Atualizado às 15h10min
O fechamento temporário da maternidade do Hospital Mãe de Deus em Porto Alegre gera um clima de preocupação entre gestantes e já afeta o funcionamento de outras instituições. O local era um ponto de referência para muitas grávidas, não só da Capital como também de outras cidades da Região Metropolitana. Fechada desde maio devido à enchente que inundou parte da instituição, a projeção é que a maternidade do Mãe de Deus reabra apenas em 2025.
Diante do aumento da procura, o Hospital Divina Providência, precisou restringir o atendimento para grávidas com menos de 37 semanas de gestação. O Centro Obstétrico do Divina conta com 20 leitos de obstetrícia e 14 leitos de UTI neonatal, entre intensivo e semi-intensivo.
Ana Paula Budel, supervisora do Centro Obstétrico do Hospital Divina Providência, conta que o fechamento temporário da maternidade do Mãe de Deus tem reflexo na operação uma vez que as duas instituições atendem apenas pacientes particulares e com convênios. “O Mãe de Deus tem o mesmo perfil de paciente que procura por nós pelo modelo de assistência de trabalho de parto. Isso é um impacto muito grande”, destaca. Outro ponto em comum entre os dois é a localização geográfica, que facilita o acesso aos moradores da Zona Sul de Porto Alegre.
Em média, eram realizados 210 partos por mês no Divina, mas o número saltou para 320 em junho e para 270 em julho. “Tivemos um aumento de 60% em junho nos nascimentos, um aumento bem significativo”, conta. A UTI neonatal se mantém superlotada, e devido a esses fatores foi necessário estabelecer restrições. “Restringimentos os atendimentos de gestantes com menos de 37 semanas para tentar reduzir a ocupação na UTI neonatal”, explica. As mulheres com gestação inferior a esse período são orientadas a buscarem outro hospital.
No Hospital Moinhos de Vento, não há impacto ainda da situação no Divina. “A procura pelo serviço se mantém alta e não houve reflexos perceptíveis até o momento em relação ao fechamento da maternidade do Hospital Mãe de Deus”, informa a instituição em nota.
A Maternidade Helda Gerdau Johannpeter tem a capacidade de 31 leitos. Em maio, foram realizados 323 partos na unidade, número que baixou para 285 em junho e 275 em julho. O hospital ainda conta com 27 leitos de Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTI-NEO). O Hospital Moinhos de Vento aceita a maioria dos planos de saúde disponíveis no mercado dentro da categoria premium, para cada caso, a Instituição orienta que os pacientes consultem a disponibilidade da sua cobertura.
Na Santa Casa de Porto Alegre, a procura pela Maternidade Mário Totta também vem crescendo. São 48 leitos de internação obstétrica e 36 leitos de UTI Neonatal, além de salas de observação tanto no Centro Obstétrico como na Emergência Obstétrica. A instituição segue a Lei da Filantropia, que estabelece a oferta de pelo menos 60% dos leitos para SUS e o restante para particulares e convênios (www.santacasa.org.br/convenios).
“Nos últimos meses houve um aumento importante na demanda de atendimentos, exigindo maior atenção das equipes para seguir atendendo com segurança os mais diversos níveis de complexidade e intercorrências”, explica Janete Vettorazzi, coordenadora de assistência materno-fetal da Santa Casa de Porto Alegre.
Rede pública ainda não sente impacto
O presidente da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Rio Grande do Sul (Sogirgs), Lucas Schreiner, lembra que as maternidades de Porto Alegre atendem a mulheres de todo o Rio Grande do Sul, até pelo fato de não haver vagas de UTI neonatal em todas as cidades. “A perda de vagas de UTI neonatal e de maternidade como aconteceu temporariamente com o Mãe de Deus vai sobrecarregar outras maternidades, que tradicionalmente já trabalham no limite da capacidade. Nossa preocupação é em relação à assistência dessas mulheres que vão precisar de atendimento e poderão ser prejudicadas, tendo um risco de atendimento em condições piores do que quando havia mais leitos”, salienta.
A orientação dos obstetras é que as pacientes se informem junto aos seus planos de saúde sobre quais as opções de atendimento em unidades hospitalares. Schreiner avalia que algumas pacientes que buscariam atendimento no Mãe de Deus podem migrar para o SUS, o que também preocupa. “O SUS já trabalha no limite da sua capacidade, todas as unidades estão bastante lotadas. É frequente termos solicitação de vagas pelo Ministério Público e Defensoria Pública para leitos em maternidades e UTIs neonatais. Com a perda desses leitos vai piorar ainda mais. O que nos dá uma esperança é que a maternidade se comprometeu a reabrir nos primeiros meses de 2025”, salienta o médico.
Até o momento, os centros obstétricos de Porto Alegre que atendem exclusivamente pelo SUS não registram um aumento. São 232 vagas para o SUS no Hospital Materno Infantil Presidente Vargas (HMIPV), Fêmina, Conceição, Clínicas e Santa Casa.
O Grupo Hospitalar Conceição (GHC), responsável pelos hospitais Fêmina e Conceição, não registrou maior movimentação de gestantes. A maternidade do Hospital Fêmina tem 12 leitos e 10 vagas na UTI neonatal e mais 30 de cuidados intermediários. O Hospital Conceição também é 100% SUS. A maternidade tem 41 leitos de puerpério e 21 leitos de alto risco. A unidade Neonatal tem 12 leitos. Em nota, a gerência de Comunicação Social do GHC informa que “o fechamento da maternidade do Mãe de Deus aparentemente não afetou diretamente nosso hospital, mas ainda é cedo para confirmar esta avaliação”.
O Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) tem seis leitos no Centro Obstétrico e 20 leitos na UTI Neonatal, todos disponíveis para atendimento no SUS. Estas áreas enfrentam superlotação com alguma frequência. Todos os serviços são disponíveis para atendimento SUS. Nos últimos três meses, o número de procedimentos (partos e cesárias) ficou em 279 em maio, 247 em junho e 237 em julho. “Não observamos impacto no aumento de consultas no período relacionado”, garante o HCPA em nota.
O fechamento temporário do Mãe de Deus foi tema de reunião entre entidades médicas, hospitais e secretarias municipal e estadual da Saúde. “Por enquanto não podemos afirmar que parte dessa demanda virá para o SUS da Capital. Esperamos que as operadoras de planos de saúde consigam montar estratégia de contingência adequada para absorver essa demanda, não sobrecarregando ainda mais o SUS. Afinal de contas, as pessoas pagam para ter assistência suplementar e têm o direito de receber isso”, destacou na ocasião o secretário municipal de Saúde de Porto Alegre, Fernando Ritter.