão é que, como o vírus é transmitido pelo contato entre peles, pessoas com múltiplos parceiros sexuais estejam mais vulneráveis. Além disso, crianças, que geralmente são menos preocupadas com higiene e distanciamento, também podem ser contaminadas com maior facilidade", explica.
Quando infectado, o portador do vírus pode levar de 3 a 21 dias para manifestar os primeiros sintomas da doença, que geralmente incluem erupções cutâneas, ínguas, febre e dores no corpo. Em regra geral, pessoas com mpox são consideradas infecciosas até que todas as lesões tenham formado crostas e elas caiam, formando uma nova camada de pele.
Conforme indica o Ministério da Saúde, a principal forma de proteção contra a doença é a simples prevenção. Sendo assim, aconselha-se evitar o contato direto com pessoas com suspeita ou confirmação de mpox e, em caso de necessidade, utilizar luvas, máscaras, avental e óculos de proteção. Além disso, práticas básicas de higiene pessoal também são consideradas medidas eficazes para prevenir a infecção.
De acordo com Granato, por mais que haja vacina e essa seja ofertada no Brasil, ainda é produzida em quantidade muito pequena, priorizando pessoas com maior risco de evolução para as formas graves da doença (portadores de HIV e profissionais laboratoriais). “Temos o imunizante, mas em quantidade muito baixa, pois não era uma grande preocupação anteriormente. O mesmo vale para o tratamento com drogas antivirais, que são eficazes, mas produzidas em pequena escala. Em relação à detecção, por outro lado, diversos laboratórios brasileiros disponibilizam o teste", afirma.

Nova variante

Esta é a segunda vez em três anos que a OMS declara uma epidemia de mpox como uma emergência global. A primeira declaração ocorreu em julho de 2022, quando o surto atingiu quase 100 mil pessoas em 116 países, resultando em cerca de 200 mortes.
Entretanto, a nova variante do vírus que circula no Congo apresenta uma taxa de mortalidade em torno de 3%, muito superior à taxa de 0,2% registrada no surto anterior. Em 2024, o número de casos já ultrapassou o total registrado ao longo de todo o ano de 2023, somando mais de 14 mil infecções e 524 mortes.

Ministério da saúde instala Centro de Operações de Emergência

Embora o Brasil apresente sinal de estabilidade e controle da mpox, o Ministério da Saúde instalou um Centro de Operações de Emergência para coordenar ações de resposta à doença, na última quinta-feira (15). O COE-Mpox irá operar na sede da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente (SVSA), em Brasília.
Dados da pasta apontam que, em 2024, foram notificados 709 casos confirmados ou prováveis de mpox no Brasil, número classificado como "significativamente inferior" quando comparado aos mais de 10 mil casos notificados em 2022, durante o pico da primeira emergência da doença no país. Desde 2022, foram registrados ainda 16 óbitos, sendo o mais recente em abril de 2023.
Até o momento, não houve registro da nova variante em solo brasileiro. Por isso, Celso Granato recomenda que o Ministério da Saúde aproveite a declaração da OMS para alertar a população sobre os riscos e implementar medidas que impeçam que o vírus entre no país por meio de portos e aeroportos.

"Em primeiro lugar, é essencial criar uma campanha para informar as pessoas sobre o que é essa doença e como ela é transmitida. Já vi, em várias viagens, campanhas informativas no próprio avião sobre dengue e Covid-19, para que não se traga novas variantes para o Brasil. A mpox deverá ser incluída nessas ações. Temos um sistema que funciona relativamente bem nos portos e aeroportos; o necessário agora é adaptá-lo para esse vírus e conscientizar as pessoas sobre ele", finaliza.

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